Um inquérito do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em 16 países demonstra que mais de metade da população passou a aceitar o recurso à tortura nos conflitos, numa clara subida face a uma sondagem semelhante de há 20 anos.
O inquérito, a que responderam mais de 17 mil pessoas, revelou ainda que a maioria dos entrevistados pensa que os conflitos deveriam ser enquadrados em regras internacionais que interditassem nomeadamente os ataques contra zonas habitadas ou hospitais e pessoal médico.
Apenas 48 por cento dos inquiridos, porém, condenam a tortura dos combatentes inimigos interrogados para obter informações militares importantes, enquanto 36% consideram que deveria ser autorizada e 16% não se pronunciam.
Numa sondagem semelhante em 1999, 66% dos inquiridos rejeitavam a tortura, contra 28% que a aceitavam e 6% que não declaravam a opinião.
“Os resultados do inquérito mostram que temos que reafirmar com força uma regra fundamental: a tortura é interdita sob todas as suas formas”, considerou Peter Maurer, presidente da Cruz Vermelha Internacional, numa declaração escrita citada pela agência France Press.
“Mesmo durante um conflito, todas as pessoas devem ser tratadas com humanidade”, insistiu Maurer.
A sondagem, a mais vasta realizada pela Cruz Vermelha até agora, decorreu entre junho e setembro em 10 países envolvidos em conflitos — designadamente no Iraque, Nigéria e Sudão do Sul -, assim como nos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas — Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França – e na Suíça.
Nos países envolvidos em conflitos, 78% da população opõe-se aos combates nas zonas habitadas, percentagem que contrasta com apenas 50% entre a população dos cinco membros permanentes do CS da ONU.
Em contrapartida, a tortura de um inimigo para obtenção de informações seria tolerada por 70% dos nigerianos, 50% dos israelitas e 46% dos norte-americanos.