O que começou como uma chamada de atenção para a necessidade de consciência acerca de questões relativas à justiça social e racial, rapidamente escalou para um discurso radical e polarizador. A ascensão de valores pós-materialistas propiciou o surgimento de partidos com novas configurações, nomeadamente os chamados partidos da Nova Esquerda. Com pouco ênfase nas questões de matriz económica, estes partidos apropriaram-se de maneira abrupta da discussão de temas como os direitos das minorias, justiça social, igualdade de género; reduzindo o espaço de opinião pública e validando apenas aqueles que pensam e agem em sua conformidade.

O radicalismo da cultura woke tomou o lugar da moderação, do respeito e da tolerância pelo contraditório, e os partidos tradicionais são os principais culpados. Auto excluíram-se do debate público, deixando um espaço aberto para o surgimento de partidos populistas, tanto à esquerda como à direita, que têm capitalizado votos com o seu discurso assertivo.

Atualmente, em Portugal, este fosso incompreensível entre o “certo” e o “errado” faz-se sentir veementemente no debate sobre imigração. Qualquer pessoa que seja favorável a uma imigração controlada e responsável é automaticamente confrontado com uma variada panóplia de acusações, desde o racismo ao fascismo. Esta cultura de “cancelamento”, igualmente alimentada pelos media, perpetua um debate polarizado, em que, ou se é contra, ou a favor. É imperativo que se discuta aberta e factualmente os riscos e desafios de uma imigração descontrolada. Contudo, o espaço da moderação parece ser cada vez mais imperceptível.

Cabe aos partidos tradicionais não sucumbirem ao politicamente correto e ao discurso previamente estabelecido por estas novas forças. Muitos deles, catch all parties, adotam posições bastante pragmáticas, abstendo-se de opinar sobre certas temáticas, com receio de que isso lhes custe votos e a conquista ao poder. Assim, preferem deixar livre esse espaço político, encarregando-se os populistas de o ocupar, dizendo “o que as pessoas pensam e querem ouvir”.

A reconstrução do espaço público para o debate equilibrado é urgente. Os partidos tradicionais deverão assumir um papel de liderança na promoção de uma discussão pluralista e racional, sem constrangimentos em abordar temas controversos de forma responsável. O futuro do diálogo político em Portugal depende da capacidade de ultrapassar as dicotomias simplistas, que têm vindo a enfraquecer a nossa democracia.

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