Os bombeiros gregos encontraram os corpos de mais três pessoas em Mati, vítimas dos incêndios que lavram desde segunda-feira na localidade nos arredores da capital da Grécia, aumentando o número de vítimas mortais para 81, dos 77 que as autoridades haviam anunciado às 15h00, hora de Lisboa, desta terça-feira, avança o jornal grego Proto Thema. O incêndio na região foi entretanto extinto e a Proteção Civil local indica que está prevista chuva intensa e tempestades nos próximos dias, o que pode prevenir a hipótese de reacendimentos.

As autoridades esperam que o número de vítimas mortais volte a aumentar numa altura em que continuam a verificar as casas na localidade, mas ainda só terão conseguido chegar a menos de um terço das 1.500 casas na zona. 187 pessoas estão feridas e o número de desaparecidos não é oficial: as autoridades indicam que é impossível avançar com um número absoluto de desaparecidos, já que muitas pessoas já regressaram para junto das famílias mas não notificaram as autoridades, enquanto que outras que estão na lista de desaparecidos estão já também na lista das vítimas mortais.

Esta terça-feira, o porta-voz dos bombeiros Stavroula Malki, anunciou que o número de mortes tinha chegado aos 74. No entanto, as autoridades continuaram a verificar uma a uma, mas só terão chegado a 450 das 1500 casas do lugar onde os residentes da capital aproveitavam alguns dias de férias.

O número de vítimas mortais aumentou para 81 , depois de as autoridades terem encontrado mais três pessoas sem vida na verificação que está a ser feita em Mati e Rafina. As autoridades esperam que o número de vítimas mortais aumente e ainda há mais de 100 pessoas desaparecidas.

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Há também registo de 187 feridos, dos quais 164 adultos e 23 crianças. Destes, apenas cerca de 70 permanecem nos hospitais gregos. Das 23 crianças feridas, 12 já receberam alta.

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O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou três dias de luto nacional pelas vítimas. Mas as indicações de que o Estado pode ter falhado na resposta aos fogos, devido à demora na resposta aos fogos pelas autoridades e que não haveria plano para a evacuação da população, já levaram a que um procurador do supremo tribunal ordenasse a abertura de um inquérito. Entretanto, quatro pessoas foram detidas esta quarta-feira por suspeitas de saques na região de Neos Voutzas, nos arredores de Atenas. O grupo de quatro indivíduos, de acordo com o jornal Ekathimerini, terá entre 22 e 26 anos.

“Infelizmente encontrámos 26 corpos carbonizados”, confirmou o presidente da Cruz Vermelha grega, Nikos Economopoulos, citado pelo jornal de Atenas Kathimerini, a propósito das 26 vítimas mortais encontradas esta terça-feira. Muitas das vítimas ficaram encurraladas na estância balnear de Mati, a 40 quilómetros da capital, e foram apanhadas pelas chamas nas suas casas e nos seus carros.

“Fui informado por um elemento das operações de resgate de uma fotografia chocante que mostrava 26 pessoas num campo situado a 30 metros da praia” de Mati, apontou Nikos Economopoulous à televisão grega Skai, esta terça-feira. “Tentaram encontrar uma rota de fuga mas infelizmente estas pessoas e as suas crianças não conseguiram encontrá-la a tempo”, disse ainda o responsável.

O fumo intenso causado pelas chamas terá sido a principal causa das mortes, incluindo a do grupo de 26 pessoas que foi encontrado perto do mar, afirmou um comandante dos bombeiros.

“Penso que o principal problema foi o fumo. Ao fim de três inspirações, as pessoas ficam em dificuldade”, disse o major Inanis Artopius, do 9.º regimento de bombeiros de Atenas, à agência Lusa.

[Os incêndios na Grécia vistos em imagens aéreas. O vídeo foi divulgado pelo Ministério da Defesa grego:]

Teme-se que o número de mortes seja ainda maior, uma vez que os serviços de emergência continuam a receber telefonemas a alertar para o desaparecimento de pessoas. Os próprios bombeiros alertaram para essa possibilidade.

Segundo o jornal britânico The Guardian, as 26 vítimas mortais encontradas esta segunda-feira estavam “agarradas umas às outras, de forma firme”. O El País usa a expressão “abraçadas”. De acordo com uma agência de viagens polaca, citada pela Sky News, uma mulher polaca e o seu filho estavam entre um grupo de dez pessoas que se afogou quando o barco em que a polícia marítima grega os colocou para fugirem de Mati naufragou.

