Os 50 anos do 25 de Abril avivam a memória dos portugueses quanto àquele que era o seu modus vivendi durante o regime totalitário de Oliveira Salazar. Mas será que, 50 anos depois, continuamos a querer fechar os olhos ao período conturbado que se lhe seguiu, o PREC? Não se poderá apelidar de hipocrisia o facto de termos chegado ao ponto de normalizar e tomar como nossos companheiros democráticos dois partidos de extrema esquerda, BE e PCP, ao mesmo tempo que se rotula o CHEGA de “fascista”, pondo em causa a sua legitimidade eleitoral?

Enquanto defensora da democracia liberal, e fervorosa crente na teoria que coloca ambas as extremas esquerda e direita no mesmo patamar de nocividade, aflige-me assistir à normalização e romantização do comunismo em Portugal, ao mesmo tempo que crucificamos (e bem) a extrema direita. Parece-me uma análise pouco coerente e injusta face àquilo que a história já nos provou ínfimas vezes: tanto o comunismo como o fascismo são igualmente atrozes e capazes de matar.

A Revolução de Abril veio pôr fim a um regime totalitário e salazarista, mas não é somente a ela que devemos a nossa liberdade. O PCP e a extrema esquerda nunca quiseram para Portugal uma democracia como hoje a temos, e o próprio Álvaro Cunhal o admitiu em conversa com a jornalista italiana Oriana Fallaci: «Em Portugal não existirá qualquer hipótese para a instauração de uma democracia como as que se conhecem na Europa Ocidental»; «Portugal não será um país com liberdades democráticas» (CUNHAL, 1975).

Mas mais do que as suas propostas eleitorais, que já são só por si limitadoras, importa analisar o tipo de comportamentos que têm, e com que tipo de regimes se alinham. Atualmente assistimos ao PCP com uma posição de simpatia para com a Rússia, devido à forte conexão e admiração da política comunista da antiga URSS, e até alguma conformação com a invasão à Ucrânia. Relembremos que os dois eurodeputados do Partido Comunista Português votaram contra a resolução do Parlamento Europeu de condenação à agressão militar russa à Ucrânia. Também estes eurodeputados se abstiveram na votação da resolução que condenava a morte de Navalny e a opressão política na Rússia.

Como se podem dizer defensores da liberdade quando acreditam que o Estado deve deter e controlar os meios de comunicação? Como se podem dizer defensores da liberdade quando um dos pilares da sua ideologia marxista se prende com o papel indiscutivelmente ativo do Estado na economia?

Quanto à constante crucificação do CHEGA, parece-me prudente que estejamos de olhos bem abertos para o surgimento do populismo de extrema direita, e os riscos que isso implica para a nossa manutenção democrática. Contudo, viver em democracia é sinónimo de aceitar que a vontade do povo é soberana, e tal significa que, a partir do momento que um partido obtém mais de um milhão de votos, não o devemos deslegitimar. O combate às políticas extremistas não se faz através de ataques, mas sim com informação e soluções responsáveis.

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