Paulo Portas, o ex-líder do CDS e ex-vice-primeiro-ministro vai estar no congresso do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que arranca esta quarta-feira e estende-se até sábado, em Luanda. Mas não é o único político português a marcar presença no sétimo conclave do partido de José Eduardo dos Santos: todos os partidos portugueses com representação parlamentar vão levar uma pequena delegação a Luanda: todos à exceção do Bloco de Esquerda, do PEV e do PAN.

Do lado do PSD, segundo informou o partido em comunicado, vão estar presentes dois vice-presidentes, Marco António Costa e Teresa Leal Coelho; e do lado do CDS, à exceção do ex-líder que vai a “título pessoal”, vai estar presente o presidente da Mesa do Congresso e responsável pela pasta das relações internacionais, Luís Queiró. Os socialistas vão enviar para a capital angolana dois dirigentes de topo: Carlos César, presidente do partido e líder da bancada parlamentar, e Ana Catarina Mendes, secretária-geral-adjunta. Também o PCP se junta a esta lista, com o partido comunista a enviar para Luanda Rui Fernandes, membro da comissão política do comité central.

Dos partidos políticos com representação parlamentar só o Bloco de Esquerda, assim como o PAN e o PEV (já que Rui Fernandes vai em representação do PCP e não da CDU), não estarão presentes no congresso que vai reconduzir José Eduardo dos Santos na presidência do partido. Ao Observador, fonte do Bloco de Esquerda explica que o partido não tem relações diretas com o MPLA. O BE, de resto, tem sido o partido mais crítico do regime angolano.

A notícia de que Paulo Portas era convidado especial do chefe de Estado angolano foi avançada esta terça-feira pelo Diário de Notícias, que avança ainda que na lista de convidados poderão estar outras personalidades portuguesas extra-partidos, mas sem apontar nomes. Na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro, e de vice-primeiro-ministro com a tutela da diplomacia económica, depois, Portas visitou várias vezes Angola nos últimos anos e foi um forte defensor do apaziguamento das relações entre os dois partidos.

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No último congresso do CDS, em março, quando se despediu da liderança do partido, Portas fez mesmo um apelo ao compromisso e à não “judicialização” das relações entre Portugal e Angola, lembrando o elevado número de portugueses que vivem naquela ex-colónia, o número de empresas portuguesas que lá estão fixadas e as milhares de empresas que exportam os seus produtos para Angola. “Portugal é importante para os angolanos e Portugal não está em condições de substituir Angola na sua política externa”, disse. Por esta altura as relações entre os dois países estavam particularmente tensas, tendo o Jornal de Angola publicado um editorial intitulado “A vingança do colono”, onde apontava o dedo à suposta instrumentalização da justiça portuguesa, que estaria a manchar o nome de dirigentes angolanos.

O VII Congresso Ordinário do MPLA acontece um ano antes de haver novas eleições gerais em Angola, marcadas para agosto de 2017. É um congresso importante, na medida em que já se fala na sucessão do atual presidente José Eduardo dos Santos, à frente do partido (e do país) há praticamente 37 anos. Para já, é seguro que Eduardo dos Santos vai ser reeleito, sendo o único candidato à liderança do MPLA, mas a sucessão do poderoso presidente de Angola tem feito correr muita tinta.

Entre vários membros do atual Governo e os filhos, Isabel dos Santos e Filomeno dos Santos, a hipóteses são várias, como explica a agência Lusa. Recentemente, em março, o líder do MPLA e chefe de Estado fez um anúncio sobre o seu futuro que desde logo condicionou o partido: “Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018”.

Mas José Eduardo dos Santos não clarificou ainda em que moldes será feita a sua saída da vida política. Certo é que, com uma lista única ao Comité Central, da qual faz parte o filho José Filomeno dos Santos, mas não a filha e empresária Isabel dos Santos, o chefe de Estado é novamente candidato único à liderança do partido e, nessa qualidade, candidato às eleições de 2017.

*artigo atualizado com informação sobre o PAN e o PEV, que não vão marcar presença no congresso.