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“Um polvo, como se sabe, é um animal invertebrado que se destaca pela exuberância dos seus oito tentáculos revestidos de ventosas. Gosta de se movimentar pelos fundos dos mares e mexe-se bem entre rochas, alcançando alguns dos buracos mais recônditos com os tentáculos. Distingue-se pela sua capacidade de camuflagem, ajustando a cor da pele em função das necessidades. Quando se sente ameaçado, expele uma tinta escura que repele os predadores. Não por acaso, já há vários anos que se associa as características deste cefalópode à máfia. Metaforicamente, o Benfica é um polvo.”
Assim começa o livro O Polvo Encarnado, assinado por Francisco J. Marques e Diogo Faria, ambos do departamento de comunicação do FC Porto. O objeto da obra é anunciado na contracapa e vai ganhando forma ao longo das 198 páginas que compõem o livro: “Manipulações, dissimulações, compadrios e influências ilegítimas. A história do futebol português nos últimos anos é negra, mas tem de ser contada e bem conhecida. Os tentáculos do Polvo Encarnado chegam a todos os recantos da sociedade, manipulando a verdade desportiva e fomentando um clima de ódio entre clubes”.
Na apresentação da obra, que decorreu esta sexta-feira, Francisco J. Marques resumiu assim o espírito do livro: “As trapalhadas são tantas que me parece completamente irreal que o Benfica possa escapar ileso. Todas as semanas têm sido conhecidas novas práticas muito duvidosas. São tantas coisas que me parece impossível que não venha a acontecer nada. Acima de tudo está-se a ferir a forma como os adeptos de futebol olham para a competição. É o futebol português que está em causa”.
Neste livro, dos dois responsáveis do FC Porto, desfilam personagens ligadas ao universo benfiquista e atuais e anteriores dirigentes desportivos, alegadamente comprometidos numa teia de corrupção e de tráfico de influências cujo único propósito seria garantir o domínio encarnado no futebol português. Existem referências a conspirações, pressões e e-mails possivelmente comprometedores — os mesmos que Francisco J. Marques, ex-jornalista e diretor do departamento de comunicação do FC Porto, tem revelado no seu espaço habitual de comentário no Porto Canal.
Revelações sempre contestadas pelo Benfica, que nega todas as acusações e chegou a apresentar uma providência cautelar contra a divulgação de mais e-mails, pedindo indemnizações de um milhão de euros por cada mail revelado. Providência que acabou por ser chumbada pelo tribunal.
“O controlo das instituições do futebol”…
O primeiro capítulo, aliás, conta como o Benfica terá, alegadamente, posicionado ao longo da última década e meia “tropas” leais nos órgãos de decisão da Liga de Clubes e da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), numa suposta tentativa de garantir o controlo desportivo das competições de futebol.
“O controlo das instituições do futebol português pelo Benfica resulta, no fundo, de uma teia de relações e de uma colonização de lugares-chave de certos organismos que foram levadas a cabo ao longo da última década e meia e que proporcionaram: a circulação de informação privilegiada; a obtenção de benefícios para o clube; em última análise, vantagens no domínio desportivo”, resumem os autores, para logo depois concluírem: “Isto tem um nome: tráfico de influências“.
A primeira personagem deste capítulo é Cunha Leal, antigo vice-presidente do Benfica e diretor da Liga de Clubes entre 2002 e 2006. Os autores dão particular destaque ao episódio que envolveu a deslocação dos encarnados ao terreno do Estoril, quando corria a época de 2004/2005. O jogo acabaria por se realizar no Estádio do Algarve, com a luz verde de Cunha Leal. O encontro era decisivo para ambas as equipas: à 29ª jornada do campeonato (disputado em 34), o Benfica liderava o campeonato com um ponto de vantagem para Sporting e Sporting de Braga e a quatro do FC Porto; o Estoril, por sua vez, lutava para não descer e tinha conquistado 21 dos seus 26 pontos somados até então em casa. O clube da Luz acabou por vencer por 2-1, sendo que o Estoril acabou reduzido a nove unidades. “Tudo foi caricato neste jogo, até o calçado do árbitro Hélio Santos, de Lisboa, que foi cedido pelo Benfica”, alegam os autores do livro.
