A RTP suspendeu o espaço de comentário que o ex-primeiro-ministro José Sócrates tem aos domingos na RTP1, na sequência da sua detenção, e não irá ter “plano B”, disse neste sábado à Lusa do diretor de Informação.

O ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido na sexta-feira à noite, quando chegava ao aeroporto de Lisboa, vindo de Paris, no âmbito de um processo de suspeitas de crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção.

Esta é a primeira vez na história da democracia portuguesa que um antigo primeiro-ministro é detido para interrogatório.

Questionado pela Lusa sobre o que irá acontecer ao espaço de comentário que José Sócrates tem na RTP, após o Telejornal, o diretor de Informação, José Manuel Portugal, disse: “Não há plano B e não vai haver”.

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O responsável adiantou que “por razões óbvias, o espaço [de comentário] está suspenso”.

Sócrates iniciou o comentário político semanal na RTP em abril do ano passado, perante um coro de protestos que incluiu uma petição pública eletrónica, a qual recolheu mais de 100 mil assinaturas, e uma manifestação contra a sua presença na estação pública.

A 27 de março de 2013, quando Sócrates concedeu uma entrevista à RTP, depois ter perdido as eleições em 2011, menos de duas dezenas de pessoas concentraram-se à porta da RTP para protestar contra a sua presença na estação pública.

O protesto tinha sido marcado nas redes sociais, mas acabou por ter pouca adesão, com o grupo a desmobilizar algum tempo depois do início da entrevista ao antigo chefe de Governo. Nesse dia, também alguns apoiantes do antigo governante marcaram presença, terminando a ação de uma forma pacífica.

Entretanto a petição ‘on-line’ contra a presença de Sócrates “em qualquer programa da RTP” foi recusada por unanimidade pela comissão de Assuntos Constitucionais, em fevereiro deste ano, porque punha em causa a “liberdade de expressão e informação”.

A petição “contra a presença do ex-primeiro-ministro José Sócrates em qualquer programa da RTP” recolheu eletronicamente mais de 138 mil assinaturas.

Às primeiras horas de sábado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou, em comunicado, a detenção de quatro pessoas, entre elas Sócrates, depois de a notícia ter sido avançada pelas edições “on-line” do Sol e Correio da Manhã.

Fonte policial disse hoje à Lusa que os outros detidos são o ex-administrador do grupo Lena Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Ferreira e Joaquim Lalanda de Castro, representante da multinacional farmacêutica Octapharma, da qual o ex-primeiro-ministro foi escolhido, em 2013, para presidir ao conselho consultivo para a América Latina pelo “conhecimento profundo” da região.

No processo, segundo a PGR, estão a ser investigadas operações bancárias, movimentos e transferências de dinheiro sem justificação conhecida e legalmente admissível.

O inquérito está a ser desenvolvido no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e foram feitas buscas em vários locais, envolvendo quatro magistrados do Ministério Público e 60 elementos da autoridade Tributária e Aduaneira e da PSP.

Carlos Santos Silva, Gonçalo Ferreira e Joaquim Lalanda de Castro foram presentes a um juiz de instrução criminal na sexta-feira e os interrogatórios prosseguem hoje no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa.