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Na quinta temporada da série de espionagem Os Americanos (actualmente a passar na Fox Crime) o agente russo que tomou o nome americano de Philip Jennings senta-se num quarto de hotel no Oklahoma e, com um ar desalentado, comenta que aquelas imensas paisagens planas lhe fazem lembrar a sua Rússia. A mulher, Elizabeth, sempre mais compenetrada no seu papel de agente infiltrada do KGB, franze o sobrolho, e ele acrescenta: “Não compreendo porque é que nunca conseguimos fazer crescer os cereais necessários para alimentar o nosso povo”.
A cena passa-se em 1984, Gorbatchev ainda nem sequer tinha subido ao poder, Ronald Reagan estava a mudar a América e o mundo e aqueles dois espiões procuravam segurar com as suas mãos nuas a barragem que se desmoronava. Contudo se Philip tivesse podido ler Estaline e os Cientistas – Uma História de Triunfo e Tragédia (1905-1953) encontraria uma parte das respostas à sua perplexidade. É que muito do fracasso da agricultura soviética foi consequência directa de uma das grandes mistificações do estalinismo: a ideia de que se podia moldar a natureza à vontade do homem, que os seres vivos podiam ser transformados de acordo com as necessidades – e os caprichos – do Kremlin, e que a genética era uma ciência burguesa, para mais inventada por um monge.
As imensas fomes que mataram milhões de russos e de ucranianos, por vezes reduzindo-os ao canibalismo, foram em primeiro lugar fruto da colectivização forçada da agricultura e da “liquidação dos kulaks [agricultores independentes] enquanto classe”, algo que sabemos desde o trabalho pioneiro de Robert Conquest, The Harvest of Sorrow: Soviet Collectivization and the Terror-Famine. Mas depois de concluído esse processo, quando nas herdades agrícolas colectivas (os kolkhozes) ou estatais (os sovkhozes) deveriam crescer os cereais melhor adaptados à riqueza dos solos na “cintura de terra negra” da Ucrânia e da Rússia, as colheitas fracassaram ano após ano devido à adopção das práticas erradas defendidas pelo cientista preferido de Estaline, Trofim Lysenko.
URSS, o primeiro Estado “científico”
Sem surpresa, a história da ascensão e queda deste biólogo e agrónomo ocupa boa parte de Estaline e os Cientistas, o mais recente livro de Simon Ings, um romancista que é também editor de cultura da revista New Scientist. Ao longo de quase 500 páginas ele conta-nos, com abundância de detalhes, a história da ciência russa na primeira metade do século XX, mas centrando-se na forma como a revolução de Outubro de 1917 começou por promover a investigação científica para, depois, a moldar aos interesses do Estado soviético e, pior do que isso, a uma leitura ideológica dos resultados que a ciência devia alcançar.
As necessidades do Estado soviético permitiriam alguns enormes triunfos – estando entre eles o desenvolvimento da arma nuclear e a exploração espacial – e a emergência de grandes cientistas – como o físico Andrei Sakharov, o pai da bomba de hidrogénio russa, mais tarde um dos mais famosos dissidentes do regime. Já imposição de uma agenda ideológica acabaria em contrapartida por conduzir a grandes tragédias como o lysenkismo. Por fim, as características repressivas do regime e as obsessões paranóicas de Estaline também dizimariam gerações quase inteiras de cientistas e académicos num país que chegou a contar com a mais numerosa comunidade científica do mundo – nos anos de 1980 havia mais cientistas na URSS do que nos Estados Unidos e na Europa Ocidental em conjunto.
Simon Ings dedica boa parte deste livro a Trofim Lysenko e à comunidade de geneticistas russos que ele combateu, derrotou, ostracizou e enviou para o gulag. Isso compreende-se: das inúmeras histórias que ilustram a complexa relação entre a Revolução Russa e os cientistas, esta é a aquela que, provavelmente, melhor sintetiza a luta entre os que procuravam fazer ciência e os que acreditavam que a ciência não só tinha de “ser prática”, como era possível dirimir debates científicos recorrendo à mais celebrada de todas as ciências no país dos sovietes, o marxismo-leninismo.