Nessa altura, contam, António Figueiredo, “benfiquista fanático e antigo vice-presidente do clube da Luz”, era presidente da SAD do Estoril. Além disso, até outubro de 2004, José Veiga, então diretor-geral do futebol do Benfica, tinha sido acionista maioritário (80%) da SAD do Estoril. Tudo somado, concluem, “Veiga e Figueiredo eram, face ao Benfica e ao Estoril, duas figuras híbridas, cujas posições de destaque na condução desportiva dos respetivos clubes teciam uma inevitável teia de interesses entre a Segunda Circular e o António Coimbra da Mota”.
… e aquele Benfica-Estoril no Algarve
Francisco J. Marques e Diogo Faria rematam todo o episódio do Estoril-Benfica com as declarações de Carlos Xavier, à data treinador-adjunto do Estoril, sobre o jogo. “‘No Estoril, por exemplo, quando fui adjunto do Litos, passei por uma situação incrível. O presidente deixou que a equipa descesse para a segunda divisão a troco de ir jogar com o Benfica ao Algarve apenas por causa da receita. Perdemos porque dentro do campo as coisas estavam todas feitas, ao ponto de mais tarde eu e o Litos termos sido ouvidos pela Polícia Judiciária sobre o que se tinha passado. O jogo foi comprado, ou vendido, neste caso. Os jogadores choraram no balneário'”, citam os autores, remetendo para uma entrevista do treinador ao jornal Record.
As ligações à Liga de Mário Figueiredo
Mário Figueiredo, “um quase desconhecido advogado do Porto” que assumiu a presidência da Liga de Clubes em 2011, é outro dos visados neste livro. Os autores recuperam vários e-mails a que tiveram acesso — num deles, Mário Figueiredo terá mesmo assumido ao líder encarnado que estava do “‘seu lado'” — para tentarem provar que o Benfica havia montado há muito um suposto esquema de tráfico de influências, com o objetivo, por exemplo, controlar a nomeação dos delegados da Liga, cuja função é avaliar o desempenho dos árbitros, e, com isso, manipular todo o processo de nomeação dos juízes.
Com Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD do Benfica, como suposto interlocutor, Mário Figueiredo terá acudido a vários pedidos do clube da Luz. À medida que vão citando várias conversas mantidas entre o então presidente da Liga de Clubes e o responsável encarnado, os autores concluem: “O Benfica tinha poder (autoridade, pelo menos) para sugerir nomeações de delegados. E o presidente da Liga era de tal forma submisso que até perguntava se havia mais pedidos. Maior promiscuidade entre um clube e as instituições que gerem o futebol é difícil de imaginar”.
As acusações mais graves, no entanto, acabam por recair sobre Carlos Deus Pereira, à data presidente da Assembleia-Geral da Liga de Clubes. Com base em troca de correspondência eletrónica a que tiveram acesso, os autores sugerem que Deus Pereira passava informação confidencial da Liga de Clubes a Pedro Guerra, comentador desportivo e antigo responsável pelos conteúdos da Benfica TV.
Mais do que isso, Deus Pereira terá passado ao benfiquista comunicações escritas de Fernando Gomes, então presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Mais precisamente, “132 SMS enviadas e recebidas por Fernando Gomes entre 26 de junho de 2010 e 12 de setembro de 2011″, como forma de o “ter na mão”.
“O caso das SMS de Fernando Gomes que vão parar à caixa de correio eletrónico de Pedro Guerra é uma espécie de cereja no topo do bolo dos exemplos de controlo das instituições do futebol português pelo Benfica. O próprio facto de ser alguém com a irrelevância institucional de Guerra a receber estes documentos é altamente significativo: a ascendência da turma de Vieira sobre as autoridades do futebol português é de tal forma grande que até alguém como Pedro Guerra, que gosta de se apresentar como um mero colaborador do clube, tem acesso a este tipo de contactos e de informação. (…) Nem com muita criatividade seria fácil conceber um mecanismo mais totalitário e ao mesmo tempo eficaz de controlo de quem manda no futebol português”, escrevem os autores.
O Conselho de Arbitragem de Vítor Pereira
Vítor Pereira é a personagem principal do capítulo dois do livro de Francisco J. Marques e Diogo Faria, inteiramente dedicado à suposta influência do Benfica na arbitragem portuguesa. Segundo os autores, os indícios recolhidos provam que “Vítor Pereira, enquanto presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, estava ativamente (e não apenas passiva ou tacitamente) ao serviço do Benfica“.
