Por vezes, fica-se com a impressão de que Vladimir Putin vive num tempo em que não existe Internet, mas apenas um jornal como o Pravda, antigo órgão oficial do Partido Comunista da União Soviética.

Numa entrevista ao canal de televisão alemão ARD, o Presidente russo, ao responder à pergunta sobre a anexação da Crimeia, afirmou ter sempre reconhecido que o seu país utilizou tropas nessa operação: “Sim, claro que nunca neguei esse facto, nós nunca negámos, as nossas Forças Armadas, falemos diretamente, bloquearam as Forças Armadas da Ucrânia aquarteladas na Crimeia”. Ora, na altura, Putin e a propaganda russa não se cansaram de afirmar que os “homenzinhos verdes” eram “forças de autodefesa local”.

O dirigente russo voltou a justificar a anexação da Crimeia com o exemplo do Kosovo: “Temos um precedente evidente e fresco: o precedente do Kosovo”, mas “esqueceu-se” de que o Kosovo não foi anexado por outro estado, antes é um país independente.

Na mesma entrevista, Vladimir Putin explicou também como é que os separatistas pró-russos conseguem armamentos sofisticados: “Onde é que eles vão buscar blindados e sistemas de artilharia? No mundo actual, as pessoas que lutam e consideram essa luta justa do seu ponto de vista, encontrarão sempre armamentos”.

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Que quis o dirigente russo dizer com isso? Confirmar que, afinal, o seu país fornece armamentos à “luta justa” dos separatistas? Claro que não, pois o Kremlin jura que não é parte do conflito e que apenas envia ajuda humanitária para Lugansk e Donetsk.

Por muitos êxitos que os separatistas pró-russos tenham tido, eles não podiam ter conquistado aos militares ucranianos tanto armamento sofisticado como o que emprega nas operações militares. Sendo assim, de onde vêm blindados, lança-mísseis, tanques, etc.? Se olharmos para o mapa, rapidamente compreenderemos que esse armamento só pode vir da Rússia. Sendo assim, isto significa que o Presidente Putin não controla a venda de armas no seu país ou, como já nos vem habituando, foge à verdade?

Quanto a manobras militares, Putin afirma que elas se realizam no espaço aéreo ou águas internacionais, e que irão continuar. Ou seja, nós portugueses também deveremos habituar-nos a ver aviões e navios militares russos não longe das nossas costas. Esperemos é que essas manobras não ponham em perigo os voos civis nesse espaço.

P.S. Por vezes, quero acreditar que declarações desse tipo são feitas para manter viva a chama da “Grande Rússia”, que pode e manda, faz o que quer. As sondagens internas mostram que isso tem êxito entre os russos. Mas receio que estes actos venham a ter graves consequências, e não só para os russos.