Pedro Passos Coelho é um líder “frio”, Jerónimo de Sousa um “avô que todos os netos gostariam de ter”. Na imprensa internacional, as eleições legislativas portuguesas também são notícia. Depois da saída da troika de Portugal, o que dizem os jornais lá de fora das eleições portuguesas? As perspetivas da não existência de maioria absoluta, o caráter de alguns políticos portugueses e os eleitores portugueses estão em destaque.

O atual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho é visto, pelo El País, como “um homem frio e determinado” a quem, apesar dos cortes e aumentos dos impostos que impôs aos portugueses, e das privatizações que fez, as sondagens têm dado a vitória, “mesmo que parece incrível”.

O jornal espanhol afirma que, para Passos Coelho, a troika “mais que uma praga era uma benção, a desculpa perfeita para enfrentar as mudanças difíceis de assumir para a população portuguesa”. Argumenta, ainda, que Passos Coelho “agita o fantasma grego para quem tente votar à esquerda”.

A imprensa estrangeira diz que mesmo que a situação portuguesa não seja igual à da Grécia, que colocou a União Europeia em alerta, a noite eleitoral vai ser seguida. “O resultado [das eleições] vai ser observado atentamente em Bruxelas e pelos Estados-membros que se debatem com questões semelhantes” às portuguesas, lê-se na Euronews, apesar de, “da perspetiva da União Europeia, o drama ser muito menos intenso que na Grécia”. Ainda assim, o Wall Street Journal, numa breve de agenda, considera que “se as eleições não resultarem numa maioria no Parlamento (…) as negociações para formar um governo poderão arrastar-se”. Um possibilidade também avançada pelo Politico ao afirmar que o país “arrisca um impasse político” se ninguém obtiver a maioria absoluta.

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Sem o PCP, o El País (com base nas sondagens) diz que não há maiorias de esquerda no Parlamento português, e que o dicurso comunista “vive os seus momentos mais felizes desde os anos oitenta”. Sobre o líder comunista, têm uma perspetiva oposta àquela que têm de Passos Coelho. Jerónimo de Sousa é visto como “o avó que todos os netos gostariam de ter”.

E sobre os eleitores? O Politico refere-se aos eleitores portugueses como cautelosos, dizendo que, ao contrário dos gregos e dos espanhóis, não se viraram “em massa” para a esquerda política. Já a Euronews afirma que, segundo as sondagens, os portugueses “parecem prontos a expressar a sua insatisfação com a política tradicional não indo votar no domingo”, como fizeram em 2011 quando a taxa de abstenção atingiu um máximo histórico de 41.9%. O canal europeu cita uma eleitora lisboeta que argumenta que “as coisas não vão ficar melhores” e que os políticos “são todos ladrões”.

E no artigo em que “apatia” é a emoção atribuída aos portugueses, a Euronews recorda que “seja qual for o resultado, a disciplina fiscal é a mantra de todos os principais partidos”. Dado que a economia começa dar os primeiros passos para a recuperação económica, depois do “resgate de 78 mil milhões de euros”, essa “disciplina fiscal” é algo que os mercados “aplaudem”.

Mesmo com as medidas de austeridade levadas a cabo nos últimos quatro anos, Portugal, país em que “partidos moderados têm assumido o poder”, não assistiu “à ascensão de partidos radicais como Syriza, na Grécia, ou o Podemos”, em Espanha, refere a Associated Press (AP). No mesmo artigo, a AP refere um dos pontos divergentes entre os principais candidatos a primeiro-ministro. Enquanto António Costa, líder do Partido Socialista, diz que “agora é tempo de virar a página na austeridade”, Passo Coelho argumenta que se Portugal “continuar no caminho que tem seguido” não vai precisar de mais resgates.

Num artigo do Wall Street Journal (WSJ) é referido que “se há apenas algumas semanas os eleitores portugueses paraeciam pontos a castigar Pedro Passos Coelho” pelas medidas de austeridade que impôs ao país, as últimas sondagens feitas têm mostrado o líder da coligação PSD/CDS alguns pontos à frente do rival socialista. O WSJ salienta que, a ser re-eleito, Passos Coelho seria “o primeiro líder da zona a euro a conduzir na totalidade” um programa de austeridade “e a ganhar um novo mandato”.

O Politico argumenta que se a coligação PàF ganhar sem maioria absoluta, Passos Coelho poderá encontrar-se à frente de um governo “enfraquecido” sem conseguir avançar através “das reformas necessárias para consolidar a frágil recuperação económica do país”. E sobre cenários de coligação entre a PàF e o PS, ou o PSD e o PS, isto é, uma possível coligação de bloco central, como acontece na Alemanha, o Politico diz que é “improvável”.