Foi descoberto um exoplaneta. Ross 128 b é o seu nome e encontra-se a apenas 11 anos-luz de distância. O exoplaneta – assim chamado por não pertencer ao Sistema Solar – orbita em torno de uma estrela-anã vermelha pouco ativa, muito próxima do Sol, o que indica que é potencialmente habitável.
Ross 128 b tem o tamanho do planeta Terra e foi detetado pelo espetrógrafo HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), ou seja, um ‘pesquisador’ de planetas de alta resolução, que está instalado no telescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO, na silga em inglês), de 3,6 metros, em La Silla, no Chile. Através do espetrógrafo conseguem detetar-se variações de velocidade inferiores a 4 km/h – o que equivale, aproximadamente, à velocidade a que uma pessoa caminha.
A mais recente descoberta foi feita por uma equipa composta por investigadores um pouco de todo mundo, como França, Suíça, Buenos Aires, Espanha e Portugal, que está representado por Nuno Cardoso Santos, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, integrando investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa. Os resultados da investigação acabaram por ser publicados na revista científica Astronomy & Astrophysics.
Este resultado ilustra a capacidade já existente para encontrar e, no futuro, caracterizar em detalhe e de forma recorrente planetas que reúnam as condições necessárias para a presença de vida. A equipa do IA está a trabalhar arduamente para atingir esse objetivo, tendo traçado um plano que inclui uma forte participação em missões espaciais da ESA [Agência Espacial Europeia] e em vários equipamentos do ESO, como o ELT ou o espectrógrafo ESPRESSO5, que entrará em funcionamento ainda este mês.”, afirmou Nuno Cardoso Santos.
O ESPRESSO5 a que se refere é um espetrógrafo de alta resolução que será instalado no observatório Very Large Telescope (VLT) e cujo objetivo é localizar planetas com condições semelhantes às da Terra, capazes de suportar vida, sendo capaz de detetar alterações de velocidade de cerca de 0,3 km/h.
Os investigadores sabem que Ross 128 b orbita a sua estrela uma vez a cada dez dias, encontrando-se cerca de 20 vezes mais próxima dela do que a Terra se encontra relativamente ao Sol. Isto poderia ser preocupante não fosse o facto de a estrela ser uma anã vermelha pouco ativa – com pouco mais de metade da temperatura do Sol -, de forma que, a radiação que chega ao exoplaneta é apenas 1,38 vezes à radiação que chega ao nosso planeta.
Não se sabe ao certo se o exoplaneta estará dentro ou fora da zona de habitabilidade da estrela-anã, mas estima-se que as temperaturas variem entre os -60 ºC e s 20 ºC – o sistema Ross 128 será o candidato perfeito para observação com o maior telescópio da próxima geração, o ELT (ESO).
Os novos instrumentos do ESO irão desempenhar um papel essencial na produção de um censo dos planetas com a massa da Terra passíveis de caracterização. Em particular o NIRPS, o braço infravermelho do HARPS, irá aumentar a eficiência nas observações de anãs vermelhas, que emitem a maioria da sua radiação no infravermelho. E no futuro, o ELT irá dar-nos a possibilidade de observar e caracterizar uma percentagem significativa desses planetas”, conclui Xavier Bonfils (Universidade de Grenoble, França), o primeiro autor do artigo científico.
Muitas estrelas-anãs vermelhas, como é o caso de Próxima Centauri (a estrela mais próxima do Sol), têm ocasionalmente fenómenos explosivos. Quando isto acontece, os planetas que se encontram nas suas órbitas são atingidos com doses letais de raios X e radiação ultravioleta, podendo esterilizar potenciais formas de vida, pelo que é essencial continuar as investigações neste campo.
Dentro de 71 000 anos, Ross 128 vai ser o exoplaneta mais próximo da Terra, destronando, nessa altura, Próxima b – exoplaneta que orbita dentro da zona habitável de Proxima Centauri.