Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa coincidiram na análise de que uma hipotética escolha da actual ministra das Finanças para Comissária Europeia significaria que o primeiro-ministro “desistiria de Portugal” (MM) ou de “ganhar as eleições” (RS). Estão obviamente errados. Vamos por partes.
Em primeiro lugar, o argumento de que a melhor escolha para comissário europeu significa “desistir de Portugal” é absolutamente bizarro. Como demonstrou a crise dos últimos anos, e sobretudo a intervenção da “troika”, a Comissão Europeia é mais do que nunca uma instituição fundamental para os destinos de Portugal. Muitas decisões cruciais para a vida dos portugueses e para a economia do país serão tomadas em Bruxelas. Por isso mesmo, será essencial escolher alguém com prestígio para ocupar uma pasta de relevo, mas sobretudo que tenha influência política entre o Colégio de Comissários. Há certas decisões políticas, as mais relevantes, onde o papel dos comissários ultrapassa as suas competências específicas. E nas reuniões dos comissários para discutir essas questões, o prestígio individual e o reconhecimento pelos pares contam muito. Por exemplo, António Vitorino gozava dessa influência (aliás não me recordo de alguém ter dito que Guterres estava a desistir do país por ter nomeado o seu número dois).
Graças ao seu desempenho muito positivo como ministra das Finanças, e numa altura muito difícil (não ocupou a pasta com dinheiro para distribuir, como muitos dos antecessores), Maria Luís Albuquerque ganhou prestígio entre os seus pares europeus e em Bruxelas, nomeadamente junto do próximo presidente da Comissão Europeia. Será assim quem terá as melhores hipóteses de conseguir uma pasta relevante para Portugal. Simultaneamente, tendo em conta que goza do respeito de Juncker, teria certamente peso político na nova Comissão. Além disso, tendo concluído o programa da “troika”, teria legitimidade para defender os interesses nacionais naqueles momentos em que é mesmo necessário fazê-lo. Ao contrário do que dizem os nossos comentadores das televisão, a escolha de Maria Luís Albuquerque para comissária significa que Passos Coelho sabe muito bem a importância dessa escolha para o nosso país. Não desistiu. Insiste em defender os interesses de Portugal na Europa.
Em segundo lugar, os mesmos comentadores que acharam que o governo estava condenado quando Maria Luís Albuquerque substituiu Vitor Gaspar, consideram agora a actual ministra insubstituível. Como já se enganaram uma vez, é provável que se enganem outra vez e daqui a um ano estejam a falar de um novo insubstituível.
Há quem fale de Carlos Moedas como um possível ministro das Finanças. Não sei se será e haverá certamente outros capazes, mas vale a pena considerar a hipótese Moedas. Até às eleições de 2015, o ministro das Finanças terá essencialmente que preparar o Orçamento do próximo ano, dentro dos limites impostos pelos compromissos externos e depois terá que executá-lo. O passado de Moedas no Governo preparou-o para estas funções e goza da confiança política do PM. Mas o ministro das Finanças deverá ter igualmente relações próximas com os nossos credores e com os mercados. Aqui, alguns poderão estar no mesmo nível que Moedas, mas ninguém está em melhor posição.
Há um último ponto que Marques Mendes e Rebelo de Sousa ignoram (ou custa-lhes reconhecer). No Governo só há dois elementos insubstituíveis: Passos Coelho e Paulo Portas. Foram eles que ganharam uma maioria absoluta.