“Não há dúvida quanto a isso, que a queda dos preços dos últimos meses está a afastar muitos investidores da exploração mais cara como o petróleo [e gás] de xisto, os poços offshore a grande profundidade, e os petróleos pesados”. Esta é a primeira admissão por parte de um responsável político da Arábia Saudita de que o país (membro mais poderoso da OPEP) está a deprimir os preços para anular a ameaça da chamada revolução do xisto, que precisa de preços mais elevados para ser um negócio viável. A Agência Internacional de Energia (AIE) diz que a luta global pelo mercado energético “está apenas a começar”.
O responsável saudita que falou com o Financial Times não deixou o jornal citar o seu nome, mas ficou claro que a Arábia Saudita considera que a estratégia de manter os preços baixos – produzindo cada vez mais numa altura em que a procura está a desacelerar – está a ser um sucesso. Pelo menos para a Arábia Saudita, a maior exportadora petrolífera do mundo, já que outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) estão insatisfeitos com a redução do preço e, claro, com a redução das receitas petrolíferas.
Esses países insatisfeitos, como a Venezuela e o Irão, precisam de um petróleo mais caro para equilibrar os seus orçamentos. E não têm, como tem a Arábia Saudita, reservas financeiras que lhes permitam dar-se ao luxo de, durante algum tempo, levar a cabo uma prática semelhante ao dumping para levar à falência quem, sobretudo nos EUA, apostou todas as suas fichas num crescimento súbito da exploração de fontes energéticas através da fraturação hidráulica (fracking) de reservatórios de xisto que contêm petróleo e gás natural. Estudos apontam para que este setor necessite, nesta fase, de preços do petróleo entre 70 dólares e 90 dólares, no mínimo, para que sejam uma alternativa ao petróleo convencional e, assim, para que estes projetos sejam viáveis.
Preço do petróleo afunda 44% face aos máximos tocados no verão
Os preços afundaram, sobretudo, a partir de novembro, quando a OPEP decidiu manter as quotas de produção inalteradas quando muitos analistas diziam que teria de haver um corte para que o preço se mantivesse. Mas a Arábia Saudita, reconhece-se agora, não estava nem está interessada em que o preço se mantivesse. Como escreveu esta semana a Agência Internacional de Energia (AIE), está ao rubro uma “batalha pela quota do mercado energético” global. Uma batalha que é prematuro dizer que a Arábia Saudita já ganhou, até porque “a batalha ainda agora começou“, disse a AIE.
Manter quotas e, depois, produzir mais
Mantendo as quotas inalteradas mas produzindo, de acordo com os últimos dados, mais do que as quotas, a OPEP está a colocar uma pressão desmedida sobre o preço, o que estrangula os novos investimentos em prospeção de crude nos EUA, em particular a exploração de petróleo e gás de xisto através do método “revolucionário” da fraturação (fracking), uma técnica que têm tido a sua dose de controvérsia, com cientistas a colocarem em causa a segurança ambiental deste tipo de exploração, mas que está a tornar os EUA auto-suficientes do ponto de vista energético.
Para serem viáveis, contudo, estes negócios de exploração precisam de preços mais elevados não só para conseguirem suportar os custos elevados de produção mas, também, corresponder às expectativas das instituições financeiras que, na maioria dos casos, financiaram estas atividades de exploração. A própria OPEP admitiu, em março, que “à medida que a perfuração [através do fracking] sucumbe aos custos elevados e ao preço potencialmente duradouro para o preço do petróleo, uma quebra na produção pode ser expectável, possivelmente no final de 2015″.
Por outras palavras, a estratégia da Arábia Saudita estará a tirar partido das suas grandes reservas financeiras e do baixo custo associado à exploração do seu petróleo para tentar levar à falência os projetos de exploração de gás e petróleo de xisto. Para ter sucesso, esta estratégia terá de levar a que não só estas empresas entrem em dificuldades mas, também, a traumatizar os bancos que as financiaram, para que não voltem a querer participar neste negócio quando (e se) o petróleo voltar a subir. Entretanto, falta sabão e outros produtos básicos (importados) na Venezuela.