Os autores não só questionam “as promoções e nomeações esquisitas” de árbitros que decorreram durante a era Vítor Pereira, como chegam mesmo a afirmar, com base em testemunhos de antigos árbitros como Marco Ferreira, que o então responsável pela arbitragem tomava diligências junto de árbitros nomeados para jogos do Benfica para que estes favorecessem os encarnados.
Um dos testemunhos citados, de Marco Ferreira, precisamente, chegou a ser notícia no Diário de Notícias: “‘Não vou dizer que o Benfica pede ao Vítor Pereira que fale com os árbitros para favorecer o clube. Não digo isso. O que digo é que ele faz isso porque sabe que o Benfica é o único clube que o apoia. Por isso, não quer que nenhum árbitro que não goste do Benfica apite os seus jogos. O Benfica nunca falou comigo e nunca pediu para os favorecer. Mas Vítor Pereira sim‘”, afirmou então Marco Ferreira.
José Ferreira Nunes surge, nesta obra, como agente ativo neste alegado esquema de tráfico de influências. O então responsável pela secção de classificações do Conselho de Arbitragem está ligado, alegam os autores, a “algumas das maiores polémicas dos últimos anos”.
Para sustentarem a acusação, Francisco J. Marques e Diogo Faria lembram o processo administrativo que esteve na origem da manutenção do árbitro Paulo Batista, supostamente próximo do Benfica, na primeira categoria da arbitragem, mesmo depois de ter sido despromovido pela má classificação na época 2012/2013. Também recordam a despromoção do árbitro internacional Marco Ferreira, duas semanas depois de apitar a final da Taça de Portugal, por alegada pressão de Luís Filipe Vieira.
No entanto, a despromoção de Rui Costa acaba por ser, para os autores, a maior evidência da influência do Benfica na arbitragem portuguesa. Os autores recorrem a um e-mail enviado por Nuno Cabral, delegado da Liga, a Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD do Benfica, e a Luís Filipe Vieira com 11 erros cometidos pelo juiz num jogo entre FC Porto e Benfica (10 de maio de 2014), que os portistas venceram por 2-1. Vieira terá respondido assim: “‘Paulo, devíamos participar deste artista, pois brincou com o Benfica. Temos de dar-lhe cabo da nota‘”.
“Das palavras do presidente encarnado à prática foi um pequeno passo: o Conselho de Arbitragem reviu a nota de Rui Costa, que passou de 3.5 para 2.o. Segundo o jornal O Jogo, foi a maior descida de sempre e não há dúvidas de que esta situação completamente anómala resultou da capacidade de influência das ‘autoridades de Carnide‘”, sugerem os autores.
Por tudo isto, Francisco J. Marques e Diogo Faria concluem que o Benfica soube construir uma “rede de influências tentacular que lhe granjeia o controlo do setor da arbitragem”, a quem é “inevitável associar ” as figuras de Vítor Pereira e Ferreira Nunes, responsáveis por “nomeações incompreensíveis”, “descidas de árbitros que não caíam no goto do clube da Luz”, “manutenções de outros que eram do seu agrado” e pelo “‘apuramento da raça‘ a que corresponde uma nova geração de juízes aparentemente alinhada com os interesses encarnados”.
“A Aberração do Apito Dourado e a Justiça Desportiva”
No terceiro capítulo, os autores esforçam-se por desmontar a forma como o processo “Apito Dourado” foi conduzido na justiça desportiva, pelo “benfiquista de Canelas” e então presidente do Comissão Disciplinar da Liga, Ricardo Costa, e por denunciar uma série de injustiças cometidas contra os principais adversários do Benfica, cujo corolário foi a suspensão dos jogadores do FC Porto Hulk e Sapunaru, na época 2009/2010.
A estes factos, Francisco J. Marques e Diogo Faria juntam os casos já relatados de ofertas de convites para jogos do Benfica a outros agentes desportivos — delegados e responsáveis pelos órgãos de disciplina da Liga e da FPF — para construirem a alegada teia de influências do Benfica também na justiça desportiva.
Um dos exemplos citados pelos autores é o de uma troca de e-mails entre João Pedro Simões, antigo delegado da Liga, em que este pedia entradas para o Benfica-Nacional da Madeira, e Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD encarnada. Perante o pedido de João Pedro Simões, Gonçalves transmitiu instruções para que tudo fosse tratado.
