Se o seu nome não é Lewis Hamilton, ou Valtteri Bottas, comprar um destes 275 supercarros que a Mercedes vai construir é a sua única possibilidade de conduzir qualquer coisa semelhante a um F1 moderno. O Mercedes-AMG Project One herda a mecânica de um F1, um V6 com apenas 1,6 litros, soprado por um único turbocompressor, e recorre a um sistema de sobrealimentação similar, o que lhe permite usufruir de um dos quatro motores eléctricos que possui, para evitar que o turbo tenha atraso na resposta ao acelerador. De caminho, este mesmo motor eléctrico (com cerca de 120 cv), produz energia a partir dos gases de escape, sempre que se desacelera, por exemplo.

Se o primeiro motor eléctrico está de serviço ao turbocompressor, e faz de gerador de corrente em algumas situações, há um segundo motor eléctrico, este substancialmente mais potente, com 161 cv, que está ligado à cambota. É alimentado pela bateria e ajuda o motor de combustão a enviar para as rodas traseiras um total de 670 cv.

Sob a roupagem do AMG One está muito do F1 da Mercedes, a começar pelo motor 1.6 V6 Turbo

A Mercedes não revelou qual é a potência do motor 1.6 V6, afirmando apenas que tem o seu regime limitado às 11.000 rpm (em vez das 15.000 rpm originais), para conseguir uma maior longevidade da mecânica e permitir-lhe funcionar com gasolina comercial de 98 octanas. Não se pode, pura e simplesmente, retirar 161 cv aos 670 cv para ficarmos com a potência do motor de combustão, pois a potência do motor eléctrico é modulada e é bem possível que próximo do regime máximo do V6, o motor eléctrico “ajude” com muito pouca potência, se alguma, uma vez que serve sobretudo para lançar o carro quando o motor de combustão gira nos regimes baixos e médios.

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Continuando a nossa contagem dos motores eléctricos do AMG One, podemos encontrar os dois que nos faltam (ambos com 161 cv cada e capazes de girar a 50.000 rpm, em vez das habituais 20.000) no trem dianteiro, que transformam este superdesportivo num modelo de tracção integral, pelo menos enquanto a bateria durar. Sabemos somente que, em modo eléctrico e apenas com tracção à frente, o One é capaz de percorrer 25 km em modo 100% eléctrico. Mas é certo que estes dois motores no eixo dianteiro, além de fornecerem potência, geram energia nas desacelerações e travagens, segundo a Mercedes, aproveitando até 80% da energia tradicionalmente perdida durante esta fase.

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Será capaz de bater a concorrência?

Ora aqui está uma resposta a que ainda não é possível responder. Mas lá que a máquina da Mercedes promete, isso é uma realidade. Para começar, a marca alemã anuncia que conseguiu um rendimento de 40% do motor térmico, algo similar ao que a Toyota anuncia para o Prius (um motor convencional oscila entre os 33 e 38% de rendimento), mas que é muito mais difícil de atingir num motor superdesportivo como este que, é sempre bom recordar, é similar ao que equipa os F1 de Hamilton e Bottas.

Depois, e como os F1 são mais leves do que o One e apenas podem utilizar durante alguns segundos, por regulamento, toda a potência dos seus motores eléctricos, a Mercedes quis que o One dispusesse dos 1.000 cv durante mais tempo, basicamente para evitar a crítica de Adrian Newey – o engenheiro que concebeu os Red Bull de F1 que deram quatro campeonatos do mundo a Vettel e é o pai do Aston Martin Valkyrie, grande rival deste AMG One – que afirmou necessitar para o seu supercarro de um motor térmico maior, pois, acredita ele, um carro de estrada precisa de ter sempre disponíveis os 1.000 cv e não apenas durante um bocadinho.

Assim, recorrendo ao mesmo sistema da F1 a 800 V (o dobro dos actuais carros eléctricos, mas o mesmo valor que o Grupo Volkswagen está a desenvolver e que deveremos ver pela primeira vez no Porsche Mission E), o One carrega mais baterias do que um F1, pois se estes alojam cerca de 40 kg de acumuladores de iões de lítio no seu interior, o novo superdesportivo atinge os 100 kg, possuindo quatro vezes mais células no seu interior.

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A marca alemã anuncia mais de 350 km/h de velocidade máxima e menos de 6 segundos de 0 a 200 km/h, o que são excelentes valores. Mas, por exemplo, a velocidade máxima é similar à anunciada pelo Ferrari LaFerrari de 963 cv (também ele híbrido, mas com 800 cv no motor de combustão), isto enquanto o Bugatti Chiron e o Koenigsegg Regera passam folgadamente dos 400 km/h (420 e 410, respectivamente). Vamos ter de esperar um pouco mais até o One anunciar ao mundo todo o seu potencial, sobretudo tudo aquilo que implique dispor da carga da bateria durante um período superior, como 0-300 km/h (na ausência de 0-400) e os 1.000 metros com arranque parado.

Do habitáculo pouco se sabe, apenas que o banco é fixo e são os pedais e o volante que se regulam à vontade do condutor. Os discos de travão são em carbocerâmica, os pneus Michelin Pilot Sport Cup 2 e o One ainda possui uma asa móvel na traseira, que age como travão aerodinâmico durante as travagens mais violentas. A caixa de oito velocidades é manual robotizada e faz parte integrante do chassi, a ponto de até as suspensões posteriores estarem fixas nos cárteres da caixa, como aliás acontece na F1. O preço, esse, foi fixado nos 2.275 milhões de euros e, ao que parece, todas as 275 unidades estão já apalavradas.