União Europeia e Ucrânia ratificaram o tão famoso acordo de associação que, como é sabido, foi o documento que esteve na origem da crise e da guerra civil que dilaceram o país e põem em causa a sua própria existência como Estado.

Sucede porém que a UE e a Ucrânia ratificaram um documento meramente simbólico porque, sob a pressão de Moscovo, adiaram a entrada em vigor da parte mais importante do acordo, ou seja, da parte económica. O Kremlin conseguiu fazer com que a criação de uma zona económica livre entre a UE e a Ucrânia fosse adiada para 31 de Dezembro de 2015.

Pela primeira vez na história da União Europeia, Bruxelas admitiu publicamente que uma terceira parte, neste caso a Rússia, tem capacidade de se ingerir nas suas relações bilaterais. Desse modo, Vladimir Putin viu serem reconhecidos pelas instâncias da UE os seus “especiais interesses” no antigo espaço soviético

Claro que me podem dizer que isso foi feito para acalmar e apaziguar o Kremlin e, desse modo, contribuir para o fim do conflito no Leste da Ucrânia. Se assim foi, pergunto então porque é que isso não foi feito antes de novembro do ano passado? Se, nessa altura, Durão Barroso e companhia tivessem chegado a um acordo com Putin não teriam evitado um derramamento de sangue que já provocou mais de dois mil mortos entre civis e militares?

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Não sei, talvez esse acordo não fosse suficiente porque, em relação à Ucrânia, a política de Moscovo é de dominar completamente esse país. Por isso o mais provável é que nem essa cedência, nem as leis aprovadas pela Rada Suprema com vista a amnistiar os independentistas e a dar um estatuto especial às regiões do sudeste do país, sejam suficientes para satisfazer o líder russo.

Os separatistas já vieram dizer que só aceitam a independência e Moscovo sente-se inclinada a aproveitar até ao fim as cedências do adversário.

Valentina Matvienko, dirigente do Conselho da Federação (câmara alta do parlamento) da Rússia, veio propor a realização de um referendo no Leste da Ucrânia à semelhança da Escócia. À primeira vista trata-se de uma saída democrática, mas uma saída que o Kremlin recusou e recusa a qualquer república da Federação da Rússia.

Por isso, a paz na Ucrânia continua a ser uma miragem.