O Presidente ucraniano Petro Poroshenko impôs novas sanções contra dezenas de políticos e empresas russas, bem como contra jornalistas da BBC e de jornais alemães e espanhóis, justificando essa medida como uma resposta às eleições que os separatistas pró-russos estão a organizar no Leste da Ucrânia.
Os dirigentes da região de Donetsk anunciaram eleições para 18 de Outubro e os da região de Lugansk para 01 de Novembro. Ora os Acordos de Minsk, assinados pelos separatistas e pelo Governo de Kiev, não prevêem escrutínios separados e elas são vistas como mais um passo para a separação desses territórios da Ucrânia.
Pode-se compreender a imposição de novas sanções de Kiev contra 90 empresas e 400 políticos russos, pois os dirigentes ucranianos consideram a Rússia um país agressor, parte do seu território foi ocupado por tropas russas. Mas é mais difícil justificar sanções contra jornalistas, nomeadamente a proibição de entrarem na Ucrânia.
Além de jornalistas russos, na lista de sanções encontram-se três funcionários – dois britânicos e um russo – que trabalham na delegação da BBC em Moscovo, um repórter do jornal Die Zeit da Alemanha e um jornalista espanhol que publicou reportagens da Ucrânia em vários órgãos de informação espanhola e profissionais de órgãos de imprensa de Israel e Itália.
A direcção da BBC ficou indignada pela decisão, considerando-a “um ataque vergonhoso contra a liberdade de imprensa”. Mais tarde, depois de um encontro com o embaixador britânico em Kiev, Poroshenko ordenou retirar os jornalistas britânicos da lista, mas o mal já estava feito.
O mais surpreendente é que um dos jornalistas incluídos na lista negra é o espanhol Antonio Pampliega, profissional da imprensa que desapareceu na Síria com mais dois colegas seus em 12 de Julho, pensando-se que estejam reféns do Estado Islâmico. Em Dezembro de 2014, Pampliega publicou, no jornal El Confidencial, uma reportagem sobre treinos de forças de autodefesa ucranianas apoiadas pelas autoridades de Kiev.
Decisões deste tipo não são demonstração da maturidade do poder, mas um sinal do seu enfraquecimento. Por isso, em vez de fazer dos jornalistas “bodes expiatórios”, seria mais útil que o governo de Kiev se envolvesse a sério no combate aos problemas reais do país, nomeadamente contra a corrupção, a degradação económica, etc.
Mas o mais grave é se for verdade o que disse Petro Poroshenko ao assinar o decreto com novas sanções: “Esta decisão sobre o alargamento das sanções ocorre em coordenação precisa com os nossos parceiros da União Europeia, dos Estados Unidos e de outros países que garantem a reacção devida à anexação da Crimeia e à agressão em Donbass”.
É indiscutível que a Ucrânia necessita de apoio para sair da situação política, económica e territorial, mas isso deve implicar compromissos por parte de Kiev, nomeadamente o de respeitar o direito do acesso à informação e a liberdade de imprensa. Caso contrário, em que se distingue a política de Petro Poroshenko da do seu homólogo russo Vladimir Putin em relação aos jornalistas?