É a cara de Cristina Ferreira, Sílvia Alberto e Marisa Cruz. Inês Franco vê na maquilhagem mais do que uma profissão: é uma espécie de magia capaz de transformar um rosto. Desde pequena que testava os dotes de maquilhadora e de cabeleireira nos bonecos. Aos nenucos pintava os olhos, carregava os lábios e as maçãs do rosto e às barbies, que já vinham pintadas, fazia cortes de cabelos mais e menos extravagantes. Apesar de uma infância que deixava antever a profissão que hoje faz dela uma figura pública — apesar de não gostar da expressão –, com direito a mais de 130 mil seguidores na página oficial de Facebook, Inês Franco terminou o liceu sem saber que rumo seguir.

Foi ao folhear uma dessas revistas de moda que encontrou um anúncio para um curso de maquilhagem e decidiu arriscar: “Eu própria não tinha a certeza daquilo. Custou muito convencer o meu pai. Aliás, ele ainda hoje não está convencido”, conta ao Observador. Depois de aulas dadas pela “mestre” Cristina Gomes, que trabalha com Catarina Furtado e Bárbara Guimarães, iniciou um estágio no programa televisivo Herman 98. A partir daqui a história começa a ser mais conhecida: sucessos definem uma carreira agitada, da qual não consta nem uma semana de interrupções.

Inês Franco tem 35 anos e um livro nas prateleiras desde sexta-feira passada — Guia Prático de Maquilhagem –, prestes a esgotar a exigir uma segunda edição, garante. Um primeiro trabalho literário dedicado por inteiro à maquilhagem, porque há dicas importantes a reter, como a ideia de que uma pessoa deve maquilhar-se, sempre que possível, com luz natural ou o facto de não se poder salientar, ao mesmo tempo, os olhos e os lábios. E porque “as maquilhadoras são a cara das pessoas que se vê lá em casa. Faz milagres e altera mesmo as feições do rosto.”

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Inês Franco

Como encara a maquilhagem?
A maquilhagem é magia. Consegue transformar uma pessoa, tanto para o lado bom como para o lado mau. Consegue tornar os rostos mais magros e os narizes mais finos, além de os arrebitar.

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O que pode a maquilhagem dizer de uma mulher?
Uma mulher que se maquilha tem um logo um ar de preocupada, é como passar por uma pessoa que tem as unhas descascadas. É uma questão de cuidado. Todas nós acordamos com cara de sono e com olheiras. O facto de perder 10 minutos de manhã — e já nem digo cinco minutos — diz muito. Se não queremos colocar base, pomos, ao menos, um corretor de olheiras, blush e muito rímel. E já ficamos com um ar muito fresco.

Tem por hábito maquilhar-te?
“Em casa de ferreiro, espeto de pau”. Mas, hoje em dia, já não é tanto assim. A Cristina Ferreira disse-me para dar o exemplo: se falo de maquilhagem, e digo que as pessoas devem andar maquilhadas, no mínimo tenho de fazer alguma coisa por mim. Mas, confesso, não tenho uma bolsa de maquilhagem em casa. Nem pincéis tenho. Se algum dia quiser maquilhar-me, tenho de ir ao carro buscar o material. De manhã, na TVI, vou sempre um bocadinho mais cedo para tomar o pequeno-almoço e, às vezes, nem tenho tempo para me maquilhar. Mas não passa de hoje que levo material para me maquilhar em casa.

Das vezes que se maquilha, o que coloca?
Corretor, blush e rímel, muito rímel.

Quais as ferramentas essenciais para uma maquilhagem correta?
Não se fazem omeletes sem ovos e os pincéis certos fazem metade do trabalho. Há pessoas que se maquilham com as esponjas das caixas de sombras e eu não sei como é que elas conseguem, fazem milagres — eu própria vejo-me grega para trabalhar com aquilo. Com um pincel certo fazes um eyeliner em cinco minutos, caso contrário este pode ficar grosso ou esborratado. Os pincéis são um investimento para a vida. Eu tenho pincéis, uns três ou quatro, que são de 1998. Agora, é preciso cuidar deles: têm de ser lavados e guardados com o pelo direito — muitos deles são pelos naturais — e não podem ser secos com o pelo para cima, para não entrar água para dentro do metal. Ao todo, são precisos nove pincéis: desde o pincel da base ao do corretor, para o pó, sombra-base, para fazer a arcada do olho, fazer e desfazer o eyeliner, blush e lábios.

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Atelier de Inês Franco

Diz que a maquilhagem é um processo simples… Onde começa?
É muito simples. Não precisamos de sair de casa todos os dias com uma maquilhagem à Cristina Ferreira. Cada pessoa tem um rosto e necessidades diferentes. Para uma pessoa que tenha uns olhos muito bonitos, com imensas pestanas, basta por rímel, um corretor de olheiras e um batom rosa choque (ou bordô, que está agora em voga). Não precisas de ter uma grande maquilhagem de olhos, basta ter um batom de cor.