“‘Desenrasca por favor. Ele era também delegado da Liga e foi suspenso por dois anos após um processo disciplinar instaurado então pela CD da Liga por não ter relatado uns fatos (sic) no túnel de acesso aos balneários aqui no Estádio da Luz. Com essa omissão, safou-me a mim e ao Nuno Gomes de um sanção, mas lixou-se. É boa gente, benfiquista indefetível e sempre foi defensor na blogosfera do nosso estimado líder‘”, escreveu então Paulo Gonçalves, citado pelos autores do livro.
Perante isto, Francisco J. Marques e Diogo Faria concluem que o Benfica, “para além de ser muito eficaz a chegar às pessoas certas aos lugares certos, é também bastante generoso a premiar ilegitimamente todos aqueles que contribuem para a sua quase imunidade disciplinar”.
“A justiça desportiva tem sido incapaz de cumprir com aquele que devia ser o seu objetivo fundamental: o clássico ‘Suum cuique tribuere’, ou seja, dar a cada um aquilo que lhe pertence. E, como acontece em relação ao controlo das instituições do futebol e à arbitragem, o que parece estar na base desta disfuncionalidade é uma rede de influências que se ramifica a partir do Benfica e que atinge em força, pelo menos, uma parte dos decisores disciplinares”, concluem.
“O Controlo da Imprensa”
No quarto capítulo, os autores estabelecem uma ligação casuística entre a concentração dos órgãos de comunicação social em Lisboa, assim como a suposta proliferação de comentadores desportivos afetos ao clube da Luz, a um suposto tratamento mediático mais favorável ao Benfica.
À medida que vão elencando casos de “promiscuidade” entre jornalistas, responsáveis editoriais, comentadores e pessoas ligadas ao Benfica, Francisco J. Marques e Diogo Faria dão como exemplo a entrevista tradicional de Luís Filipe Vieira ao jornal A Bola, por altura do Ano Novo, já quase “tão entranhada como comer doze passas à meia-noite”.
Asseguram os autores que, “em meados de dezembro, um jornalista envia um conjunto de perguntas ao diretor de comunicação do Benfica, Luís Bernardo“, que as remete para António Galamba, “o escritor-fantasma dos discursos” de Luís Filipe Vieira e ex-dirigente socialista. Galamba, continuam, escreve uma “primeira versão” das respostas, devolve-as a Luís Bernardo, que as revê e entrega a Vieira. Neste processo de revisão, intervêm ainda Domingos Soares Oliveira, administrador executivo da SAD do Benfica, e Paulo Gonçalves, que entregam a versão final.
“Ou seja, a intervenção de Luís Filipe Vieira neste trabalho é quase tão grande como a do próprio jornalista: quase nula. O que é vendido ao leitor com um trabalho jornalístico — uma entrevista, por definição, resulta da interação entre um entrevistador e um entrevistado — não passa, afinal, de um instrumento de pura propaganda (…) e de um artigo de opinião travestido”, sugerem.
Os autores dão ainda outro exemplo: a “14 de novembro de 2016, o diretor de comunicação do Benfica, Luís Bernardo, começou a preparar um ciclo de almoços de Natal de Luís Filipe Vieira com jornalistas, na linha de uma prática que já vinha sendo hábito desde os tempos de João Gabriel. A lista de alvos incluía diversos órgãos de comunicação social e algumas personalidades em concreto, por esta ordem: A Bola, Record, O Jogo, Sport TV, SIC, RTP, TVI, Diário de Notícias e Jornal de Notícias (apresentados como um conjunto), Expresso, Rui Santos, João Bonzinho e Rui Pedro Braz”. Perante isto, concluem, “estamos perante um caso flagrante de fomento de intimidade entre Vieira e a comunicação social que parte do próprio”.
“Esta ascendência do Benfica sobre a comunicação social tem como consequência a possibilidade de o clube da Luz condicionar a seu bel-prazer a formação da opinião pública, gerando um círculo vicioso de transmissão de informação e propaganda entre clube, imprensa e adeptos”, resumem Francisco J. Marques e Diogo Faria.
