Wolfgang Schäuble vai mudar de cargo: deixa de ser o ministro das Finanças mais poderoso da União Europeia e passa a ser o presidente do Parlamento alemão. Com a sua saída do cargo, Angela Merkel terá liberdade para negociar o lugar de ministro das Finanças nas discussões para a constituição de uma aliança de governo com partidos minoritários, nomeadamente o Liberal.
O “melhor Chanceler que nunca o foi”, como é apelidado pelos seus apoiantes, falou muito sobre Portugal nos últimos anos. Primeiro, por causa da intervenção da troika; depois, por causa do governo da “geringonça”. Estas são as sete mais marcantes.
“Portugal não deve continuar a preocupar os mercados”
O Orçamento português para 2016 foi aprovado pela Comissão Europeia no dia 5 de fevereiro, mas Wolfgang Schäuble ainda não tinha garantias suficientes. De uma reunião do Eurogrupo saiu a exigência de um plano de contingência do governo português com medidas que teria de implementar de imediato para que o défice não derrapasse em 2016. O governo português concordou com as medidas, assinou-as mas, mesmo assim, à porta da reunião do Eurogrupo dia 11 de fevereiro, Schäuble deixou o aviso: “Estamos atentos aos mercados financeiros e, como acabei de dizer, acho que Portugal deve prestar muita atenção ao que se passa e não continua a perturbar os mercados, dando a impressão de que quer recuar no caminho percorrido até aqui. Isso sim, seria muito perigoso para Portugal. (…) Vamos continuar a encorajar firmemente os nossos colegas portugueses a não se desviarem do caminho de sucesso que tem sido percorrido”.
“Portugal deve fazer tudo o que está ao seu alcance para lidar com a incerteza dos mercados”
Apenas um dia depois, voltaria à carga. “Portugal deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para aplacar a incerteza dos mercados”, disse Schäuble depois de uma reunião do Ecofin, onde aproveitou para avisar que “vários ministros presentes na reunião” tinham apresentado “graves preocupações” com os juros da dívida portuguesa nos mercados internacionais e que tinham sublinhado o facto de o país não se mostrar “resiliente”.
“Portugal vai pedir um novo resgate e irá tê-lo”
Estávamos a 29 de junho de 2016 e, de repente, gerou-se o caos. Portugal, noticiava a Bloomberg, precisaria de um novo resgate e esse resgate ser-nos-ia concedido — Schäuble dixit. Chamou-se o embaixador alemão a São Bento, enviaram-se pedidos de esclarecimento para Berlim. Afinal quem é que tinha dito que Portugal necessitava de uma quarta transferência de fundos da “troika”? Ninguém. O governante terá dito que, caso não cumprisse as regras, Portugal precisaria de um novo resgate mas parece ter sido um caso clássico de lost in translation. Os jornalistas presentes na conferência de imprensa não entenderam as declarações do ministro como um “condicional” mas sim como um facto consumado. Eis o que Schäuble terá dito, segundo esclarecimentos que ele mesmo ofereceu depois: “Portugal estaria a cometer um erro enorme, se não cumprisse com os compromissos que assumiu. Portugal teria então de pedir um novo resgate. Os portugueses não querem um novo programa e também não precisam se cumprirem as regras europeias”.
“Portugal estava no caminho certo até eleger este novo governo”
Em Outubro de 2016, numa conferência de imprensa, o então todo-poderoso ministro das Finanças alemão bateu de frente com a coligação de esquerdas formada em Portugal depois das eleições de outubro de 2015.
“Portugal estava a ser muito bem-sucedido até entrar um novo Governo, depois das eleições […] e declarar que não iria respeitar os compromissos com os quais o anterior Governo se comprometeu”, disse o governante, respondendo a questões dos jornalistas em inglês numa conferência de imprensa.
Schäuble disse ainda ter avisado o governo português contra os riscos do caminho que estava a ser seguido. “Está a acontecer da forma como eu avisei o meu colega português [Mário Centeno] porque eu disse-lhe que se seguirem esse caminho vão correr um grande risco e eu não correria esse risco”, afirmou ainda.
“A decisão da Comissão Europeia de dar mais um ano a Portugal e Espanha para reduzirem o défice não contribuiu para ajudar à confiança”
Em maio de 2017, o ministro das Finanças da Alemanha criticou Bruxelas pela decisão de não aplicar sanções a Portugal e Espanha por terem falhado as metas do défice. Citado pela Bloomberg, Wolfgang Schäuble mostrou-se muito crítico da decisão tomada pelos comissários europeus porque, no seu entender, o facto de não ter havido sanções concretas, como por exemplo cortes nas transferências de fundos europeus, levaria os investidores e os responsáveis políticos a questionarem a validade das regras que existem na União Europeia em matéria de consolidação orçamental.
“Mário Centeno é o Ronaldo do Ecofin”
A expressão foi publicada em primeiro lugar pelo site de política “Politico”, na sua versão europeia: Wolfgang Schäuble apelidou Mário Centeno de “o Ronaldo do Ecofin”, o grupo de ministros das Finanças da União Europeia. “Há doze meses, era tudo tão diferente. Portugal estava à beira das sanções económicas da União Europeia e o sucesso do seu novo Governo de coligação de esquerda estava longe de ser assegurado. Hoje, já não viola as regras orçamentais da UE e espera entregar antecipadamente 10 mil milhões de euros ao FMI.”
“Portugal conseguiu progressos impressionantes”
Numa entrevista ao semanário Expresso, em julho de 2017, Schäuble disse que “Portugal conseguiu progressos impressionantes” mas alertou para a necessidade de contenção. “É importante que Portugal mantenha esse rumo”, avisou na altura.
“Portugal conseguiu progressos impressionantes. No âmbito do programa de assistência europeu, aplicou reformas necessárias e importantes par supera a crise. Reduziu-se o défice orçamental, a economia portuguesa voltou a crescer, mais pessoas encontram trabalho. Isto é um grande sucesso de que os portugueses se podem orgulhar”, disse ainda na mesma entrevista, onde aproveitou para acrescentar que o caso português servia para confirmar que “a política de estabilização europeia funciona”.
Schäuble disponível para trocar pasta das finanças pelo parlamento alemão