Há mais de 30 anos que Ingo Rechenberg, professor na Universidade Técnica de Berlim, viaja anualmente da Alemanha a Marrocos de caravana, conta o New York Times. Gosta de explorar a natureza, em particular o deserto, à procura de ideias biológicas para inovações tecnológicas. Numa noite da expedição de 2009 saiu de lanterna na mão, ainda não podia adivinhar que a aranha que encontrava e levava para a caravana se iria revelar um animal tão extraordinário.

Para se defender ou evitar os predadores, a aranha ora se apoia nas patas traseiras e levanta as dianteiras, parecendo muito maior, ora, de uma forma mais espectacular, rebola para fugir do local. Assim, consegue duplicar a velocidade de fuga, em relação a uma corrida normal, atingindo dois metros por segundo.

Fascinado com o modo original de locomoção da aranha, Ingo Rechenberg criou um robô capaz de mimetizar esses movimentos, tanto a caminhar como a dar cambalhotas. Desta forma conseguia ultrapassar um dos problemas encontrados pelos robôs: deslocar-se sobre areia solta. “Este robô poderá vir a ser usado na agricultura, nos fundos oceânicos ou até mesmo em Marte”, afirma o investigador em biónica sobre o robô ao qual chamou Tabbot, derivado de Tabacha que significa aranha na língua berbere do norte de África.

Tal como um ginasta, a aranha corre um pouco e lança as patas dianteiras para a frente fazendo uma espécie de mortal até aterrar com as patas traseiras no chão, repetindo o movimento tantas vezes quantas forem necessárias. Estas manobras valeram-lhe o nome comum de aranha-flic-flac-de-marrocos.

Ao ver este comportamento, Ingo Rechenberg soube que estava perante uma espécie nova e não descansou enquanto não teve a confirmação de um especialista. “Assim que descobriu a aranha veio diretamente ao meu laboratório, ainda vinha coberto de areia e pó”, disse Peter Jager, especialista em aranhas no Instituto de Investigação Senckenberg, em Frankfurt (na Alemanha), segundo a National Geographic.

Pela análise dos órgãos sexuais, Peter Jager verificou que se tratava de uma espécie nova, à qual chamou Cebrennus rechenbergi, em homenagem a quem a descobriu – Ingo Rechenberg. O comportamento desta aranha do deserto arenoso Erg Chebbi, no sudeste de Marrocos, não tem par – ela consegue fazer os flic-flacs em qualquer condição, a subir, a descer ou numa superfície plana. A única outra espécie capaz de rebolar, uma aranha da Namíbia, só o consegue fazer de forma passiva em descidas.

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