Não estava na agenda oficial, mas foi impossível não entrar. A crise de refugiados na Europa foi um dos principais pontos de discussão entre David Cameron e Passos Coelho, esta manhã em São Bento. Passos não avançou com números, mas disse que Portugal “está disponivel para ativamente contribuir” para o esforço europeu de acolhimento de migrantes, enquanto Cameron anunciou que na próxima semana vai apresentar um plano para ir buscar sírios diretamente aos campos de refugiados à volta daquele país e assim, permitir-lhes uma viagem “segura” até ao Reino Unido.
A reforma da União Europeia foi o motivo para esta visita do primeiro-ministro britânico a Lisboa – Cameron não vinha a Portugal desde 2010 -, mas o tema que marcou a curta declaração que os dois líderes fizeram em S. Bento foi a crise dos refugiados. David Cameron anunciou em Lisboa que o Reino Unido está disposto a receber milhares de refugiados e que para a semana anunciará uma medida em concreto que pretende parar com a vinda destas pessoas para a Europa por rotas perigosas e ir buscá-las diretamente aos campos de refugiados à volta da Síria e que albergam as principais vítimas deste conflito.
O britânico garantiu que o seu país é o que mais contribui na União Europeia para travar estes conflitos e a ajuda humanitária à Síria. Passos Coelho disse que a UE se está a empenhar de forma vigorosa na ajuda às pessoas que chegam à Europa e que a história europeia recente obriga moralmente a este acolhimento. “Portugal está disponível para a ativamente contribuir para este esforço”, disse o primeiro-ministro português.
Mas a tal agenda europeia não ficou esquecida. Com a intenção de Cameron de cortar nos benefícios sociais para os trabalhadores oriundos de outros países da UE, Passos Coelho lembrou em Lisboa os milhares de emigrantes portugueses no Reino Unido. “Tenho a certeza que seremos capazes de assegurar os direitos dos britânicos e os direitos de milhares de portugueses que encontraram emprego no Reino Unido e contribuem para o crescimento do país”, disse o primeiro-ministro português.
Mas Cameron não vai desistir. Pressionado internamente pelo seu partido e pela opinião pública, o britânico questionou em Lisboa se “a União Europeia é flexível o suficiente?” para levar a cabo mudanças estruturais que o Reino Unido visa implementar antes de referendar a sua participação na organização no final de 2016. Dos temas que trouxe a Passos Coelho – competitividade, soberania, segurança social e governação económica -, Cameron disse ter encontrado apoio em Portugal “potenciar o mercado único”, menos regulação vinda de Bruxelas (dizendo que tanto ele como Passos estão contentes com o facto da Comissão Juncker estar a legislar menos) e impulso aos tratados comerciais.
O britânico vai agora a Madrid procurar mais apoio a Mariano Rajoy.