Se há algo que distingue o projecto político que triunfou na Rússia depois da tomada do poder pelos bolcheviques em 1917 é que os seus líderes acreditavam estar a construir um Estado e uma sociedade guiados não por escolhas políticas rivais de outras escolhas políticas, mas por terem descoberto a ciência da História. Sendo que essa ciência – o materialismo histórico – não só proclamava a superioridade do sistema soviético, como garantia que ele era determinado pelo próprio processo histórico: o comunismo não era apenas um modelo de sociedade, era o destino da sociedade e de toda a Humanidade. O Estado soviético pretendia-se “científico”, pelo que os seus dirigentes – de Lenine a Estaline, passando por Trotsky – escreveram longamente sobre como as leis do “materialismo dialético” deveriam orientar a investigação científica. Escreveram e praticaram.
As grandes fomes, parte da história da Rússia
Neste quadro político Trofim Lysenko só podia ser o herói sem rival. Primeiro, pela sua origem social. Ao contrário da maior parte da comunidade científica dos primeiros anos da revolução, que era formada por gente que provinha da elite social e económica dos anos do czarismo – os “especialistas burgueses”, como lhes chamou Lenine –, Lysenko era um homem do povo, de origens humildes e que se tornara notado por trabalhar no campo e não estar fechado em laboratórios. Mas se hoje olhamos para ele como um charlatão semi-educado, a verdade é que soube inspirar-se num autodidata de génio – Ivan Vladimirovich Michurin – para se projectar como cientista.
Michurin, que realizara grande parte das suas investigações ainda antes da revolução, teve um papel muito importante no desenvolvimento da hibridação de espécies destinadas ao melhoramento da agricultura, tendo criado variedades mais produtivas e sendo famosos os seus pomares. Sem grande formação científica de base – era sobretudo um engenhoso horticultor –, Michurin não se atrapalhava por não saber explicar como se transmitiam as características das variedades que ia desenvolvendo, acreditando antes que era possível transmitir as características de uma geração à seguinte apenas porque aquelas haviam sido influenciadas pelo ambiente em que a planta vivera.
Num país ciclicamente devastado por enormes fomes – estima-se que entre o século IX e a revolução bolchevique tenham ocorrido na Rússia 120 fomes severas – e que fora devastado pela guerra civil que se seguira à tomada do poder pelos comunistas, uma guerra acompanhada por uma das fomes mais devastadores de que havia memória, não surpreende que o próprio Lenine tenha olhado com interesse para o trabalho de Michurin e dado instruções para que fosse protegido e financiado. De resto Michurin, que não tinha formação académica, acabaria por ser eleito para a Academia Soviética das Ciências.
Já Estaline, que tinha um pomar na sua datcha e sonhava poder um dia cultivar limões nas estepes geladas da Sibéria, não tardaria a favorecer o cientista parecia seguir os passos do engenhoso Michurin — o ambicioso Trofim Lysenko. Os comunistas acreditavam que, como escreve Ings, se se fosse determinado e persistente, o mundo físico acabaria por se vergar à vontade dos homens, e era isso mesmo que Lysenko propunha, aos garantir que conseguira transformar as variedades de trigo de uma forma que as tornariam resistentes aos caprichos do clima na imensidão da Rússia. Mais: Lysenko também acreditava que as características adquiridas numa geração por influência do ambiente se poderiam transmitir às gerações seguintes. Por isso desenvolveu a técnica da “vernalização”, que consistia em tratar com frio sementes de trigo para as “enganar” e levar a que trigo de primavera se comportasse como trigo de inverno. Com essa técnica ele prometia searas capazes de alimentar um país em permanente luta com a escassez de alimentos.
