Perto de perder as eleições, António Costa está a tentar adiar o inevitável: a saída da liderança do PS e, provavelmente, o fim da sua carreira política. A última jogada política foi a ideia de uma possível coligação com o Bloco de Esquerda. Claro que não fará qualquer entendimento com o Bloco, a não ser que queira dividir ainda mais o PS. Um governo PS/BE não aguentaria um ano e acabaria com o FMI e as instituições europeias de volta a Portugal. Não seria a primeira vez que um político tentaria colocar o seu partido refém dos seus interesses pessoais, mas ainda haverá pessoas sensatas no PS que explicarão o óbvio a Costa.

Mas se não levo a sério a hipótese de uma coligação governamental entre o PS e o BE, acho que vale a pena fazer algumas considerações sobre as teses e as contradições socialistas sobre coligações. Uma coligação que governou durante quatro anos, que decidiu concorrer às eleições com um programa político conjunto, segundo as brilhantes cabeças socialistas “desfaz-se no dia 5 de Outubro.” Mas outra coligação – PS/BE – que nunca existiu, nunca governou, em que os dois partidos fizeram campanha um contra o outro e nem sequer se entendem sobre uma questão fundamental como a participação no Euro, goza de toda a legitimidade política para formar governo. Será que o PS ainda não percebeu que esta falta de respeito pelos portugueses explica a falta de confiança do eleitorado nos socialistas? Será que os socialistas pensam que os portugueses são estúpidos? Se não pensam, parece. O que, de resto, é muito estúpido.

Mesmo assim a falta de respeito pelos portugueses vai mais longe. O sistema político respeita há décadas a aliança entre o PCP e os Verdes. E o PS nunca nada disse contra isso. Nem alguma vez sugeriu que essa admirável coligação desaparecesse depois das eleições. No entanto, a que existe entre o PSD e o CDS acaba “às 19 horas de Domingo.” Convém ainda recordar que foi António Costa, para evitar debates com Paulo Portas, que comparou as duas coligações. Quando lhe convém, são idênticas. Quando vai contra os seus interesses, são diferentes.

A partir do dia 5, o centro da política nacional desloca-se para Belém. Sem uma maioria absoluta, o Presidente Cavaco torna-se na personagem central da política portuguesa. E é irrelevante que esteja em fim de mandato. Como já percebemos que a liderança socialista usa os argumentos de acordo com os seus interesses, convêm recordar que, à excepção da dissolução da Assembleia, a Constituição estipula que o Presidente deve exercer os seus poderes até ao último dia do seu mandato. Cavaco assim o fará.

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Mas no dia 5 de Outubro começa igualmente, e desta vez a sério, a preparação para as eleições presidenciais. Agora que as coisas são a sério, estou convencido que alguns candidatos vão desaparecer. Se Costa perder por muitos e se demitir, Sampaio da Nóvoa desaparece como candidato credível. Talvez seja o candidato do Livre (se este ainda existir). Maria de Belém será, em princípio, a candidata do PS. Mas poderá aparecer um candidato novo. Se a derrota for grande, voltarão as pressões para Guterres se candidatar. E ele poderá não dizer não segunda vez. Se Guterres avançar, Maria de Belém, obviamente, afastar-se-á com a mesma elegância com que chegou.

À direita, só haverá um candidato, Marcelo Rebelo de Sousa ou Rui Rio. Não vivemos em tempos de primárias ou de experiências políticas. Os recursos são escassos e as campanhas não são baratas. Passos Coelho e Portas são pragmáticos e apoiarão quem estiver em melhores condições de ganhar. Deverá ser Rebelo de Sousa. O tema das presidenciais será apenas um: o que fazer com um governo minoritário. Os candidatos irão esforçar-se por mostrar que são capazes de promover entendimentos entre o governo minoritário da coligação e o PS. Nenhum português quererá ouvir falar de eleições antecipadas. O candidato que convencer os portugueses que será capaz de promover entendimentos e evitar eleições antecipadas vencerá as presidenciais.

Tudo o que escrevi em cima deixará de fazer sentido se a coligação conquistar uma maioria absoluta. O que seria uma óptima notícia para o nosso país.