Um bombeiro tenta apagar um incêndio em Kineta, perto de Atenas. (VALERIE GACHE/AFP/Getty Images)

Os incêndios devastaram casas, destruíram viaturas e obrigaram a diversas evacuações, com as autoridades a declararem o estado de emergência e a pedirem ajuda europeia. Os principais focos de incêndio encontram-se na cidade costeira de Mati, em Kineta e em Nea Makri. Desde que os incêndios começaram a alastrar, centenas de crianças foram já evacuadas de campos de férias em Mati. As chamas levaram a que muitos turistas e também cidadãos gregos fugissem do fogo para as praias a leste de Atenas.

O pedido formal de ajuda à União Europeia para envio de meios foi endereçado ao final da tarde de segunda-feira. O governo grego pediu helicópteros e meios humanos aos restantes países. Chipre, Espanha, Alemanha, Itália, Polónia, França e Portugal já acederam aos pedidos de ajuda. Ao todo, já foram resgatadas perto de 700 pessoas de refúgios que encontraram para resistir aos incêndios.

Casas e carros destruídos, bombeiros exaustos e o céu cheio de fumo. As imagens da tragédia dos incêndios na Grécia

“É uma noite difícil para a Grécia. Todos os serviço de emergência foram mobilizados. Vamos fazer tudo o que for humanamente possível para controlar isto”, disse na segunda-feira o primeiro-ministro Alexis Tsipras, que antecipou o seu regresso para Atenas, depois de uma viagem à Bósnia-Herzegovina, para acompanhar a situação a partir do Centro de Coordenação Unificado.

Já o ministro da Administração Interna (Ordem Pública), Nikos Toskas, pediu cautela aos cidadãos e sugeriu que os incêndios podem ter sido ter mão criminosa Este é o pior verão de incêndios na Grécia desde o verão de 2007, quando mais de 81 pessoas morreram na sequência de chamas que alastraram entre final de junho e início de setembro. Os incêndios deste ano, contudo, poderão ser mais graves: em apenas dois dias, registam-se já meia centena de mortos.

Costa e Marcelo enviam condolências

O presidente da República e o primeiro-ministro de Portugal já reagiram aos incêndios que causaram pelo menos 81 mortes na Grécia. Em nota publicada no site da Presidência, lê-se que Marcelo Rebelo de Sousa “falou longamente ao telefone com o presidente Prokopis Pavlopoulos, expressando as mais sentidas condolências aos familiares das vítimas mortais, bem como votos de rápidas melhoras a todos os feridos”.

[O Presidente da República] transmitiu ainda a sua profunda e fraterna solidariedade para com o povo grego, lembrando a tragédia do mesmo tipo que também vivemos em Portugal no ano passado.

Já António Costa reagiu no Twitter. O primeiro-ministro revelou já ter transmitido ao seu homólogo grego, Alexis Tsipras, “a disponibilidade e a solidariedade portuguesas e as condolências ao povo grego e às famílias enlutadas”.

Também Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, enviou uma mensagem de solidariedade através do Twitter.

“Felizmente o mar estava ali”

Centenas de bombeiros continuam a tentar controlar os grandes incêndios que assolam a Grécia desde o início da tarde de segunda-feira, mas os trabalhos estão a ser dificultados por ventos fortes.

Um dos sobreviventes dos incêndios, Kostas Laganos, contou que foi precisamente o mar que o salvou. Laganos estava na zona costeira de Mati quando as chamas se aproximaram. “Felizmente o mar estava ali e fomos para o mar, porque as chamas perseguiam-nos até à água. As chamas queimaram-nos as costas mas mergulhámos para o mar… Disse: meu Deus, temos de correr para nos salvarmos”, afirmou o residente, citado pela BBC.

Mati, situada na região grega de Rafina-Pikermi, foi a localidade mais afetada pelos incêndios. Popular entre turistas e jovens, que ali se deslocam durante as férias de verão, o município é presidido por Evangelos Bournous. Em declarações à imprensa grega, este político afirmou que viu “pelo menos 100 casas em chamas” e que o foco de incêndio na região é “uma catástrofe total”.

Um bombeiro tenta extinguir as chamas numa habitação em Kineta, perto de Atenas. (VALERIE GACHE/AFP/Getty Images)

Um dos incêndios, em Kineta, a cerca de 50 quilómetros de Atenas, obrigou à evacuação de três localidades, reduzindo a cinzas numerosas casas e motivando o encerramento de dezassete quilómetros da autoestrada de Olímpia, que liga a capital a Peloponeso. O primeiro foco de incêndio a alastrar na Grécia terá surgido precisamente perto de Kineta.

