Portugal está estagnado, enredado em inúmeros problemas sem solução à vista. Os que estão no poder manifestamente não têm soluções e procuram resolver grandes questões com pequenos remendos, os que querem chegar ao poder têm medo e vergonha das próprias propostas. A troika e a geringonça deixaram-nos esta herança: O PS não faz para não perder eleitorado, o PSD não explica como faria diferente convencido de que assim reconquista eleitores. O PS ficou refém da reposição de direitos e daqui não sai. O PSD deixa-se matar todos os dias preso na ratoeira que António Costa lhe lançou de que foram os social-democratas que trouxeram a troika para castigar os portugueses.

Entretanto no país real os problemas avolumam-se. Da habitação à educação, passando pela saúde e pelo desenvolvimento económico. Tudo áreas em que é suposto esquerda e direita terem caminhos e propostas diferentes. Numa altura em que o Governo mais uma vez nos conduz para o abismo, o PSD foge como o diabo da cruz de apresentar a sua alternativa.

A entrevista de Margarida Balseiro Lopes, vice-presidente do PSD, à Rádio Observador é disto um exemplo paradigmático. Perguntada sobre a resposta do PSD à crise que está instalada na educação e que ameaça hipotecar o terceiro ano consecutivo a milhares de alunos, Balseiro Lopes optou por dizer nada. O argumento do desconhecimento dos números é fraco perante o estado a que chegou o ensino público em Portugal. É preciso mudar de políticas rapidamente antes que o sistema colapse de vez. Fica a pergunta: o PSD não tem respostas ou não as quer dar com medo de agitar as águas?

O incêndio trágico deste fim de semana num edifício na Mouraria em Lisboa trouxe à luz do dia, mais uma vez, uma realidade que todos conhecem e que todos fingem desconhecer. O Qatar que todos criticaram, é aqui em Lisboa, é no Porto, é no Alentejo e sabe-se lá mais para onde está a crescer. Proteger e acolher os imigrantes precisa de regras, como tudo o resto. As esquerdas, do PS ao Bloco de Esquerda, ao recusarem-se a discutir regras e fiscalização, são cúmplices da desumanidade descoberta no prédio da Mouraria e dos agiotas que comercializam seres humanos. E as direitas, PSD e IL, com medo de discutir políticas de imigração para não serem confundidos com discursos xenófobos são também cúmplices da violação de direitos humanos que todos os dias ocorre no nosso país. É pena que depois da indignação dos primeiros dias, voltemos a fazer de conta que não percebemos o que se passa à nossa volta, até voltarmos a bater no peito quando ocorrer o próximo desastre.

O PSD devia perceber que a melhor forma de não se deixar cair na armadilha do Chega e de fazer oposição a sério ao PS é deixar de ter medo e vergonha de defender políticas diferentes e apresentar uma verdadeira alternativa ao país. Senão corre o risco de cair numa situação que é bem descrita no Evangelho:

“Conheço a tua conduta. Não é frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio ou quente, estou para vomitar-te de minha boca” (Ap 3,15-16).

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