A chegada ao poder dos “nazis” e “fascistas” em Kiev foi e continua a ser um dos argumentos principais do Kremlin para justificar a anexação da Crimeia e o apoio militar aos separatistas do Leste da Ucrânia, tentando passar a ideia de que repete aquilo que fizeram as tropas soviéticas quando combateram contra Hitler entre 1941 e 1945.
É verdade que entre as forças que derrubaram Victor Ianukovitch do poder havia formas da extrema-direita ucraniana e que muitos dos seus militantes combate contra os separatistas pró-russos e militares russos em Donetsk e Lugansk, mas isso é apenas uma pequena parte da verdade.
A propaganda nacionalista do actual regime russo esconde, por exemplo, que, nas urnas, os partidos de extrema-direita ucranianos tiveram votações muito baixas e poucos deputados elegeram para o Parlamento.
O Kremlin também não gosta de apregoar que entre os separatistas pró-russos estão nacionalistas russos e neo-nazis de vários países, incluindo do Brasil, França, Sérvia, etc.
Um destes é o brasileiro: Rafael Lusvarghi, auto-intitula-se de “cossaco brasileiro” e já foi herói de um dos principais canais de televisão russa “Rossia 1”, onde é apresentado como um homem de convicções de esquerda que decidiu ir para o Leste da Ucrânia combater o “nazi-fascismo”. Rafael combate sob o comando de Babai (Papão), que diz ser “procurado” na Rússia por “tentativa de homicídio”.
Segundo a reportagem, Rafael era polícia e “andava à caça de traficantes de droga”, depois prestou dois anos de serviço militar na Legião de Honra de França, “por isso para ele não é difícil manejar uma Kalashnikov”.
“Kalashnikov é a arma da revolução!”, afirma Rafael, sorrindo para a câmara.
“Adepto de ideias de esquerda, continua o repórter, Rafael envolvia-se em confrontos com a polícia… Esteve mesmo preso durante mês e meio porque alegadamente foi para uma manifestação não com garrafas de chocolate na mão, mas com cocktails Molotov”.
Mas se consultarmos a página do Facebook deste “revolucionário brasileiro”, que diz ter recebido a cidadania russa e lutar pela “Fé, Czar e Pátria”, deparamos com as suas verdadeiras ideias.
“Em conformidade com as leis da natureza, não há nada de mais correcto do que a conservação da raça”, escreve ele em inglês por cima de uma foto decorada com símbolos dos nacionalistas russos que fazem lembrar as cruzes gamadas nazis.
Mas, para que não restem dúvidas, Rafael escreve noutro post em português: “Apesar das minhas posições políticas socialistas pouco ortodoxas ou populares, luto aqui exclusivamente pela Grande e Sagrada Mãe Rússia, sua glória e pela minha raça eslava. Não há limites para o que estou pronto a fazer para destruir a decadência ocidental e todos que se opuserem a glória russa. O ocidente quando atingiu o fundo do poço dos desvalores humanos pegou uma pá e começou a cavar, esse inimigo espalha sua doença de pederastas, fracos e coitados por tudo onde toca. Mas nas nossas terras não! Nós somos os fortes, e o mundo pertence aos fortes! Combateremos até a morte, mesmo se toda esperança já tiver acabado, até o fim a qualquer preço. Sangue e Honra!”.
Segundo conseguimos apurar, este “revolucionário” não é o único brasileiro que combate do lado dos separatistas pró-russos. “Há cerca de duas semanas, chegaram ao Leste da Ucrânia mais três voluntários brasileiros”.
P.S. Alexandre Zakhartchenko, líder dos separatistas russos em Donetsk, anunciou um ataque contra a cidade ucraniana de Mariupol, tendo o anúncio sido precedido de um ataque de artilharia que matou pelo menos 21 e feriu 68 pessoas. A invasão da Ucrânia vai continuar.