Francisco Ramires, Tomás Ribeiro, João Alves e Guilherme Gomes estudam Engenharia e Gestão Industrial: Francisco é o único que está na Universidade do Minho, o restante grupo estuda na Universidade do Porto. Não se conheceram todos ao mesmo tempo, mas sempre partilharam um espírito empreendedor. Acreditam, aliás, que cada pessoa tem um pouco de empreendedorismo em si e deve sempre “ser parte da solução e não do problema”.

Em 2016, depois de terem feito parte de uma organização europeia de estudantes, Francisco e Tomás começaram a trabalhar numa empresa de marketing, até que a certa altura deixaram de se identificar com o seu modelo de negócio e sentiram que precisavam de mudar de rumo. “Despedimo-nos e decidimos montar a nossa cena”, conta Francisco ao Observador. À “cena” juntaram-se João e Guilherme.

Numa noite de inverno, enquanto comiam uma francesinha na Cervejaria Brasão, no Porto, os quatro estudantes conversavam sobre a forma como as marcas comunicam com o público e perceberam que havia algo de errado que eles próprios também sentiam: “Era tudo a mesma coisa, tudo uma seca”. Porquê? “As marcas estão constantemente a publicar conteúdos, querem cliques nos anúncios, mas não se interessam pelo que as pessoas realmente querem”, responde Francisco. Por outro lado, só pessoas com redes muito alargadas é que têm acesso a alguns privilégios oferecidos em troca de publicidade, acrescenta. O grupo queria mudar esta mentalidade e já tinha o problema em cima da mesa. A solução chegou “umas cervejas depois”: “E se criássemos a maior marca por influenciadores que pudesse dar descontos da forma mais fácil e rápida possível?”

Foi durante um jantar que os quatro estudantes de engenharia definiram a Strain e os seus objetivos.

Foi assim, numa simples conversa de amigos, que nasceu a Strain, uma plataforma de recomendações digitais que permite a uma comunidade de nano-influenciadores (qualquer pessoa com uma conta ativa nas redes sociais) receber cupões de desconto das marcas em troca de uma publicação no seu perfil do Instagram ou Facebook sobre a marca escolhida. “Paga menos, vive mais” é o mote que adotaram.

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O processo foi pensado para ser o mais simples possível: através do website da Strain, o utilizador regista-se e vê as campanhas e os descontos que estão disponíveis e que mais lhe agradam. Depois de escolher a campanha, tem de fazer uma publicação ou uma story no Instagram ou um post no Facebook com algo relacionado com a marca. Por fim, o cupão de desconto é disponibilizado na área pessoal e pode ser utilizado imediatamente. Além disso, quanto mais amigos os utilizadores convidarem, maior poderá ser o desconto.

O início “de porta em porta”

Para colocar a ideia em prática, o grupo começou por elaborar um formulário que teve mais de 400 respostas, com o objetivo de perceber os interesses e gostos das pessoas e que valor era justo negociar com as marcas. Em termos de investimento, Francisco explica que tudo partiu dos quatro jovens e que o investimento externo acabou por não ser necessário, pois apesar de trabalharem todos em conjunto, “cada um tem competências próprias que permitiram levar o projeto para a frente”. Guilherme desenhou o logo e toda a comunicação da Strain, João é “o génio da programação”, Tomás tem sido a cara da equipa nos concursos de empreendedorismo nas competições e Francisco é quem trata da gestão das parcerias e do marketing da plataforma.

De início, tiveram de andar “de porta em porta” para saber que marcas estariam interessadas em colaborar com a plataforma. Há quatro meses, quando a Strain foi lançada ainda numa fase de testes, era preciso estar em constante interação com as marcas e com o público para saber se havia algo a melhorar ou a corrigir. “Lembro-me que no início, quando alguém queria o cupão de desconto no momento, nós tínhamos de ir a correr para casa e ligávamos o computador muito rápido para conseguir enviar o cupão”, recorda um dos fundadores. Atualmente, a Strain já fez seis campanhas (uma das primeiras foi com a Cervejaria Brasão) e tem outras seis a funcionar , tendo registado cerca de 100 utilizadores, cujas publicações nas redes sociais tiveram um alcance de quase 40 mil pessoas. E isto “numa fase que ainda é de teste e não tem faturação”, reforça Francisco.

Os apoios vêm principalmente das competições em que o grupo participa. A ideia já lhes valeu o 2.º lugar no Launch Program da Startup Braga, uma das grandes incubadoras do país em termos de startups, e estão atualmente a participar no Idea Lab da TecMinho da Universidade do Minho. Tomás, que está a escrever a sua tese de mestrado sobre a plataforma, vai participar no European Innovation Academy.

Exemplo de um post que os utilizadores da Strain podem fazer para obter o seu desconto.

Uma força que causa impacto

Muitos dos dias de Francisco, Tomás, João e Guilherme são passados entre a faculdade e a “casa” da Strain, que se localiza nos escritórios que a mãe de Tomás deixou para trabalharem. Conciliar o projeto com os estudos “não tem sido fácil”, confessa Francisco. Mas, acrescenta: “Queremos ser uma marca que se liga às pessoas e que mostre que somos pessoal que trabalha, faz acontecer e estuda ao mesmo tempo como qualquer outra pessoa pode fazer”.

O objetivo da Strain, contam os fundadores, passa não só por dar a oportunidade de obter produtos e serviços a um preço mais baixo, mas acima de tudo por “resolver a necessidade de relevância na publicidade” e dar liberdade para os jovens comunicarem livremente sobre as marcas que mais apreciam, através de histórias originais e envolventes. “Queremos devolver o poder à nossa geração, deixando-a comunicar”, acrescentam.

Estas pessoas conhecem os seus amigos, as suas famílias e as suas comunidades nas redes sociais como ninguém. Sabem o que escrever, que imagens colocar e isto cria confiança. Já não é publicidade, são recomendações de qualidade para os seus amigos”, sublinham os fundadores da plataforma.

Strain significa, em português, uma força que causa impacto. E, explica Francisco, é isso em que o grupo acredita: “Que cada uma das pessoas tem impacto na sua comunidade seja com 200 seguidores seja com 10.000”.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.