Wine & Soul
Douro
Quando Sandra Tavares da Silva começou o estágio de enologia no Douro, na Quinta Vale D. Maria, a intenção era voltar logo que possível para Lisboa, região vitivinícola onde fica a Quinta da Chocapalha, um projeto familiar que a enóloga também abraçou. A primeira vindima em socalcos durienses foi em 1999 e foi uma vindima “especial”, tal como Sandra conta ao Observador: desde o primeiro dia ficou apaixonada pela região e também pelo homem que viria a ser seu marido, Jorge Serôdio Borges (então a trabalhar para a casa Niepoort). A partir desse momento, diz entre risos, tornou-se mais difícil marcar data de regresso à capital. Seguiu-se o casamento em 2001 e no mesmo ano era lançada a Wine & Soul, a materialização de um sonho antigo — fazer o próprio vinho. Atualmente a empresa tem oito referências, cinco vinhos de mesa e três vinhos do Porto, e quase 30 hectares de vinha dispersas pelo Vale do Pinhão (a maioria são vinhas velhas). O casal pode ter começado o projeto sem vinho ou vinhas, mas hoje a Quinta da Manoella, que pertencia à família de Jorge, é património de uma empresa que exporta 80% da sua produção.
Casa de Mouraz
Dão
António Ribeiro nasceu em Mouraz, no coração do Dão, entre as vinhas da família. Mas foi na cosmopolita Lisboa que estudou Direito, fundou uma revista de arte e apaixonou-se por Sara Dionísio, na altura professora de dança. Podem ter sido os ritmos mais e menos frenéticos da dança que uniram o casal, mas foram as uvas que lhes colaram os pés ao chão e lhes deram raízes fundas: em 2000 trocaram Lisboa por essa freguesia no Concelho de Tondela para criar a Casa de Mouraz e, com ela, os vinhos há muito idealizados. O primeiro vinho, nascido numa adega que não a de António e de Sara, foi lançado em 2001 e, se ao início contavam-se apenas 10 mil garrafas, hoje já são 100 mil — todos os vinhos derivam de castas tipicamente portuguesas (as tintas baga e jaen ou as brancas encruzado e bical, por exemplo) e de uma agricultura biológica e, mais recentemente, biodinâmica. Apesar de a adaptação à vida fora de Lisboa ter sido particularmente difícil para Sara, atualmente ela fala com orgulho da empresa que viu nascer e que já anda com vinhas por regiões como o Douro ou o Alentejo.
Vinhos Pedro & Inês
Dão
À partida não será preciso contar a história de amor entre o príncipe Pedro e a galega Inês de Castro, um romance já eternizado na literatura, música e cinema, além de continuamente homenageado no hotel Quinta das Lágrimas, bem no centro de Coimbra. É lá que se encontram, a par da Fonte das Lágrimas, os vinhos Pedro & Inês, branco e tinto, ambos com a assinatura do enólogo Carlos Lucas e com predominância de duas castas que representam ora Pedro ora Inês. No branco, colheita de 2015, a casta encruzado diz respeito à personagem de Pedro, enquanto a malvasia fina, mais suave e aromática, faz as vezes de Inês. Já no tinto (2012), é a vez de a casta alfrocheiro interpretar o príncipe enquanto a casta touriga nacional é tida como Inês. E se no primeiro vinho houve um namoro mais curto por parte das castas, com o vinho a estagiar pouco tempo em madeira, no tinto a corte foi demorada (estágio de 14 meses em carvalho francês). Os vinhos, 25€ cada um, podem ser adquiridos na própria Quinta das Lágrimas e também em algumas garrafeiras selecionadas no país, El Corte Inglés incluído.
Quinta do Gradil – 3 Podas
Lisboa
Talvez não seja o vinho mais romântico, mas o nome divertido com que foi batizado justifica a sua presença neste artigo. O vinho pertence à Quinta do Gradil, que cedeu as uvas, e é da autoria de um trio de humoristas: António Raminhos, Luís Filipe Borges e Pedro Fernandes. Esta história não tem príncipes nem casais destemidos que deixam tudo para trás em prol do vinho, mas antes a amizade dos humoristas com o administrador da Quinta do Gradil que, depois de celebrada em sucessivos brindes, resultou na ideia de lançar um vinho assinado pelos apresentadores do Fora do 5, na Antena 3. Raminhos, Borges e Fernandes participaram na vindima, na prova e na escolha do blend, processo que resultou num vinho à base de syrah, petit verdot e tannat, colheita de 2015. É este um vinho que acompanha qualquer tipo de carne, aliás “quanto mais beber, mais bonitas e tenras lhe vão parecer as carnes”, tal como referem os autores no contra-rótulo.
Casal Figueira – António 2015
Lisboa
Voltemos a um registo mais sério: o vinho em causa, nascido de vinhas velhas com mais de 50 anos e cuja colheita mais recente data de 2015, foi batizado em homenagem ao homem e produtor que faleceu enquanto pisava as uvas. Um ataque cardíaco fulminante levou António Carvalho aos 41 anos, mas não o legado de quem teimou em dar novo fôlego à pouco conhecida e muito temperamental casta vital. Marta Soares, a mulher do produtor, continuou a empreitada do marido e é ela que ainda hoje está à frente dos vinhos que nascem nas vinhas da propriedade Casal Figueira, na região vitivinícola de Lisboa. Este e outros vinhos são sobretudo uma ode aos 10 anos que Marta viveu lado a lado com António e à partilha de conhecimento vinícola durante a relação.
Casal Santa Maria
Lisboa
Não é a primeira vez (e provavelmente não será a última) que falamos da vida do barão Bodo von Bruemmer, o homem que aos 96 anos de idade acordou de uma operação a dizer que queria ir plantar uma vinha. Dito e feito: aos 96 anos de idade Bruemmer tornou-se produtor e durante quase 10 anos foi o nome por detrás dos vinhos do Casal Santa Maria, em Colares. Bodo von Bruemmer, cuja vida já aqui descrevemos, morreu no final de 2016 aos 105 anos. Apesar da longa vida, o barão que nasceu em 1911 numa província russa de nome Curlândia ouviu médicos dizerem-lhe mais do que uma vez que ia morrer. Numa das vezes, e a pensar na eventual viuvez da mulher, mudou-se para Portugal. Foi junto à orla costeira da Serra de Sintra que encontrou a casa onde viveria tantos anos e onde mandou plantar roseiras em homenagem à mulher. Apesar da despedida forçada do barão, os vinhos continuam a ser produzidos e a quinta Casal Santa Maria continua a receber visitantes.
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