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AFP/Getty Images

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Falámos com a jovem que desafiou Draghi: "Ele não é uma espécie superior"

Saltou para a ribalta com um 'ataque' de confetti a Mario Draghi, mas no currículo já levava protestos contra Putin, partidos neo-nazi e a prisão na Tunísia. Josephine Witt falou com o Observador.

À primeira vista seria uma jovem como qualquer outra. Tem 21 anos, estuda filosofia e é natural de Hamburgo. A mãe é fisioterapeuta e o pai empresário. No entanto, e de forma improvável, Josephine Witt saltou para as bocas do mundo quando decidiu protestar contra a política do Banco Central Europeu ‘atacando’ Mario Draghi com….confetti.

Já lhe chamam confettigate, em mais um uso pelas redes sociais da analogia ao escândalo de Watergate que levou à demissão de Richard Nixon (o primeiro Presidente dos EUA a fazê-lo). A 15 de abril, a ativista ‘freelance’, como se intitula agora, decidiu participar na conferência de imprensa que normalmente se segue à reunião habitual do conselho de governadores do BCE, onde são decididas as taxas de juro diretoras.

O que se seguiu foi o completo inesperado. Poucos minutos depois de começar a reunião, Mario Draghi, o presidente do BCE, ainda ia nos primeiros minutos a ler o habitual comunicado que se segue à reunião dos governadores dos bancos centrais da zona euro, quando Josephine Witt salta para cima da mesa, perante o olhar incrédulo de Mario Draghi, Vítor Constâncio e da diretora de comunicação do BCE, Christine Graeff (que gere habitualmente a conferência), e lança uma chuva de confetti sobre o italiano, juntamente com o seu manifesto.

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No vídeo pode-se ouvir Josephine Witt a pedir o fim da “dick-tatorship” do BCE, um trocadilho com a palavra ditadura, enquanto os seguranças do banco central removem a jovem da sala e chamam a polícia. Nas fotos pode-se ver a jovem com uma expressão de vitória e Mario Draghi com uma expressão assustada (e até alguma descontração de Vítor Constâncio).

O original protesto teve uma grande audiência, uma vez que a conferência era transmitida em direto e muitos são os jornalistas que acompanham os trabalhos do BCE em Frankfurt, e trouxe a fama à jovem ativista que, apesar de nova, já tem no currículo alguns protestos de grande relevo. O primeiro, aos 19 anos, foi contra o partido neo-nazi NPD em Berlim. Depois disso seguiram-se protestos topless com o grupo feminista FEMEN em Hamburgo, contra Vladimir Putin e ainda em Tunes, na Tunísia, contra a prisão da ativista Amina Tyler, que lhe valeu 29 dias na prisão.

Em entrevista ao Observador, Josephine Witt explica o que a levou ao “ataque” de confettis a Draghi, como passou a apertada segurança do BCE e a sua visão do que está a falhar na Europa.

Como conseguiu passar a segurança apertada do BCE?

Eles têm de facto controlos de segurança apertados. É preciso registarmo-nos com antecedência, dar os nossos dados pessoais, e depois à entrada têm um controlo de segurança parecido ao dos aeroportos para garantir que os visitantes não trazem armas. Pediram-me duas vezes o meu cartão de imprensa. Eu não tinha nenhum.

E depois de ser detida pela segurança?

A segurança do BCE informou a polícia e levaram-me para a esquadra, onde fui identificada. Depois de duas horas deixaram-me ir embora. Talvez façam mais alguma investigação ao caso e eu venha a ser notificada.

O sentimento de missão cumprida enquanto era removida pelos seguranças da sala

AFP/Getty Images

O que a levou a fazer este tipo de protesto?

O BCE é muito criticado pelos seus programas relativos à situação grega e na cerimónia de inauguração da sua nova torre que custou 1,2 mil milhões de euros [custou mais de o dobro da previsão inicial] houve grandes protestos em toda a cidade. Houve manifestantes que vieram de todo o continente e nem conseguiram chegar perto do edifício.

