O banco suíço Credit Suisse ajudou a vender milhares de milhões de dólares de títulos das sociedades veículo offshore, compostos maioritariamente por dívida do Grupo Espírito Santo, a clientes do Grupo Espírito Santo, notícia hoje o The Wall Street Journal.
Segundo o jornal económico norte-americano, o grupo bancário suíço terá ajudado a desenhar os títulos destas sociedades veiculo, que foram mais tarde vendidos a clientes do BES.
Muitos dos clientes, diz o jornal citando documentos oficiais e fontes próximas do processo, não sabiam que estes veículos tinham como ativos a dívida das várias entidades que compunham o Grupo Espírito Santo e que, aparentemente, serviam de mecanismo de financiamento do império da família.
A Credit Suisse terá ajudado a construir os títulos para serem vendidos, mas não é ainda conhecido se terá tido também um papel na venda destes títulos. O banco suíço não quis comentar a notícia.
A informação surge depois de, na apresentação dos resultados do segundo trimestre, o banco ter dado conta de quatro veículos de investimento que estavam fora das contas do banco e que tiveram de ser consolidados nas contas e obrigaram à constituição de provisões consideráveis nas contas do banco. A administração de Vítor Bento admitiu, inclusivamente, que não tinha qualquer informação sobre o quarto veículo.
A anterior administração de Ricardo Salgado e Morais Pires disse não ter conhecimento nem da constituição, nem da finalidades destes veículos, que terão servido para financiar o grupo, segundo as contas do banco.
O The Wall Street Journal diz que os reguladores portugueses descobriram que títulos destes veículos, maioritariamente ações preferenciais, foram vendidos com a ajuda do banco suíço aos clientes do Banco Espírito Santo.
Os reguladores receberam queixas de clientes que não percebiam o que estavam a comprar e agora estão a obrigar o banco a comprar de volta estes títulos que foram vendidos aos clientes.
Segundo a informação dada pelo BES ao mercado, pelo menos uma parte da venda destes títulos foi usada para comprar mais dívida do Grupo Espírito Santo. Fontes próximas do processo dizem que os reguladores suspeitam que a venda destes títulos sejam parte de um plano para melhorar a contabilidade do BES e das empresas do GES.
Três destes veículos – chamados Top Renda, EuroAforro Investments e Poupança Plus Investments – estão sedeados em Jersey, a ilha que serve de offshore ao largo da costa francesa. A Credit Suisse subscrevia títulos destas três entidades e tratava das suas necessidades administrativas e financeiras, segundo as comunicações oficiais à entidade que regula os serviços financeiros de Jersey.
O quarto veículo chama-se EG Premium e está sedeado nas Ilhas Virgens, um offshore britânico.
Não é claro quem detém os veículos, segundo o The Wall Street Journal, que terão investido essencialmente em dívida emitida por empresas do GES, incluindo o BES, a ESCOM.
Segundo documentos oficiais, estes veículos estão em funcionamento há mais de uma década e têm como único propósito a venda de ações preferenciais (um instrumento hibrido entre o capital próprio e a dívida financeira, que é remunerada através de dividendos. As ações preferenciais não dão direito de voto, como as ações normais, mas têm prioridade a receber dividendos).
Os veículos emitiam regularmente ações preferenciais em quantidades reduzidas, que eram então vendidas a clientes do retalho do BES através dos balcões do banco. A pequena dimensão era compensada pelo grande número de emissões, e permitia escapar aos reguladores, já que não obrigava à criação de um prospeto que tinha então de ser comunicado ao mercado, e como tal, também à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Os reguladores acreditam, segundo o jornal, que estes veículos foram criados para apelar aos clientes do retalho, devido aos nomes Aforro, Poupança ou Top Renda, com os gestores dos balcões a dizer aos seus clientes que os produtos eram tão seguros como depósitos, mas com melhor retorno.