O ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, aproveitou a deslocação oficial à Tunísia para ouvir os empresários portugueses que têm investimentos naquele País. O governante deixou-os à vontade para exprimir possíveis críticas, de forma a poder prestar o devido apoio. Os empresários foram diretos ao assunto: para investir na Tunísia, tem que se ter um parceiro nacional.

Rui Machete sublinhou a necessidade de resolver problemas relacionados com a segurança entre os países do Maditerrâneo, defendendo o reforço do Diálogo 5+5 – o mecanismo de cooperação que reúne cinco países do lado norte do Mediterrâneo com cinco países do sul, incluindo a Tunísia – “cada vez mais decisivo”, disse, este domingo, quando foi recebido pelo embaixador Luís Faro Ramos.

“Há empresas portuguesas que investiram ou pretendem investir. Numa fase difícil, estes investimentos são cruciais”, resumiu o ministro, que em nome do governo agradeceu a “dedicação” dos empresários e trabalhadores portugueses que trabalham no exterior e manifestou disponibilidade para “escutar todas as críticas e fornecer todo o apoio” possível.

A COBA, consultores de Engenharia e Ambiente, um dos exemplos deste “esforço de internacionalização”, fez-se representar na receção por um dos seus responsáveis, e com experiência em diversos países.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Neste momento temos dois projetos na Tunísia em termos de infraestruturas, incluindo um grande projeto de autoestrada com um grande parceiro tunisino” e financiado pela União Europeia (UE), referiu à Lusa Mário Roldão, especialista em engenharia civil.

A empresa prepara-se agora para fornecer trabalho de assistência técnica para outra autoestrada no sul do país, para além da perspetiva de novos concursos. “É um mercado difícil. Quem não tem um parceiro tunisino não consegue sobreviver, não tem hipótese nenhuma. A administração trabalha em árabe, e mesmo quando os projetos têm como língua oficial o francês há muita documentação produzida em árabe, as consultas públicas são feitas em árabe”, revela.

“Mas é fácil de arranjar um parceiro tunisino, são muito competitivos na área dos serviços e engenharia, e competentes. Há dificuldades em entrar neste mercado”, reconhece.

Ao defender a necessidade de reestruturação económica de um país magrebino que “vivia da mão-de-obra barata mas que acabou com a revolução”, Mário Roldão reafirma a obrigatoriedade de investir em parceria com os tunisinos, “que são orgulhosos e também sabem muitas coisas”.

A capacidade de desenvolvimento da economia do país magrebino na área da agricultura deverá ser outra área a explorar, mas Mário Roldão – que já dirigiu projetos na Argélia e em Angola – não deteta muitas hipóteses para as empresas portuguesas na área da construção, “bem servido por empresas tunisinas e complementado por empresas italianas”.

Também presente na receção, Paulo Amaral, administrador da Sinfic, empresa produtora de tecnologias e responsável pela internacionalização em países onde não possui investimento direto, manifestou particular otimismo.

“As perspetivas na Tunísia são excelentes. Viemos na altura certa, cheguei aqui quando aprovaram a nova Constituição, que é muito avançada, e percebi que o país se vai abrir e desenvolver. E as nossas tecnologias ajudam os países a desenvolver-se. Fazemos cartografia, censos, eleições, registos eleitorais, gestão de processos, ensino à distância…”.

A empresa decidiu manter-se “quase em permanência no país” e intensificou os contactos com diversos responsáveis governamentais. “Para já estamos a perceber, a criar relações de confiança mútuas, para ver se as relações Portugal-Tunísia acontecem, e connosco no meio”.

Rui Machete iniciou este domingo uma visita oficial de dois dias à Tunísia onde vai manter encontros bilaterais com os principais responsáveis políticos e participar no encerramento o Conselho de Negócios luso-tunisino.