O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou esta sexta-feira a Comunidade Islâmica de Lisboa, com a Ordem da Liberdade, numa cerimónia em que se assinalaram os seus 50 anos.
“O Islão está na alma de Portugal”, afirmou o chefe de Estado, à entrada para esta cerimónia, na Mesquita Central de Lisboa, que contou com a presença do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e os antigos presidentes da República António Ramalho Eanes, Jorge Sampaio e Cavaco Silva.
Mais tarde, numa intervenção de dez minutos, Marcelo Rebelo de Sousa retomou esta mensagem, declarando: “Podemos, de quando em vez, não ter a consciência da profunda herança deixada pelos árabes na sociedade e na cultura portuguesa, mas ela foi e continua a ser muito importante”.
“Fernando Pessoa referia que a alma árabe é o fundo da alma portuguesa, o que vai muito além de um conjunto de palavras de raiz árabe existente no nosso léxico”, prosseguiu, recebendo palmas.
Segundo o Presidente da República, “com efeito, a presença árabe e a herança islâmica permitiram que se desenvolvesse um espírito ecuménico e de abertura entre os portugueses, que resulta de uma convergência de diferentes culturas e credos”.
O chefe de Estado defendeu que o princípio da liberdade religiosa consagrado na Constituição está “irreversivelmente enraizado” na sociedade portuguesa. “Negá-lo é negar a nossa natureza”, considerou. Depois, elogiou a Comunidade Islâmica de Lisboa, “a primeira comunidade islâmica na Península Ibérica após a retirada dos árabes deste canto da Europa”.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou-a como “um exemplo importante” num mundo “onde grassam exemplos de incompreensão pelo próximo, que levam a extremismos e violência”, por colocar “a tónica numa mensagem de paz, de abertura, de diálogo e de ecumenismo” e atuar “de forma concreta e empenhada na resolução de problemas sociais”, e disse esperar que assim se mantenha.
“Saibamos todos nós transmitir às futuras gerações estes valores humanistas que são, por natureza, os valores do Islão. Saiba a Comunidade Islâmica de Lisboa continuar a promover estes mesmos valores e consigam as futuras lideranças da comunidade respeitar e prosseguir o legado dos seus fundadores”, acrescentou.
O Presidente da República manifestou o desejo de que, em 50 anos, o centenário desta comunidade seja festejado “com o mesmo entusiamo pela mensagem de diálogo, ecumenismo, dádiva e paz, no fundo, de liberdade religiosa, de liberdade como um todo, que caracteriza o Islão em Portugal, e que bem legitima a condecoração desta instituição com a Ordem da Liberdade”, e terminou o seu discurso em árabe: “Que a paz e a bênção de Deus estejam convosco”.
A Ordem da Liberdade destina-se a distinguir “serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e à causa da liberdade”.