A tragédia da genética russa
Foi assim que, apesar de nunca ter apresentado evidências estatísticas sólidas, apenas relatos de experiências pontuais bem sucedidas, Lysenko conseguiu convencer as autoridades soviéticas que os seus métodos iriam acabar com a praga milenar das fomes cíclicas. Escusado será dizer que foi exactamente o contrário que sucedeu: em 1947, uma época em que era rei e senhor da investigação biológica e agronómica em toda a União Soviética, uma nova fome devastadora matou mais de dois milhões de pessoas. Uma em cada três crianças não chegou nesse período à idade adulta.
O fracasso de décadas de investimento na investigação científica para desenvolver a agricultura russa mostrou então todos os seus limites, mas nem a prova dos factos demoveria Estaline ou o seu sucessor, Krutchov, que continuariam a apoiar o lysenkismo e a desinvestir na investigação genética. O lamento de Philip Jennings sentado nessa sua cama de hotel em Oklahoma apenas traduz a persistência dessa pesada herança, que nunca permitiu à agricultura soviética recuperar da tragédia que representou os homens do Kremlin terem preferido o charlatanismo de Lysenko ao trabalho sério de cientistas notáveis como o geneticista Nikolai Vavilov, um homem sério e capaz mas que acabaria por morrer na prisão em 1943.
Perguntar-se-á: mas o que é que, além das origens sociais de Lysenko e da paixão de Estaline por limões, pode ter justificado a sua ascensão e o seu domínio das ciências soviéticas? É porventura neste ponto que o livro de Simon Ings fica mais aquém das expectativas. É certo que nos conta com pormenor, grande variedade de detalhes e talento narrativo os episódios da longa luta pela hegemonia na área da genética, mas fica aquém da expectativa quando nos relata o papel nefasto que tiveram os “filósofos” marxistas-leninistas do círculo de Estaline.
Apesar de referir a cumplicidade entre Trofim Lysenko e Isaak Prezent – um biólogo-filósofo que sempre guiou o seu comportamento pelo esforço de encontrar nos clássicos do marxismo-leninismo as chaves para os dilemas científicos e que, ao mesmo tempo, era um quadro político poderoso e sem escrúpulos –, Ings não explica bem as vantagens “filosóficas” do lysenkismo para um regime como o estalinista e para um sonho ilusório como o soviético. Prefere antes considerar Estaline – que chegou a corrigir pelo seu próprio punho discursos de Lysenko – como o “último dos reis filósofos europeus”, uma leitura no mínimo contestável.
Vejamos pois o que estava em causa, começando por recordar que no centro da controvérsia estava a genética, isto é, as leis e os mecanismos que permitem a transmissão de geração em geração das características de uma espécie. Essas leis tinham sido descobertas no século XIX por um monge que trabalhava com culturas de ervilhas, Gregor Johann Mendel, e durante muito tempo não se compreendeu como era possível conciliar o seu trabalho com a evolução das espécies, em particular com o darwinismo. Essa síntese acabaria por ser feita no início do século XX, até por notáveis cientistas de origem russa (mas exilados) como Theodosius Dobzhansky, mas não foi pacificamente adoptada na União Soviética. E se num primeiro momento até Prezent começou por defender a existências de genes que se transmitiam de geração em geração, a verdade é que depressa se verificou que o chamado lamarquismo “encaixava” melhor da ideia soviética de modelar a Natureza – e também de modelar o homem.
Da “vernalização” ao sonho do “homem novo”
Lysenko era um lamarquista, o que significa que acreditava nas ideias do biólogo francês Jean-Baptiste de Lamarck, o qual explicava a evolução das espécies não através da selecção dos mais aptos – como Darwin –, mas sim através da hereditariedade dos caracteres adquiridos. Para Lamarck se um ser vivo desenvolvesse um membro mais do que outro para se adaptar a uma necessidade – por exemplo, apanhar um fruto numa árvore mais alta –, a sua descendência já nasceria com esse membro mais desenvolvido. Propôs mesmo uma “lei do uso e desuso” segundo a qual os seres vivos perdem ao longo da vida as características de que não necessitam ao mesmo tempo que desenvolvem as que mais utilizam — o que é verdade — e que os seus filhos já nascem com essas novas características — o que é falso, pois o que determina o fenótipo das espécies é o seu genoma, e os genes não são influenciados pelo “uso e desuso”, apenas por mutações aleatórias.
