O Jornal de Angola critica, no editorial deste sábado, as “ervas daninhas” das relações luso-angolanas, referindo-se às posições assumidas pela eurodeputada socialista Ana Gomes, que alerta constituírem o “único irritante” entre os dois países.

No editorial, o jornal detido pelo Estado angolano reage às recentes declarações de Ana Gomes à TSF. Em entrevista à rádio, a eurodeputada afirmou que a transferência para Luanda do processo do ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente — que era exigida pelas autoridades angolanas e que o Governo português classificava como “o único irritante” nas relações bilaterais — “foi fabricada à medida do que era conveniente para fazer desaparecer ‘o irritante’”. Para Ana Gomes, a “influência política” no caso é “óbvia”.

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“Quando pensávamos todos que o processo de normalização das relações entre as autoridades políticas portuguesas e angolanas conhecessem um momento reciprocamente vantajoso, eis que não faltam vozes que preferem correr em contramão”, começa por descrever o editorial deste sábado, intitulado “As ervas daninhas das relações luso-angolanas”. Segundo o jornal, “de algum tempo a esta parte, uma das vozes desestabilizadoras, do tipo ervas daninhas” das relações entre Angola e Portugal, “com recurso ao que para muitos parecem tentativas frustradas de ajuste de contas políticas, tem sido indubitavelmente a eurodeputada socialista, Ana Gomes”.

O jornal fala mesmo numa “cruzada” da socialista “contra o Estado angolano e contra as autoridades angolanas”, nas posições assumidas, recordando que no processo judicial envolvendo o ex-vice-presidente de Angola, “as autoridades portuguesas sempre fizeram constar, com toda a razão e sentido de Estado, que por força da separação de poderes o poder político não podia interferir nas decisões dos tribunais, de resto uma posição em que também alinha o Estado angolano”.

“Pretender que houve pressão política interna das autoridades políticas para as judiciais, a fim de se efetivar a transferência do processo para Angola é de uma irresponsabilidade política, da parte de Ana Gomes, mas que, a ninguém surpreende. Provavelmente, se não ocorresse a decisão do poder judicial português de enviar o processo do antigo vice-presidente para Angola, Ana Gomes teria inventado outras ‘barbaridades verbais’, um comportamento errático e obsessivo que começa a transformar-se, isso sim, no ‘único irritante’ laço entre os dois povos”, aponta o editorial do Jornal de Angola.

Na quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal desmentiu “em absoluto” que as autoridades políticas portuguesas tenham exercido pressão política para que a justiça decidisse enviar o processo do ex-vice-presidente angolano para Luanda, como afirmou a eurodeputada socialista Ana Gomes. “No que me diz respeito, se a alegação de que houve pressão política quisesse dizer pressão das autoridades políticas portuguesas, eu desminto em absoluto”, afirmou aos jornalistas Augusto Santos Silva.

“O que mais contribui para tentativas de descarrilamento das relações entre os dois Estados são essas ervas daninhas, nos dois lados, herdeiras de um passado que não volta e sedentas do advento de uma era que não chegará nunca”, acrescenta, por seu lado, o editorial. Por isso, o Jornal de Angola alerta: “Não é exagerado esperar um posicionamento mais firme das autoridades angolanas contra quem fala, age e atua contra si, contribuindo para todos os efeitos negativos deste procedimento recorrente”.

Defendeu que “é verdade que relativamente à relação dos Estados, as autoridades angolanas estão descansadas”, em função das posições assumidas pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, mas que “não podem” ficar “impassíveis diante de palavras tão graves e irresponsáveis da eurodeputada Ana Gomes”. “Sempre que pode e não se sabe exatamente movida por que razões, lança todo o seu fel contra tudo o que diga respeito a Angola e as suas autoridades. As autoridades angolanas não se vão deixar intimidar por essas ervas daninhas, dentro e fora de Angola, que procuram inviabilizar o crescimento da planta nascida com o atual processo de reaproximação entre Angola e Portugal”, conclui o editorial.