A estratégia das “cartilhas”
No quinto capítulo, inteiramente dedicado às cartilhas que tanto alimentaram as polémicas no futebol português, os autores acusam os responsáveis benfiquistas de tentarem, com esta estratégia, condicionar a pluralidade de opinião no Benfica, influenciar os adeptos benfiquistas e condicionar a formação da opinião pública.
Segundo Francisco J. Marques e Diogo Faria, que tiveram acesso a vários e-mails trocados entre responsáveis e comentadores afetos ao Benfica, o autor destes documentos é Carlos Janela, que depois os remete para vários “cartilheiros”, assim designados pelos autores do livro, que vão desde dirigentes de topo do Benfica, passando por comentadores que representam as cores do Benfica em canais de televisão generalistas, e a jornalistas como José Manuel Freitas, José Nunes e Rui Pedro Braz, que recebem os documentos no dia dos debates em que participam.
A única à exceção à regra, asseguram, é Pedro Guerra, “que parece funcionar como uma espécie de pivô na gestão desta informação, recebendo todos os ficheiros, por vezes mais do que um por dia, sempre vários por semana”.
“As mensagens de Janela incluem ainda indicações personalizadas, por exemplo, sobre as escolhas dos cartilheiros para as rubricas dos programas em que participam (‘topo e fundo’, ‘altos e baixos’, ‘figura da semana’, etc.). Para além disso, o ‘cartilheiro-mor’ Carlos Janela sublinha diversas vezes um conselho essencial: os cartilheiros devem manter os telemóveis ligados durante os programas, para que possam ser devidamente instruídos por si em direto”, revelam.
Segundo a análise dos autores, as cartilhas seguem regras: o “revisionismo do futebol português”, exagerando as conquistas do Benfica e diminuindo as dos adversários; o “culto do líder Luís Filipe Vieira“, tal como aconteceu com “Salazar, Estaline ou Hitler”; “a proteção dos árbitros e do Conselho de Arbitragem de Vítor Pereira”; a “perseguição a Pedro Proença”; a “rejeição do videoárbitro”; a “associação do FC Porto aos Super Dragões e a um histórico de violência”; e a “associação de uma grande parte da imprensa [como a Sport TV ou O Jogo] ao FC Porto”, no sentido de os descredibilizar.
“Ao Benfica não basta um controlo bastante abrangente da informação veiculada pela comunicação social. A generalidade das opiniões emitidas publicamente por adeptos do clube é também ela objeto de controlo apertado“, argumentam os autores.
Ainda na comunicação social, Francisco J. Marques e Diogo Faria descrevem a Benfica TV como uma “agência de comunicação” e uma “cartilha pública”, geradora de poder e influência (graças aos direitos desportivos), que funciona como um meio de condicionamento da opinião pública (através de uma transmissão televisiva deficiente) e geradora de fake news. Os autores denunciam ainda dois episódios de censura envolvendo os próprios convidados da estação, como foi o caso de Fernando Seara e Fernando Alvim — este último deu uma entrevista ao canal que nunca foi transmitida alegadamente porque teceu comentários negativos sobre o Banco Espírito Santo, à data patrocinador do Benfica.
“[A Benfica TV] desempenha um papel fundamental nos esquemas que os homens de Luís Filipe Vieira têm levado a cabo para manobrar o futebol português e obter os benefícios desportivos para o Benfica”, defendem os autores do livro.
As claques e as autoridades de olhos fechados
Os outros tentáculos do “polvo” estendem-se, asseguram Francisco J. Marques e Diogo Faria, aos decisores políticos, recorrentemente benevolentes para com o clube da Luz, dizem, e as autoridades que regulam a segurança nos estádios e a prática desportiva.
Neste ponto do livro, os autores acusam a FPF de ignorar as claques do Benfica, nunca regularizadas, que se comportam como as “milícias paramilitares” dos “regimes ditatoriais”: “Atuam à margem da lei com o apoio ativo (mesmo que encapotado) do regime, espalhando o terror em favor dos seus interesses”.
E isso só acontece, sugerem, visando diretamente a FPF e o Instituto Português do Desporto e Juventude “porque em Portugal as autoridades não atuam quando e como devem”.
Esta sexta-feira, durante a apresentação do livro, Diogo Faria prometeu pelo menos “mais um ou dois volumes”, com revelações sobre esta alegada teia de influências, “dada a vastidão de informação”. Por isso, o mais provável é que guerra entre FC Porto e SL Benfica não fique por aqui.