Qual a ordem correta de aplicação da maquilhagem?
Nós fomos habituadas a fazer primeiro a pele e só depois os olhos. Depois de teres a pele muito limpa, vais trabalhar com as sombras e, de repetente, estás toda borrada. Aconselho a fazer primeiro os olhos: começa-se com a pálpebra superior, onde se aplica base ou o corretor de olheiras ou primer de olhos. É a primeira fase para preparar o olho para a maquilhagem. Depois vem a sombra-base, que se aplica na pálpebra móvel, seguida do eyeliner. Se o objetivo for fazer uma coisa mais carregada, o ideal é, a partir da terminação do eyeliner, começar a puxar as sombras para dentro — é fundamental seguir a linha de água de cada pessoa. Segue-se o rímel nas pestanas superiores. E agora a pele: aplica-se a base, que já vai ajudar a cobrir um pouco as olheiras, e que precisa de ser finalizada com pó translúcido (caso contrário, a base vai ficar manchada porque ela é cremosa e a pele produz óleo durante o dia). Caso a pessoa queira colocar o risco dentro do olho, pode fazê-lo. Mas é preciso ter em atenção qie o risco dentro do olho, se for escuro, não abre só fecha. Para finalizar, aplica-se o blush e o batom.

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Atelier de Inês Franco

Qual a importância de um bom batom?
Um batom dá logo cor ao rosto. Agora, é preciso ter sempre as olheiras disfarçadas. Ter uma cara de caca, mesmo tendo um batom muito bonito, não funciona. Nessas circunstâncias, o próprio batom vai dar o ar de alguém que acabou de sair da discoteca e só restou a cor nos lábios.

O que acha da moda das sobrancelhas mais grossas?
As sobrancelhas querem-se naturais, nem grossas nem finas. É muito giro falar de modas, mas cada rosto é um rosto. É preciso adaptar as tendências. Os batons coloridos também estão na moda, mas não fica tão bem em lábios finos — se a pessoa tem lábios finos, então que realce os olho e faça um smokey eye com lábios mate. Deve-se focar a atenção em apenas uma das coisas, ou olhos ou lábios, nunca os dois.

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Livro “Guia Prático de Maquilhagem”

Quais os erros mais comuns?
O mais feio de todos é usar pó bronzeador. As pessoas ficam com a cara muito morena e o pescoço muito branco. O produto é vendido para bronzear a pele, mas não o podemos usar só até ao maxilar. Para ficar natural, deve-se usá-lo em toda a pele que fica à mostra. Para mim, o pó bronzeador serve para modelar o rosto, não é a função para a qual foi criado, mas eu uso-o para isso (mate e sem brilho). Faz o rosto mais magro e disfarça as papeiras. Outro erro são os eyeliners brancos: ainda há muita tendência, sobretudo na faixa etária dos 40 anos, para usá-los. E lá porque o olho é azul não quer dizer que uma sombra dessa cor o faça mais azul. Nem o verde faz o olho mais verde, aliás, apaga um bocado. Isso é um erro grande: se uma pessoa quer realçar um olho azul, aplique antes um lápis roxo ou beringela. Também as cores mais claras por cima da pálpebra fazem o olho parecer mais pequeno. Ao escurecemos a base das pestanas acontecem duas coisas: o olho é aumentado, fica com mais expressão, e cria a ideia de que se tem muito mais pestanas.

Que dicas práticas de maquilhagem — para o dia e para a noite — aconselha?
Para o dia-a-dia.
Olhos: corretor para iluminar o olho, sombra clara (como bege ou dourado) e um risco por cima do olho com um lápis preto ou castanho à prova de água; a parte de cima do risco é esbatida com o dedo anelar, que tem mais sensibilidade, e, depois, coloca-se muito rímel.
Cara: aplicar corretor de olheiras e uma base compacta em pó — o corretor vem primeiro porque é cremoso –, seguido de um pouco de blush nas maçãs do rosto, um batom colorido, para arrasar, ou um gloss.

Para a noite.
Olhos: corretor (ou a base ou o primer de olhos), sombra-base clara e uma outra mais escura na pálpebra móvel, aplicada até ao osso do olho; usa-se um lápis preto ou um eyeliner intenso e alongado — pode-se colocar esse mesmo lápis dentro do olho — e com a sombra usada na pálpebra móvel fazer um esfumado por baixo do olho, junto às pestanas inferiores (para obter um sombreado igual ao que se fez em cima e, assim, um smooky eye), seguido de rímel em cima e em baixo.
Cara: colocar uma base adaptada ao tom e ao tipo de pele, seguida do corretor, pó translúcido e blush. E, depois de os olhos carregados, opta-se por um batom neutro.