Bom dia pai. Parabéns. Feliz Dia do Pai para ti.

Este ano é diferente. Este ano é à distância. Nem no dia, nem no próximo fim-de-semana, nem no outro, este ano não nos vemos. Este ano é por telefone. É uma chatice teres esse telemóvel jurássico (mas resiste, o sacaninha, melhor que os smartphones que andamos sempre a trocar). E é uma chatice a câmara do da mãe estar avariada. Nem nos conseguimos ver à distância. Para nós vos vermos e para vocês verem as netas. É assim que tanta gente tem feito ultimamente. Mas olha, ao contrário do que se poderia dizer noutras alturas, isso não significa que seja mais frio. Mais distante. Aposto que, nos últimos dias, uma data de telefonemas e de mensagens têm carregado mais amor e mais abraços do que muitas conversas presenciais que muita gente tinha antes da covid-19.

Espero que tenhas um dia feliz, pai. Dentro das circunstâncias, claro. Por falar em “dentro”, por favor não saias de casa. Sim, eu sei, já estás farto que eu te diga isto, mas nunca é demais lembrar. Eu sei que tens de passear a cadela e que gostas das tuas rotinas e não te sentes ativo se não fizeres estas coisas, mas tenta não te demorar fora de casa. E não fiques lá fora a falar com os teus amigos, se os encontrares. Cumprimentem-se (cotovelo, pai, com o cotovelo) e cada um à sua vida, vá lá. Assim como assim, se vocês estiverem a mais de um metro uns dos outros também não se ouvem bem, por isso mais vale ires para casa. E não te sentes em bancos públicos a descansar.

Normalmente era a mãe que dava as horas a que eu tinha de chegar a casa quando saia à noite, era a mãe que ficava acordada até tarde à espera de ouvir a minha chave na porta, era a mãe que me dizia para ter cuidado por onde andava. Pois olha, sou eu e as manas a fazer isso. Porque nos preocupamos convosco.

E deixa lá as compras. Nós fazemos as compras. Tratamos do que for preciso para vocês e vamos aí levar. Nem precisamos de entrar. Mesmo que sejam só uns guardanapos ou uns ovos que compras num instante na mercearia em frente. Não compres. Nós tratamos disso. Bastam uns segundos em contacto com uma superfície contaminada, pões a mãe, depois levas os dedos à cara e já está.

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Vá lá, pai, por favor tem cuidado. Estás no grupo de risco. É a tua idade, é o teu coração. Se o bicho te apanha é um 31 dos diabos. Para ti e para a mãe. Bem sei que estou com esta conversa para ti mas devia dizer-lhe a ela também, sempre em consultas e exames e análises. Mas olha que ela tem desmarcado isso tudo. E se não desmarca ela desmarcam os médicos ou as clínicas.

Isto é sério, pai. Tu, que vês mais notícias que eu, que sempre viste mais notícias que eu, que sempre estiveste mais informado do que eu, que me dás um baile em cultura geral, tu sabes que isto é sério.

Estou a ser um chato, eu sei. Sou eu e são os meus amigos todos, que se queixam dos pais. Porque não lhes ligam nenhuma, porque querem sair, porque querem estar com os amigos, porque arranjam mil e uma coisas para fazer fora de casa… E depois nós é que ficamos em cuidados enquanto não sabemos se vocês já chegaram.

Desculpa lá esta conversa toda. Mas apanhei-te agora aqui a jeito, por causa do dia de hoje e olha, cá vai disto. Já falámos uma data de vezes sobre este assunto, vocês dizem para ficarmos descansados, que vai correr bem, que têm cuidado, que seguem as recomendações da OMS e da DGS e tudo e tudo… mas nunca ficamos. descansados Com os nossos nunca ficamos descansados. Não os podemos ter sempre debaixo da nossa asa e depois dá nisto. Tu sabes, pai. Também te preocupavas com o avô. Também já foste filho.

Eu continuo por casa com as miúdas. Elas estão bem, um pouco impacientes às vezes. Passaram ontem três dias desde que fecharam as escolas. E sabemos lá nós quando é que vão abrir outra vez… Hoje é um Dia do Pai diferente. Não há atividades na escola, não há brincadeiras na rua, não há coisas feitas ou pintadas ou coladas por elas. Para o ano vai ser melhor.

Agora vá, vai para dentro que tu constipas-te. Era o que vocês nos diziam. Agora dizemos nós.

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