O rei espanhol salientou esta segunda-feira, na gala em honra do Presidente da República, que Portugal e Espanha caminham atualmente “juntos” e “de mãos dadas”, depois de terem deixado para trás os tempos em que estiveram de costas voltadas. “Ficaram para trás os tempos em que estivemos de costas voltadas e hoje vamos de mãos dadas e caminhamos juntos”, disse o rei Felipe VI no jantar de gala em honra de Marcelo Rebelo de Sousa que encerra o primeiro dia da visita de Estado do Presidente português a Espanha.

O rei espanhol agradeceu que o Presidente português lhe tenha atribuído o grande colar da Ordem da Liberdade, uma distinção atribuída aos chefes de Estado estrangeiros e que reconhece ações a favor da defesa da liberdade, democracia e direitos humanos. Numa cerimónia realizada a meio do dia na residência dos reis espanhóis, o Palácio da Zarzuela, Felipe VI também atribuiu a Marcelo Rebelo de Sousa o grande colar de Carlos III , uma condecoração a pessoas que tiveram destaque especialmente pelas suas boas ações em benefício da Espanha.

O rei de Espanha sublinhou que os dois países tiveram de atravessar crises económicas, mas hoje vivem tempos de recuperação económica que devem ser aproveitados para diminuir as desigualdades sociais, sem deixar para trás os mais vulneráveis. Felipe VI fez também uma referência à exposição sobre o escritor português Fernando Pessoa que está no museu Rainha Sofia de Madrid e que os dois chefes de Estado vão visitar na terça-feira.

Essa mostra “é um exemplo do dinamismo das nossas relações culturais”, considerou o rei, acrescentando que a “Espanha é uma grande admiradora da literatura lusa, mas também da sua música, dos seus magníficos artistas plásticos e do talento dos grandes arquitetos portugueses”. Felipe VI recordou que no próximo ano, em 19 de dezembro de 2019, se comemoram os 500 anos do “início de uma dos maiores feitos da história da humanidade”: a primeira viagem de circunavegação da Terra que, com o “impulso” da Coroa espanhola, foi iniciada pelo português Fernando de Magalhães e terminada pelo espanhol Juan Sebastián Elcano.

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“Somos bons sócios e amigos na União Europeia, na NATO e nas Nações Unidas”, disse o rei espanhol, recordando em seguida que o secretário-geral desta última organização internacional é o português António Guterres. Numa parte do discurso em que falou em português, Felipe VI sublinhou “a intensa e decidida participação de Portugal na Cimeiras Ibero-Americanas”.

Marcelo diz que relações refundaram-se com a democracia

O Presidente da República considerou que o relacionamento entre Portugal e Espanha foi refundado com a democracia e a opção pela integração europeia, que encerraram um tempo de “dúvidas e angústias” nas relações bilaterais. “Nada como a democracia para integrar antinomias, nada como a Europa para enquadrar incompreensões. Ambas nos obrigaram a reler o tempo anterior e a superar dúvidas e angústias, e a entender que a história não se reescreve nem se recria. É como é, um todo, constituído por gestos grandiosos e por pecados ignominiosos”, declarou.

O chefe de Estado destacou o “papel refundador” dos seus antecessores, defendendo que “deu substância a uma mudança irreversível nas relações entre os dois Estados” e mencionando-os um por um: António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a “genuína consideração e amizade” entre os presidentes de Portugal e o rei Juan Carlos e depois, com o rei Felipe VI, “tinha e tem uma dimensão política” e deu “um impulso determinante” às relações bilaterais.

No início da sua intervenção, o chefe de Estado expressou “admiração e amizade” em relação a Felipe VI, que elogiou “pelo sereno apego aos valores éticos e jurídicos, a natural humanidade, a sábia prudência, a aguda compreensão das pessoas e dos factos”. Depois, enalteceu a “dedicação” da rainha Letizia, “traduzida também em proximidade e sensibilidade para com tantas causas sociais e culturais abraçadas pela coroa”.

Sobre o anterior período das relações entre Portugal e Espanha, descreveu-o como “um tempo feito de longos e ricos séculos assinalado pela permanente dúvida, para não dizer angústia” quanto à conciliação pacífica das diferenças, com “aparentes convergências” que escondiam “efetivas desconfianças recíprocas, quando não mera indiferença”. “Assim aconteceu com as décadas do século XX que antecederam as nossas democracias, durante as quais foi patente a oposição entre a visão continental de uns e a visão colonial de outros. Até que as nossas democracias e a nossa opção europeia viraram uma decisiva página da história”, afirmou.

De acordo com o Presidente, desde então, as sociedades portuguesa e espanhola aprofundaram a sua ligação, “era como se os povos só se descobrissem em profundidade depois de haverem atravessado oceanos para descobrirem novos mundos”. Em castelhano, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que o “tempo radicalmente novo” que se vive “relativiza queixas antigas ou novas reservas mentais” e exige que Portugal e Espanha “prossigam e acelerem e antecipem um caminho de futuro — tal como o fizeram, nestas décadas de reencontro, milhões de espanhóis e de portugueses, continentais e insulares, de todas as latitudes e longitudes”.

No final do seu discurso, o chefe de Estado brindou “à saúde e felicidade pessoal e institucional do rei Felipe VI e da rainha Letizia, à prosperidade material e espiritual de Espanha” e “à indelével e fraterna amizade” entre os dois povos e Estados.

Marcelo Rebelo de Sousa continua a sua visita de Estado a Espanha na terça-feira participando, entre outros eventos, num encontro de empresários e agentes económicos dos dois países e tendo uma reunião com o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. A deslocação termina na quarta-feira com uma deslocação a Salamanca em que numa parte do programa também vai estar acompanhado por Felipe VI.