Fazer exercício faz bem ao corpo e à mente, certo? Para os dentes parece que não, de acordo com um estudo recentemente publicado na revista científica Escandinávia de Medicina, Ciência e Desporto.  

Já não é a primeira vez que surgem pistas que os atletas podem estar sob maior risco de contrair problemas dentários. Num estudo publicado em 2013, na revista Britânica de Medicina no Desporto, um grupo de dentistas examinaram 278 atletas durante os jogos olímpicos em Londres, de 2012, o que revelou que a grande maioria apresentava “uma baixa saúde oral”, incluindo altos níveis de deterioração dos dentes. Os atletas analisados eram provenientes dos Estados Unidos da América, da Europa e de outras partes do mundo menos desenvolvidas, e a maioria tinha acesso a bons cuidados de saúde dentária, apesar de que muitos não tinham ido ao dentista nos últimos tempos.

Para compreender melhor o que se estava a passar na boca dos atletas, uma equipa de investigadores do hospital universidade Heidelberg, na Alemanha, e outras instituições recrutaram 35 atletas de competição, com idades a rondar os 35 anos, e um número equivalente de pessoas não atletas, mas com as mesmas características de género e fisionomia.

Todos os voluntários visitaram o hospital para um exame dentário, procedendo-se à recolha de amostras de saliva para análise. Preencheram questionários sobre as suas dietas, rotinas de higiene normais e hábitos de exercício, se tivessem alguns.

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Quinze dos atletas foram obrigados a correr intensamente durante 35 minutos numa pista exterior, enquanto iam efetuando paragens para a recolha de saliva.

Os resultados foram uma surpresa: os atletas mostraram ter muito mais erosão no esmalte dos dentes e tendiam, com o risco, desta se intensificar, a aumentar consoante o treino do atleta se estendesse. Ou seja, quantas mais horas os atletas passassem a treinar, mais provável ia ser que os dentes destes estivessem em piores condições.

Os investigadores descobriram que a resposta estava na saliva: quando os atletas praticavam exercício, a quantidade de saliva diminuía e a boca ficava mais seca, independentemente de beber líquidos ou não durante a corrida. A composição química da saliva mudava, tornando-se mais alcalina à medida que o treino decorria. Pensa-se que este excesso de alcalinidade contribuía para o desenvolvimento de tártaro e outros problemas nos dentes.

“Nós [investigadores] pensamos que as bebidas energéticas fossem a principal influência para a decair da saúde oral”, disse Cornelia Frese, membro da equipa de investigadores, em declarações ao New York Times, “mas não encontramos nenhuma relação direta.” A culpa estava na alcalinidade da saliva.

Mesmo assim, a investigadora explicou que não existem motivos para alarmismo: “Os atletas que participaram do estudo tinham, em média, um tempo de treino de nove horas, por semana.”