O Banco Central Europeu (BCE) lançou a 22 de janeiro um programa de estímulos ainda mais agressivo do que o próprio economista-chefe, Peter Praet, tinha proposto. A descida mais brusca do que se previa das expetativas de inflação e a perda de ímpeto económico na zona euro (sobretudo no terceiro trimestre) levou o BCE a optar por 60 mil milhões de euros em compras mensais de dívida, mais do que os 50 mil milhões propostos. O programa terá, ainda assim, uma duração mais curta (até setembro de 2016) do que Praet recomendava. As minutas da reunião reveladas esta quinta-feira mostram que o BCE teve em consideração as expetativas que se formaram nos mercados de que o programa seria lançado. O banco central estava “prisioneiro” dessas expetativas, diz um economista.

O BCE decidiu avançar com um programa de expansão monetária (quantitative easing) porque a zona euro enfrentava um “risco de um período demasiado prolongado de inflação demasiado baixa”. Esta situação “levantava a possibilidade de que as forças deflacionistas se enraizassem, o que não permite que se tenha uma atitude de ‘negligência benigna'”. Esta é uma revelação das minutas da reunião do Conselho de Governadores, algo que foi esta quinta-feira revelado pela primeira vez, imitando o que é feito, por exemplo, pela Reserva Federal dos EUA.

A autoridade monetária indicou que “as expetativas do mercado quanto a um programa de compras generalizadas, incluindo dívida pública, têm continuado a intensificar-se desde a última reunião do Conselho de Governadores, no início de dezembro de 2014”. “Com base no decréscimo das expetativas de inflação e nas declarações recentes por parte de alguns governadores, os participantes dos mercados esperam que um anúncio esteja iminente”, pode ler-se nas minutas da reunião.

Esta é uma das poucas novidades que constam do documento, diz Peter Vanden Houte, economista do ING, em nota de análise. Fica claro que “o BCE se tinha tornado prisioneiro das expectativas que o próprio BCE tinha criado em dezembro”, pelo que “não reagir [anunciando o programa] poderia ter criado uma inversão dramática do sentimento dos mercados”, afirma o especialista.

O documento mostra, também, que houve um consenso generalizado entre os membros do BCE de que a economia da zona euro continuava a caracterizar-se por uma situação prolongada de procura fraca. Ainda que se tenha notado alguma esperança de que a economia está prestes a melhorar um pouco, os governadores concordaram que os riscos continuam a pender para o lado negativo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR