António Costa tomou posse pela primeira vez como primeiro-ministro no dia 26 de Novembro de 2015. Após uma campanha pouco conseguida, Costa e o PS ignoraram as linhas vermelhas que agora querem impor ao PSD, firmaram acordos sem a presença de jornalistas e, finalmente, formaram o governo que iria “acabar com a austeridade”, “salvar o SNS” e “devolver a dignidade à escola pública”. Oito anos depois é, então, tempo de fazer o balanço do que foram os 8 anos de governos do Partido Socialista de António Costa, primeiro com o apoio de BE e PCP na Assembleia da República e depois em maioria absoluta.
Acredito que hoje é seguro dizer que o legado de António Costa e dos seus sucessivos governos pode ser definido numa palavra: miserável. Não chega a ser “poucochinho”, é mesmo muito mau. Senão vejamos, o país vive hoje uma crise que se estende a três áreas fundamentais da sociedade: institucional, económica e social.
Comecemos pela crise institucional. O “caso das gémeas” brasileiras é o exemplo perfeito da degradação das instituições. Este caso expõe, de forma clara, como todos os procedimentos podem ser facilmente corrompidos, alterados e subjugados à vontade de uma classe política sem ética e sem valores. Mostra-nos também como quem está em lugares de chefia de serviços públicos cede facilmente a pressões exercidas pelo poder político, ficando refém da sua vontade e do abuso de poder. Este caso choca-me particularmente. Como médico de família assisto diariamente à degradação dos serviços de saúde, à demora na marcação de consultas hospitalares e ao caos nas urgências. O gasto irracional de recursos, neste caso associado ao óbvio compadrio, não pode deixar de envergonhar todos os envolvidos.
Crise económica. Portugal é hoje um país pobre quando comparado com os restantes países europeus. Em 2022, Portugal foi o sétimo país com menor Produto Interno Bruto per capita expresso em paridade de poder de compra da União Europeia, encontrando-se abaixo da média europeia, empatado com a Hungria e Roménia. Por seu lado, as empresas portuguesas sofrem um autêntico esbulho fiscal; de acordo com o Índice de Competitividade Fiscal – 2022, Portugal está em 36º lugar num total de 38 países. Isto obviamente diminui a nossa capacidade de atrair investimento estrageiro directo, limitando o nosso crescimento económico.
Crise social. A profunda crise social que vivemos penaliza, como não podia deixar de ser, de forma mais severa os mais pobres. Os exemplos mais flagrantes são as áreas da saúde e educação; os serviços de saúde trabalham hoje no limite, sem recursos materiais e humanos minimamente necessários para fazer face às necessidades da população. O número crescente de portugueses sem médico de família, o caos nas urgências, o número record de vagas de especialidade médicas por preencher são apenas sinais e sintomas de um SNS em estado comatoso. Na educação tivemos agora acesso aos resultados do PISA e estes são decepcionantes, para dizer o mínimo; cito Alexandre Homem Cristo aqui no Observador:
“O desempenho dos alunos portugueses (15 anos de idade) no PISA 2022 caiu acentuadamente em comparação com a edição anterior (PISA 2018), Caiu nas três áreas de literacia que o PISA avalia (leitura, matemática e ciência)”. Acrescenta o autor mais à frente: “O PISA 2022 apresenta os piores resultados desde o PISA 2006. Nos últimos 15 anos, habituámo-nos a ouvir falar de Portugal como uma história de sucesso na Educação, devido à extraordinária melhoria dos alunos portugueses nas avaliações internacionais, com destaque para o PISA – na edição de 2015, Portugal colocou-se acima da média da OCDE. Ora, o PISA 2022 devolve Portugal a níveis de desempenho referentes ao período 2006-2007, retrocedendo no caminho positivo percorrido. A história de sucesso eclipsou-se”.
Os governos do Partido Socialista falharam e os novos-velhos candidatos a líder do PS falharão irremediavelmente porque repetirão fórmulas gastas e que comprovadamente não funcionam, Caberá à oposição mostrar a alternativa que preconiza para o país; até agora, e para além das “linhas vermelhas” mostraram-nos pouco.