Nem pensar. Foi a primeira e Ferguson, na altura, queria que tivesse sido a última vez. Não o foi. Passou, isso sim, a acontecer menos vezes. Mas o recado estava dado. E até foi Carlos Queiroz a encarregar-se de o fazer chegar ao destino — mortais e acrobacias depois de a bola entrar na baliza, não. O alvo eram os ouvidos e os 20 anos de Nani, acabado de chegar ao Manchester United. O que se passara? O imberbe extremo, vindo do Sporting, cambaleara a aterrar um salto mortal.

A mesma acrobacia que hoje faz depois de quase todos os golos que marca. Mas Alex Ferguson não achava piada. E não achou quando, na primeira pré-época, na Ásia, com o jovem português, o viu a aterrar um desses mortais em falso, quando um dos tornozelos, por momentos, falhou a Nani — o tal que o mantivera lesionada durante uns dias. O treinador não gostou e, na altura, escreveu-se que escocês iria tornar isso claro com Nani.

A prioridade de Ferguson era a segurança. E evitar que algo de grave acontecera a alguém que só por ali andava porque o clube inglês pagara 22 milhões de euros para o contratar. No fundo, o escocês temia o pior. E pior aconteceu a Peter Biaksangzuala, jogador indiano, de 23 anos, que morreu no domingo, cinco dias após um salto mortal lhe correr mal durante um jogo.

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Após marcar um golo pelo Bethlehem Vengthlang, aos 62 minutos da partida frente ao Chanmari West, nas divisões regionais do futebol indiano, Peter nem um segundo esperou: deu uns passos, saltou e, com vários companheiros de equipa por perto, tentou fazer dois movimentos acrobáticos, quando estava no ar. O segundo fê-lo aterrar na relva com a cabeça. Não foi capaz de se levantar.

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Vários jogadores rodearam-no imediatamente. Peter seria depois encaminhado para um hospital, onde exames detetaram que sofrera várias lesões na espinal medula. Foi internado a 14 de outubro e acabou por não recuperar. Antes de falecer, contudo, Peter Biaksangzuala decidiu, “após a morte, doar os olhos a um cego, para que ele ou ela vissem o mundo e tivessem uma vida normal”, lê-se, no comunicado entretanto divulgado pela Mizora Premier League — prova na qual a equipa de Peter compete.

No domingo, a Indian Super League, competição que arrancou a 12 de outubro no país, autorizou que se cumprissem 30 segundos em silêncio em memória de Peter, antes dos jogos — que foram efetuados já no encontro entre o FC Goa, de Edgar Marcelino, e o Northeast United, de Miguel Garcia.

São vários os jogadores que, após marcarem um golo, o celebram com saltos acrobáticos. Além de Nani, também Hernanes, médio brasileiro do Inter de Milão, o faz — como mostrou no domingo, após marcar frente ao Nápoles, na Série A italiana. Também Miroslav Klose, o avançado alemão que, no verão, se tornou no melhor marcador de sempre na história dos Mundiais, tem o hábito de festejar os golos com um salto mortal.