Acontece contudo que esta ideia sobre os mecanismos da evolução encaixava muito melhor no desejo estalinista de moldar a natureza à vontade do homem, assim como à criação um “homem novo”, o mítico homem perfeito da sociedade comunista — uma espécie de Homo sovieticus. Se era possível “condicionar” uma semente de trigo através da vernalização, então também era possível acreditar que algumas gerações de endoutrinação (e de gulag) acabariam por produzir seres humanos que já nasceriam comunistas.
Esta possibilidade não escapou a Prezent, alguém que para louvar o trabalho de um físico que tinha produzido chuva com fumo electrizado chegou a anunciar uma “alteração planeada do clima” capaz de permitir “uma investida total contra o deserto” ou mesmo “resolver o problema do aquecimento da Sibéria”, o mesmo Prezent que transformou no principal aliado de Lysenko, mostrando como as suas teorias eram consistentes com as obras de Marx e Lenine.
Esta mistura entre política e ciência foi quase sempre uma sombra que pairou sobre todo o sistema científico soviético – para o bem e para o mal. A genética não foi só derrotada pelo larmarquismo de Lysenko, foi também derrotada sob a acusação de que era uma “ciência burguesa”. Os seus especialistas foram atacados por trabalharem com moscas da fruta – as mutações facilmente observáveis das Drosophila melanogaster eram uma das principais matérias primas dos geneticistas nos seus estudos – em vez de se ocuparem da “ciência prática” capaz de resolver os problemas da fome na Rússia. Até a condenação de práticas como a eugenia, que podia adaptar-se bem à ética (ou falta de ética) do estalinismo, acabou por ser determinada não por razões deontológicas ou científicas, mas porque fora adoptada pelos nazis.
A física sobreviveu: a URSS precisava da bomba atómica
Em contrapartida, as teorias de Ivan Pavlov, o fisiologista russo famoso pelos seus estudos com cães sobre o reflexo condicionado e que ganhara um Prémio Nobel em 1904, apesar de nunca ter apreciado o regime soviético – já tinha 68 anos quando os bolcheviques tomaram o poder –, foram muito acarinhadas pelo regime, e por Lenine em particular. É fácil compreender que a ideia de que se podia condicionar o comportamento humano era muito atraente os líderes soviéticos, pelo que Pavlov pode continuar a trabalhar, até durante os períodos mais duros e de maiores carências, sendo que o pior que aconteceu no seu laboratório foi uma centena de cães preciosos para fins experimentais terem morrido envenenados por comerem detritos de uma fábrica de pão sintético.
A própria física foi cruzada por importantes polémicas, se bem que a necessidade de construir armas nucleares e, depois, de bater os americanos na corrida espacial, tenha acabado por proporcionar aos físicos soviéticos excepcionais condições de financiamento e recursos quase ilimitados.
Os líderes soviéticos viam com maus olhos teorias como a do princípio da incerteza de Heisenberg, um postulado da mecânica quântica de acordo com o qual não é possível realizar medidas simultâneas e exactas a um nível subatómico, ou seja, que não é possível observar e medir tudo. Tudo porque esta impossibilidade contrariava o postulado do materialismo dialético de que todos os mecanismos da natureza poderiam um dia ser descritos através de uma fórmula ou de um processo mecânico. Ou seja, contrariava o que Lenine escrevera na sua breviata com ambições filosóficas Materialismo e Empiriocriticismo, uma das bíblias do regime. O próprio Einstein suscitava desconfiança, tal como a sua teoria da relatividade. Para os filósofos ao serviço do regime havia uma física “idealista”, não conforme aos postulados do fundador da URSS, e uma física “soviética”, sendo curioso que os seus ataques à relatividade iam na mesma linha dos ataques feitos na Alemanha nazi ao que era considerada uma “física não-ariana”.
