Uma equipa de investigadores portugueses verificou que os javalis em território nacional são potenciais reservatórios de bactérias do género Borrelia, responsáveis pela doença de Lyme. O comunicado de imprensa emitido esta terça-feira pretende alertar caçadores e outras pessoas que usam os espaços florestais para os riscos para a saúde.

“Nos últimos 20 anos foram detetados mais de 360 mil casos de Borreliose Lyme [ou doença de Lyme] na Europa, segundo dados da Organização Mundial da Saúde e do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças”, refere o comunicado.

Com a colaboração dos caçadores e associações de caça, os investigadores do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), na Universidade de Trás-os-Montes, e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), da Universidade Nova de Lisboa, verificaram que três dos 90 javalis analisados revelavam a presença da bactéria que pode afetar “o sistema nervoso central, entre outros órgãos e sistemas, com sintomas semelhantes aos da esclerose múltipla e até de fibromialgia”, refere o comunicado de imprensa.

A bactéria é transmitida entre animais através da mordida das carraças e os javalis, assim como outros animais silvestres, estão cheios delas. As carraças podem libertar-se do seu hospedeiro (especialmente se este tiver sido morto) e procurar um hospedeiro novo, onde se esconde em sítios difíceis de encontrar. “Durante a caça ao javali, assim que o animal é morto, a carraça procura imediatamente um novo hospedeiro”, explica em comunicado de imprensa Maria das Neves Paiva Cardoso, investigadora no CITAB. A primavera-verão é a altura do ano em que as carraças estão mais ativas.

Usar as meias por fora das calças, aplicar repelente, manusear os animais mortos com luvas, verificar se tem carraças no corpo quando se chega a casa, são as recomendações para os caçadores e outras pessoas que trabalham ou efetuam atividades de lazer ao ar livre em espaços agroflorestais. Os cães devem estar desparasitados e usar coleiras contra as carraças. Mas há que considerar também outros locais onde os javalis podem deixar as carraças. “Os caçadores transportam o javali dentro do carro que, muitas vezes, é a viatura da família. As carraças vão ficar no jipe e podem lá sobreviver durante vários meses”, refere a investigadora.

Para que a bactéria possa passar para o novo hospedeiro a carraça tem de ficar fixa entre 36 a 48 horas, referem os Centros para o Controlo e Prevenção da Doença norte-americanos. Nos três a 30 dias seguintes desenvolvem-se os primeiros sintomas: uma mancha vermelha no local da picada que vai aumentando ao longo do tempo (eritema migrans) e que pode chegar aos 30 centímetros, cansaço, febre ou dor de cabeça. Se o problema não for detetado, o que acontece frequentemente, a doença pode evoluir nas semanas seguintes e provocar problemas nos músculos faciais, inflamação na medula espinal, dores e inchaço nas articulações, palpitações ou eritema migrans noutras partes do corpo. O não-tratamento da doença leva ao desenvolvimento de artrite e problemas graves no sistema nervosos central.

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