Um estreito de mar separa território americano de território russo. É lá que estão duas ilhas: uma dos Estados Unidos e outra da Rússia. E apesar de estarem a sensivelmente quatro quilómetros uma da outra, têm uma diferença horária de 21h. Atravessar o mar de uma para a outra é ilegal, mas existem planos de construir uma ponte que ligue, literalmente, dois continentes.
Da última vez que olhou para um mapa pensou na distância que realmente separa os Estados Unidos da América da Rússia? Apesar de num planisfério se encontrarem em lados opostos, apenas 3,80 quilómetros separam a Pequena Diomedes (EUA) da Grande Diomedes (Rússia). As duas ilhas fazem parte do mesmo arquipélago, mas as semelhanças acabam aí.
Linha Internacional de Data
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A Linha Internacional de Data é uma linha imaginária que atravessa o globo do Pólo Norte ao Pólo Sul e é usada como referência para a demarcação do calendário. É delimitada sensivelmente com base no meridiano 180º. Quando se atravessa esta linha, avança-se ou retrocede-se 24h. O território de Kiribati é o primeiro a entrar no ano novo, e esta linha atravessa o mar entre as Ilhas Diomedes.
É que nesses poucos quilómetros as ilhas são divididas pela Linha Internacional de Data que causa uma diferença horária de 21h entre uma e outra. Por esse motivo, a Grande Diomedes é chamada de Ilha de Amanhã e a Pequena Diomedes a Ilha de Ontem.
Por se situarem no Círculo Polar Ártico, o mar de pouca profundidade que as rodeia fica completamente congelado nos meses de inverno e, teoricamente, é possível atravessar a pé dos Estados Unidos para a Rússia. Mas na prática, é ilegal atravessar de uma ilha para a outra.
A hipótese de construir uma ligação entre as duas ilhas já é discutida há vários anos. Há, inclusive, planos para construir uma ligação entre o continente americano e a região da Sibéria, que atravesse o Estreito de Bering. Já se falou em túneis (um feito à imagem do Túnel da Mancha) mas o projeto mais popular passa por construir uma ponte. O nome não podia ser mais apropriado: Ponte Intercontinental da Paz.
A primeira vez que as ilhas foram descritas foi em 1648 pelo explorador russo Semyon Dzhnev, mas só em 1728 é que o navegador Vitrus Bering (que dá nome ao Estreito) pisou terra, precisamente a 16 de agosto, dia em que a Igreja Ortodoxa Russa celebrava São Diomede. Fez-se o batismo.
Quando, em 1867, os Estados Unidos assinaram a compra do território do Alasca ao Império Russo, as ilhas foram aproveitadas para demarcar a fronteira das duas nações. Quase um século depois, em plena Guerra Fria, as ilhas ficaram conhecidas como a “Cortina de Gelo“. Foi durante este período de tensão entre as duas potências que as ilhas foram palco de um acontecimento histórico: a nadadora Lynne Cox nadou de uma ilha para a outra e foi congratulada presencialmente por Mikhail Gorbachev (o então líder da URSS) e Ronald Reagan.
Atualmente, não há habitantes permanentes na Grande Diomede, depois do governo russo ter realocado a população em território continental, para construir na ilha uma base militar.
Mas na ilha que pertence ao território americano há uma pequena vila de 7,4 quilómetros quadrados com 115 habitantes (de acordo com os censos de 2010) na sua maioria esquimós nativos americanos, que ocupam as ilhas há 3000 anos, de acordo com alguns arqueólogos. 35% da população vive abaixo do limiar da pobreza.
Têm uma escola que serve 40 alunos, desde o jardim de infância ao 12.º ano, e não há infraestruturas de cuidados de saúde. Em caso de emergência (e se as condições climatéricas o permitirem) o transporte é feito por meios aéreos até ao continente. O solo encontra-se permanentemente congelado e, por isso, as sepulturas são erguidas à superfície.
Se o deixámos com vontade de visitar o arquipélago, saiba que é possível. A companhia Bering Air realiza voos entre Nome, no Alasca, e a Pequena Diomedes, mas só no inverno quando o mar congelado permite a construção de uma pista de aterragem provisória. Uma viagem a partir de Lisboa para Nome, em dezembro, custa cerca de 650 euros e implica três escalas em aeroportos americanos. A travessia de Nome para a Pequena Diomedes pode chegar aos 720 dólares (cerca de 660 euros).