Enquanto prossegue – e provavelmente prosseguirá – o psico-drama helénico, vale a pena debruçar-nos sobre as emoções desencadeadas pela última sondagem conhecida, a qual colocava a actual coligação no poder, PSD+CDS, marginalmente à frente do PS. Um jornal da nossa praça aproveitou para perguntar pela enésima vez a «vários especialistas» se «as sondagens influenciam os eleitores»? Claro que influenciam! Resta saber de que modo exercem essa influência. E se é verdade que há modos de o saber, isso custa demasiado dinheiro aos «especialistas», pelo que ficamos na mesma. O problema é este. Quanto às demais incógnitas do exercício são infinitas, sobretudo num caso como este em que os potenciais vencedores estão estatisticamente empatados.

A primeira dessas incógnitas, que permanecerá até à contagem dos resultados, é a abstenção, que os «especialistas» têm muita dificuldade em captar porque é um comportamento sancionado negativamente pela «nossa pele social», como lhe chama Elizabeth Noelle-Neuman, a autora do melhor livro sobre o tema, e por isso fica também por apurar. Portanto, a única coisa que podemos prever é que a abstenção será maior, em princípio, do que os «especialistas» pensam e é provável que seja influenciada pelas sondagens, mas ficaremos sempre sem saber se os eleitores potenciais, perante o risco de abstenção, correrão em favor dos presumíveis perdedores ou dos vencedores.

Porém, a grande pergunta que fazem os dois potenciais vencedores diz respeito às motivações do voto e da sua evolução. Para falar claro, os dirigentes do PS e toda a comunicação social que anda com António Costa ao colo há perto de um ano perguntam-se como é que, tendo eles, o PS e os media bem-pensantes, decidido uma vez por todas que o país se opunha em massa às políticas ditadas pelo memorando de 2011, como é que os eleitores não dão ao PS maioria absoluta nas sondagens e acabam de o colocar marginalmente atrás da coligação?

E como não percebem porquê, têm de arranjar respostas extrínsecas, que não ponham em causa o partido nem as suas propostas. Por seu turno, os comentadores de serviço mandam bitates parecidos. Por exemplo, um especialista de generalidades como o antigo ministro Marques Mendes aventa que é uma mistura da Grécia e do «preso 44»… Por outras palavras, a desapontadora performance do PS nada tem que ver com Costa. A culpa é de factores externos que talvez desapareçam por encanto. Se Sócrates saísse da cadeia e fosse considerado inocente, o PS daria imediatamente um salto em frente. Quanto ao imbróglio grego, se desaparecesse por milagre, idem.

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Ora, a verdade é que há factores intrínsecos de que o PS e os comentadores não querem lembrar-se. Primeiro: o papel que o dito PS teve, perante os olhos de todos nós, na virtual bancarrota do país e nas medidas de ajustamento que o próprio partido negociou com os credores. Acerca disso, António Costa tem resistido a dizer uma frase tão curta como: «Desculpem, mas prometemos nunca mais levar o país à bancarrota». Faz o inverso: nega a evidência passada e fala para o eleitorado à esquerda do PS na esperança que este venha apoiar o clássico partido estatista e clientelar que o PS nunca deixou de ser. Veremos como é que esta propaganda será sancionada.

Em contrapartida, daquilo que mais interessa à maioria do eleitorado, ou seja, a performance efectiva da coligação, tanto na gestão do memorando assinado pelo PS como na evolução financeira e económica posterior à saída da «troika», António Costa e a comunicação social de serviço repetem à exaustão os mesmos slogans populistas. Nem tudo é falso no que dizem, mas não é isso que os eleitores querem conhecer. Querem saber se o pior do legado socialista já terá passado e se o país está, neste momento, melhor ou não do que todos temíamos quando Sócrates e os seus fiéis foram afastados do poder.

Ora, há mais de um ano para cá, todas estatísticas evoluíram favoravelmente a Portugal. Devido à acção governativa ou à evolução da conjuntura internacional, a verdade é que tem sido assim. Apesar do seu legado de bancarrotas, o PS não costumava ser insensível a este tipo de sinais. Agora, porém, agarra-se a todos os problemas que evidentemente subsistem, muitos aliás por responsabilidade do próprio PS, como o desemprego, e omite todos os indicadores favoráveis ao país. E não estou a falar apenas dos indicadores que a comunicação esconde nas páginas interiores, mas sim daquilo que eles traduzem em termos de comportamentos concretos da maioria da população. Para além de algum crescimento económico e de muitas reformas que começam a ter efeitos positivos, alguns desses indicadores, como as vendas de automóveis ou o facto de «o dinheiro rolar nos casinos», só mostram aliás que nem todos os portugueses perceberam que a crise ainda não ficou para trás e que falta muito para tal acontecer, mas isso não faz deles eleitores de esquerda…

Quer então dizer que a coligação tem a vida facilitada? Certamente que não! Veremos para a próxima vez.