A instituição que nunca foi democraticamente eleita estava seriamente protegida pelas forças de segurança alemãs, que usaram canhões de água e gás lacrimogéneo, ferindo os manifestantes e a eles mesmos, mas dentro do edifício ninguém sequer reparou nos protestos. As suas reações foram indiferentes ou arrogantes. O BCE como líder europeu alienou o povo europeu. Não parecem entender que os seus meios e ações têm um grande impacto na vida das pessoas e não quiseram ouvir os nossos protestos.

Eu não queria dar a hipótese a Mario Draghi de ouvir ou não. Queria confrontá-lo diretamente.

Porquê confetti?

Porque são coloridos, pacíficos, inocentes, mas ainda assim provocam uma grande confusão.

A expressão de Mario Draghi percorreu o mundo, O que pensou naquele momento?

Eu sabia que, caso os fotógrafos conseguissem capturar a sua expressão facial, o protesto tornar-se-ia viral. Essa era a minha missão para aquele dia e soube bem ter conseguido cumpri-la. A minha forma de protesto é conseguir quebrar a rotina de mentiras e preenchê-la com um momento de verdade.

Josephine Witt lança o seu 'ataque' perante a estupefacção dos presentes

BORIS ROESSLER/EPA

Se tivesse a oportunidade de falar com Mario Draghi, o que lhe diria?

Não levo essa pergunta como ofensa, mas vejo que aceita Mario Draghi como uma espécie de entidade superior colocando a questão dessa forma. Temos de parar essa forma de pensar. Temos de deixar de acreditar na retidão dos nossos líderes ilegítimos. O meu protesto é isto. Temos de recuperar a Democracia e acabar com esta ‘dick-tatorship’. Pode soar radical para si, mas posso ver claramente quantos de nós estamos presos a uma forma de pensar que aceita lideres não autorizados e assim trai os nossos valores democráticos mais básicos mesmo sem dar conta disso.

Qual era a sua mensagem para os líderes europeus?

Gostaria que parassem de mentir. Relativamente à situação grega, já era altura de aceitarem a realidade, e a realidade é que não vão receber o dinheiro de volta porque a maior parte nem sequer chegou à economia grega, foi diretamente para as mãos dos banqueiros. Durante o resgate a dívida grega aumentou. Os seus métodos falharam. Mas isto não é apenas um jogo de números, por detrás dos números estão vidas. Há vidas postas em causa porque a Grécia não consegue pagar tratamentos a pessoas com cancro, por exemplo. Isto é uma catástrofe humana e temos que a acabar o mais cedo possível.

Em vez disse, estão ocupados a construir uma narrativa que divide países do norte de países do sul espalhando estereótipos racistas que nada têm a ver com a realidade.

Os líderes europeus podem esperar encontrá-la em breve?

Desmancha-prazeres!

O espanto de Mario Draghi perante as atentas lentes dos fotógrafos presentes

AFP/Getty Images

Qual foi o primeiro protesto que fez e porque o começou a fazer?

O meu primeiro protesto foi contra o partido alemão neo-nazi NPD em Berlim, em fevereiro de 2013. Infelizmente, há um grande crescimento do fascismo, nacionalista e antissemitismo na Europa outra vez. Na Alemanha, há cada vez mais ataques contra abrigos de pessoas que procuram asilo e o mar mediterrâneo está transformado numa vala comum para refugiados. Isto é terrível.

O que acha que está a falhar na Europa?

Os líderes europeus falharam na hora de aplicar os ideais europeus e, mais uma vez, isto está literalmente a matar pessoas.

BCE está a investigar o incidente

Pouco depois do incidente, Mario Draghi voltou à sala das conferências de imprensa e, de forma serena, retomou a conferência de imprensa, sem antes fazendo uma piada por ter perdido a primeira página da sua declaração inicial e aproveitando alguns confetti que teimosamente se mantinham em cima da mesa.

O BCE, por sua vez, emitiu um curto comunicado após o incidente, dando conta do acontecimento e de que estará a investigar o incidente. A instituição diz que a ativista se registou como jornalista de uma organização que não representa e que, como todos os visitantes, foi sujeita a um controlo de segurança e de identidade, a sua mala foi revistada e a ativista sujeite a um controlo através de um detetor de metais antes de entrar no edifício.

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