Para além de todas estas guerras ideológicas que condicionaram a relação de Estaline com os cientistas, todo o sistema soviético sofreu também com as flutuações do clima político. Numa primeira fase a ideia de que o Estado soviético era “científico” até foi bem acolhida por muitos cientistas e, até à consolidação do poder de Estaline e ao primeiro plano quinquenal, o sistema científico ainda pode interagir com o resto do mundo, havia troca de revistas e de artigos científicos e os investigadores podiam participar nos congressos internacionais ou mesmo realizar viagens de estudo e intercâmbio.
Toda essa abertura desapareceu quando o regime se fechou e todos começaram a desconfiar de todos, sucedendo-se as purgas. Estima-se que metade dos engenheiros existentes na União Soviética no final da década de 1920 tenham sido presos na década de 1930, sendo que só em 1928 648 membros do staff da Academia Soviética das Ciências foram varridos pelas purgas. Algumas das figuras mais importantes da ciência soviética conheceram os seus anos de prisão e de campos, como Sergei Korolev, o principal designer do programa espacial que trabalhou muito tempo num tipo especial de laboratório-prisão, os sharashka criados pelo sinistro Lavrentiy Beria (a novela O Primeiro Círculo, de Aleksandr Solzhenitsyn, retrata a vida numa destas instalações). O mesmo sucedeu com Leon Theremin, que inventou um precursor do microfone a laser, e com A. N. Tupolev, cujo nome conhecemos dos aviões que desenhou, enquanto Andrei Sakharov recorda nas suas memórias que as instalações onde desenvolveu a bomba de hidrogénio russa foram construídas por presos políticos que ele avistava da sua janela, marchando sob o olhar atento de guardas armados.
Mais tragédia do que triunfo
Para este livro Simon Ings trabalhou exclusivamente com fontes secundárias, tirando partido do enorme volume de investigação original que a abertura dos arquivos permitiu. Isso permitiu-lhe construir um relato apaixonante e cheio de pequenos episódios que ajudam a perceber as relações entre os diferentes personagens e as lutas pelo poder científico, assim como actuava a longa mão da política e a forma como esta limitava a liberdade científica e condicionava os seus resultados.
Mas a ausência de uma leitura mais integrada das razões que levaram à preferência de umas teorias e à desvalorização de outras não é o único ponto frágil de Estaline e os Cientistas: especialistas em história da Rússia, como Simon Sebag Montefiore, ou em história da ciência, como Loren Graham, detectaram também alguns erros evitáveis, da data errada do nascimento de Estaline à identificação de Nikolai Berstein como inventor da cibernética, passando pela afirmação de que Finlândia ficou nas mãos dos russos em 1940, depois da guerra russo-finlandesa.
Mesmo assim esta “história de triunfo e tragédia”, para além de muito agradável de ler e fácil de entender – Ings sabe explicar de forma acessível conceitos científicos por vezes complexos –, tem a virtude de recordar como, mesmo numa área onde se julgaria reinar a objectividade, o sistema soviético contaminou quase tudo. A tragédia sobrepõe-se assim ao triunfo, não que a ciência russa não tenha alcançado indiscutíveis sucessos, que os teve, mas pela imensidão dos recursos desperdiçados e pela cegueira ideológica que provocou décadas de atraso nalgumas áreas do conhecimento, com pesadas consequências para a economia e para a vida dos russos. De facto não foi só nos campos soviéticos que falharam as colheitas, também muito daquilo que os russos alcançaram em laboratório – foram, por exemplo, os primeiros a desenvolver um computador digital na Europa – não teve depois reflexos na economia e na criação de riqueza.
O resultado não foi apenas aquele de que se queixava Philip Jennings — na década de 1980 a URSS ainda não conseguir alimentar toda a sua população. O resultado foi que naquela época em que se passam Os Americanos o regime soviético já vivia o seu estertor. Só duraria até à queda do Muro de Berlim em 1989, mesmo que a URSS ainda sobrevivesse até 1991.