O governo já tem em carteira dois nomes de potenciais sucessores de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal. O primeiro mandato do atual governador termina em meados deste ano e Carlos Costa, que tem estado debaixo do fogo desde a resolução do Banco Espírito Santo (BES), já terá informado o governo de que não pretende continuar.

Segundo o jornal Expresso, o executivo já identificou duas personalidades que considera terem perfil para poder ocupar o cargo. O primeiro será José de Matos. Seria o regresso a casa do atual presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos que em 2011 trocou o conselho de administração do Banco de Portugal, onde foi vice-governador durante nove anos, pela liderança do banco público.

O outro nome em cima da mesa, segundo o Expresso, é o de António Varela. O gestor foi administrador executivo da Cimpor e foi recentemente nomeado para a administração do banco central. Varela substituiu Pedro Duarte Neves na delicada pasta da supervisão do setor bancário.

Na sua tomada de posse, em setembro, deu nas vistas o discurso altamente elogioso da ministra das Finanças, para quem a supervisão, “área absolutamente crítica para assegurar a estabilidade financeira e as condições de financiamento essenciais ao crescimento sustentável, não podia ter melhor titular do que António Varela”. As palavras de Maria Luís Albuquerque foram vistas como uma crítica velada à atuação da equipa de Carlos Costa no caso BES.

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Na comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão do BES, os discursos do governador e da ministra sobre a solução aplicada ao banco não bateram certo. Enquanto Carlos Costa admite que a decisão foi política, Maria Luís Albuquerque assegura que não foi previamente consultada sobre a resolução que foi decidida pelo Banco de Portugal.

É à ministra das Finanças quem compete indicar o nome do governador do Banco de Portugal para aprovação em Conselho de Ministros, mas esta é uma decisão na qual o primeiro-ministro terá a última palavra. E Pedro Passos Coelho, noticiou já o Observador, tenciona tomar a decisão ainda no seu mandato, não obstante ela coincidir com o período que antecede as eleições legislativas.

Costa pode ficar até às legislativas de outubro

Já o Diário de Notícias avança este domingo um cenário alternativo em que o governador pode ficar no cargo até às eleições legislativas de outubro de 2015, prolongando alguns meses o seu mandato que termina em meados do próximo ano.

Segundo o DN, existe informação contraditória sobre o futuro governador do Banco de Portugal que ainda não terá assumido dentro do próprio banco que não quer fazer novo mandato. O jornal recorda que a escolha do governador deve ser consensual entre o PS e o PSD, pelo que pode fazer sentido esperar até se saber qual o governo que sairá das legislativas. Fontes citada pelo jornal referem que existem mais possíveis candidatos ao cargo de governador, para além dos dois avançados pelo Expresso.

Depois da ajuda externa, a crise do BES

Carlos Costa foi a escolha do ex-primeiro-ministro José Sócrates que foi buscar o quadro português à administração do Banco Europeu de Investimentos (BEI) para suceder a Vítor Constâncio. Costa assumiu o cargo em 2010, tendo enfrentado um teste de fogo quando Portugal pediu ajuda externa em abril de 2011, depois dos mercados internacionais fecharam a torneira de capital ao país e aos bancos. O acesso à liquidez e a estabilidade do sistema financeiro passaram a ser as prioridades.

Mas a maior dor de cabeça de Carlos Costa não foi a troika. Pelo menos diretamente. Os problemas do Grupo Espírito Santo (GES) são revelados na sequência de um exercício à solidez dos bancos exigido pelo Banco Central Europeu. O caso BES rebenta já depois da “saída limpa” de Portugal do programa de ajuda e faz cair o mais emblemático grupo financeiro nacional, de forma espetacular e inesperadamente rápida.

Desde a noite de domingo em que anunciou, sozinho, ao país a resolução do Banco Espírito Santo que Carlos Costa tem carregado o peso de ser o principal rosto de uma solução inédita na Europa e que provocou pesadas perdas a acionistas e investidores. O governador, que foi atacado nas primeiras sessões da comissão parlamentar de inquérito, queixou-se ao primeiro-ministro sobretudo das acusações feitas por deputados do PSD. Na oposição chegou a correr a informação de que Carlos Costa teria pedido a demissão.

O apoio de Passos Coelho foi dado em privado e em público, através da entrevista à RTP em que o primeiro-ministro foi firme na defesa da atuação do Banco de Portugal e do governador no caso BES. Os deputados do PSD recuaram no ataque a Carlos Costa.

O inquilino da rua do Ouro pode pelo menos vangloriar-se de ter travado uma crise sistémica na banca. O governador não se demite, mas também já terá tido que não quer fazer outro mandato. Antes de sair, Carlos Costa ainda terá de enfrentar os resultados da venda do Novo Banco, que poderão traduzir-se em prejuízos para a banca ou, no limite, para o Estado.