Milo Yiannopoulos, o editor-estrela do site noticioso de extrema-direita Breitbart que é conhecido pelo seu estilo por vezes irónico e frequentemente controverso, volta a estar no centro de uma nova polémica. Desta vez, devido a comentários que fez num podcast onde pôs em causa a validade das leis que determinam uma idade mínima para menores de idade terem relações sexuais com adultos — algo que já lhe custou, entre outras coisas, um contrato para escrever um livro.
As declarações controversas foram inicialmente divulgadas em janeiro de 2016, no podcast “Drunken Peasants”. Nessa ocasião, Milo Yiannopoulos começou por dizer: “Isto é um ponto de vista controverso, eu aceito [isso]”. Depois, a seguir a um dos outros participantes ter dito que “há pessoas que [aos 13 anos] são capazes de consentir de forma informada ter sexo com um adulto”, Milo Yiannopoulos pegou nessa ideia e aprofundou-a. “A lei [da idade de consentimento] provavelmente é correta, provavelmente essa é a idade certa”, começou por dizer. “Mas há pessoas que são capazes de consentir em idades mais jovens e eu certamente considero-me uma delas, pessoas que se tornam sexualmente ativas mais cedo”, acrescentou.
De seguida, explicou que isso “acontece particularmente no mundo gay” — sendo que Milo Yiannopoulos é homossexual. “Esta ideia arbitrária e opressiva do consentimento (…) destrói totalmente a interpretação que muitos de nós temos. As complexidades e subtilezas e a natureza complicada de muitas relações.”
Referindo-se novamente ao “mundo homossexual”, acrescentou que “algumas das relações entre rapazes mais novos e homens mais velhos, o tipo de relações de entrada na vida adulta, [são] relações em que os homens mais velhos ajudam os rapazes jovens a descobrir quem eles são e dá-lhes segurança, amor e um tipo de estabilidade que eles não têm com os pais.”
No mesmo podcast, Milo Yiannopoulos fala de um “padre Michael” e graceja dizendo que “não seria tão bom a fazer sexo oral se não fosse por ele”.
Simon & Schuster cancela livro, conservadores tiram-lhe o palco
A carreira de Milo Yiannopoulos, que tem 32 anos, está repleta de polémicas, muitas delas que acabam por demonstrar ser passageiras e sem resultados ou consequências práticas. Esta, porém, já teve alguns desenvolvimentos. Um deles, foi a decisão da organização do Conservative Political Action Conference (CPAC), o congresso mais importante de personalidades e políticos conservadores nos EUA, de cancelar o seu discurso. Milo Yiannopoulos ia ser um dos principais oradores do congresso.
“Devido à revelação de um vídeo ofensivo nas últimas 24 horas a desculpar a pedofilia, a American Conservative Union [que organiza o CPAC] decidiu rescindir o convite”, disse o líder daquela organização, Matt Schlapp, num comunicado esta segunda-feira.
Outra consequência foi o cancelamento por parte da editora Simon & Schuster do livro de Milo Yiannopoulos, Dangerous. A data de lançamento estava prevista para 17 de março deste ano. Agora, tem uma nova data: 13 de junho. Ou seja, um ano e um dia depois do atentado na discoteca gay Pulse, em Orlando, na Flórida, onde um fundamentalista islâmico matou 49 pessoas.
O livro, pelo qual o autor terá recebido um adiantamento de 250 mil dólares (cerca de 236 mil euros) no final de 2016, não chegou a ser publicado. Agora, a Simon & Schuster, que foi alvo de críticas na altura em que o acordo se tornou público, decidiu voltar atrás com a decisão de publicar o trabalho de Milo Yiannopoulos. “Depois de uma ponderação cuidadosa, a Simon & Schuster e a sua chancela Threshold Editions cancelaram a publicação de ‘Dangerous’ de Milo Yiannopoulos”, informou aquela editora por comunicado, na noite de segunda-feira.
A informação foi confirmada pelo próprio Milo Yiannopoulos no Facebook — que está suspenso do Twitter desde julho de 2016 — com um post, onde escreveu apenas: “Cancelaram o meu livro”.
De seguida, escreveu outra entrada: “Já passei por pior. Isto não me vai derrotar”.
Noutro post, onde se identificou como “um homem gay e uma vítima de abuso”, disse que queria “sublinhar” o seu “total nojo por adultos que abusam sexulamente de menores”. “Eu tenho um horror à pedofilia e tenho dedicado grande parte da minha carreira como jornalista à exposição de abusadores de crianças”, disse.
Sobre as suas declarações que causaram esta polémica, fez um mea culpa. “Em parte, tenho culpa”, reconheceu, para depois acrescentar que pode ter sido mal interpretado graças ao seu estilo habitual. “As minhas experiências como vítima levaram-me a pensar que posso dizer o que quiser sobre este assunto, independentemente do quão ultrajantes elas possam ser. Mas eu compreendo que a minha habitual mistura de sarcasmo britânico, provocação e humor negro possa ter sido interpretada como frivolidade, falta de preocupação por outras vítimas ou, pior ainda, defesa [da pedofilia]”, disse. “Arrependo-me muito disso”, acrescentou. “As pessoas lidam com coisas do seu passado de várias maneiras.”
Milo Yiannopoulos marcou uma conferência de imprensa em Nova Iorque para esta terça-feira, para as 15h00 locais (20h00 em Lisboa).
No comunicado da American Conservative Union, esta nota era tida em conta mas ainda assim desconsiderada. “Sabemos que o senhor Yiannopoulos reagiu no Facebook, mas isso é insuficiente. É a ele que cabe responder às perguntas difíceis e nós instamo-lo a falar mais a fundo sobre estes comentários perturbantes.”
O episódio completo do podcast dos “Drunken Peasants” pode ser ouvido — e visto — no seguinte vídeo: