Desde há uns tempos para cá que recebo com grande regularidade na minha caixa de correio electrónico propaganda do MPLA para votar no seu candidato a Presidente de Angola: João Lourenço.
Não sei qual será a razão destes esforços da propaganda do MPLA para conquistar o meu voto para o seu candidato no escrutínio de 23 de Agosto, pois não fui, nem sou cidadão angolano, nem conheço antepassados meus que por aí tenham passado. O que me liga a esse país lusófono são alguns amigos e os livros que escrevi sobre as relações entre a União Soviética/Rússia e sobre o “golpe de Nito Alves”.
Mas porque a máquina propagandística do MPLA tanto insiste, eu respondo que, mesmo que tivesse direito a voto em Angola, João Lourenço não seria de longe o meu favorito, não obstante as grandes promessas que faz.
O panfleto electrónico do MPLA apresenta dez razões para votar no seu candidato, mas todas elas são falsas e não lembrariam sequer ao diabo citá-las. A primeira reza que “O MPLA é o partido de todos os angolanos”, o que aconteceu durante muito tempo à custa de uma guerra civil cruel e do apoio externo. Hoje, se quisermos assistir a eleições livres, deverão haver angolanos que não se revejam nessa palavra de ordem, com “forte cheiro” a marxismo-leninismo.
Vamos aceitar como verdadeira a segunda razão: “O MPLA é o partido histórico e vitorioso”. Não se pode negar que essa força política combateu contra o colonialismo português, venceu na guerra civil contra a UNITA e irá vencer as eleições porque se trata de um escrutínio que ficará longe das razões prometidas a seguir.
No ponto 5 do dito panfleto, afirma-se que “O MPLA é o partido da governação moderna e transparente”, o que é desmentido por factos e números. De que transparência se pode falar num dos países mais corruptos do mundo, onde a “gasosa” é uma “instituição nacional”? De que transparência se pode falar num país onde se proíbe a transmissão de algumas televisões portuguesas só porque os dirigentes do MPLA não gostam das notícias?
Dizer que “O MPLA é o Partido do desenvolvimento económico e social” e “o Partido da cidadania e da justiça social” nem sequer é tentar “esconder o Sol com uma peneira”, mas recorrer à demagogia mais barata. De que desenvolvimento económico e social se pode falar quando apenas uma pequena elite vive “à grande e à francesa” e a maioria do povo vive na pior das misérias? Ou será que a maioria dos angolanos já têm meios para comprar propriedades e vistos gold em Portugal?
Acreditar na justiça social em Angola é o mesmo que acreditar no “conto de fadas” sobre a Isabelinha, que começou a vida a vender ovos e hoje é a mulher mais rica de África.
Quanto à cidadania, vejo-a entre aqueles angolanos que lutam contra o poder absoluto e a repressão do MPLA, por eleições verdadeiramente transparentes e democráticas: Luaty Beirão e outros companheiros seus, forças políticas da oposição que participam nas eleições para mudar o país mesmo em condições desiguais.
Por isso, também não acredito que “O MPLA é o partido do futuro previsível e seguro” e que é “O Partido do candidato certo, na hora certa, para o voto certo”.
A não ser que o general João Lourenço, que estudou na Academia Político-Militar Lenine de Moscovo, seja mais competente e dialogante do que aquele que o nomeou para seu sucessor, o Presidente José Eduardo dos Santos, que também estudou na União Soviética. Talvez a história da derrocada deste país, cuja subsistência se devia à exportação de gás e petróleo, tenha ensinado alguma coisa ao candidato do MPLA.
Dito isto, quero sublinhar que o destino está nas mãos dos angolanos e só a eles compete eleger os seus futuros dirigentes. Escrevi este texto apenas porque fui convidado a votar em João Lourenço e, não podendo fazê-lo pelas razões acima apresentadas, decidi manifestar a minha opinião.
P.S. Poderão acusar-me de eu estar a imiscuir-me nos assuntos internos de Angola e recomendar-me a olhar para o meu país. Esse argumento está gasto.