[Como o primeiro foco de incêndio alastrou em Kineta, na Grécia:]

O verão na Grécia tem sido quente, com as temperaturas máximas a superarem em alguns os dias os 40ºC. Nos últimos dias, as temperaturas máximas na Grécia superaram os 30ºC. A junção de temperaturas altas, ventos fortes e uma zona costeira (Mati) com vegetação densa estão a fazer destes incêndios uma verdadeira tragédia no país.

O cenário no município de Rafina, já esta terça-feira. A região abrange a zona costeira de Mati, a mais afetada pelos incêndios que alastram na Grécia desde segunda-feira (ANGELOS TZORTZINIS/AFP/Getty Images)

No combate às chamas, as autoridades gregas apelaram aos residentes das áreas mais afetadas para abandonarem as suas casas. Alguns tentaram resistir. “As pessoas deviam fugir, deixar as suas casas e partir. É impossível tolerar tanto fumo durante muitas horas. Isto é uma situação extrema”, apontou um dos porta-vozes dos bombeiros gregos, Achilleas Tzouvaras.

“É um Inferno negro”

Kostas Koukoumakas, jornalista presente na localidade turística de Mati, descreveu o cenário que observou: “O que está a acontecer aqui é um inferno negro. Depois de ter passado por centenas de carros e casas em chamas, cheguei ao pátio em que, segundo a polícia, muitas pessoas [26] foram encontradas mortas”.

Consegui ver algumas pessoas deitadas no chão, enquanto a névoa cobria o local e um cheiro tóxico estava espalhado pela atmosfera”, referiu ainda.

Kostas Koukoumakas refere que muitas das vítimas encontradas esta terça-feira eram “turistas que tentavam encontrar refúgio mas não conseguiram”. O jornalista encontrou ainda um popular, Spiros Hatziandreou, no local, que lhe disse estar a tentar ligar a um primo. “Mas ele não responde.” Koukoumakas viu “chamas nas árvores e pilares de eletricidade por todo o lado. Depois disto, a polícia bloqueou o acesso a toda a gente, exceto equipas de resgate”.

Ouvida pela estação de televisão grega Skai TV, uma mulher presente em Mati afirmou: “Mati já nem sequer existe como povoação neste momento. Vi corpos, carros queimados. Sinto-me sortuda por estar viva”.

[A Organização Internacional de Meteorologia revelou uma imagem de satélite de Kineta, a localidade onde surgiu o primeiro grande foco de incêndio na Grécia:]

https://twitter.com/WMO/status/1021662946739535872

“É terrível veres alguém ao teu lado afogar-se”

Nikos Stavrinidis foi um dos sobreviventes que se refugiou no mar, na vila costeira de Mati. Num testemunho recolhido pela agência de notícias Associated Press, citado pela Sky News, Stavrinidis conta como viveu os acontecimentos: “O fogo apareceu muito rapidamente. O vento era indescritível, era incrível. Nunca tinha visto nada assim. Caímos ao mar e tentámos afastar-nos [das chamas], evitar o dióxido de carbono… mas, à medida que avançávamos, havia muito vento que nos puxava contra a costa. Não conseguíamos ver bem onde estávamos.

O que me cheateia e que levarei para sempre no meu coração é a sensação terrível de ver a pessoa que está ao lado afogar-se e não ser capaz de a ajudar. Não conseguir. Isso é a única coisa trágica — ficará comigo para sempre”, acrescentou o sobrevivente.

Críticas à resposta das autoridades: “Não havia um plano”

Esta terça-feira, foram vários os populares que criticaram a resposta das autoridades aos incêndios, argumentando que os bombeiros e a Proteção Civil dedicaram demasiada atenção ao primeiro incêndio em Kineta e ignoraram em demasia o perigo do foco de incêndio posterior, na vila turística de Mati. Foi aí que esta terça-feira foram encontradas 26 vítimas mortais.

O jornal inglês The Guardian cita um depoimento de uma residente em Mati, “Christina”, à rádio helénica Thema 104.6, em que esta dizia que as autoridades “não tinham plano” de resposta. “Nem uma gota de água foi atirada para as chamas porque eles estavam concentrados na zona ocidental. É por isso que as pessoas arderam. Ninguém foi informado por ninguém”, acrescentou a local.

Estivemos a ver o incêndio desde o primeiro momento. Não era enorme. Desceu [das montanhas] em duas horas. É mentira que tenha descido em meia hora. Havia tempo [para responder], não havia era plano de resposta. Nem mesmo um plano de fuga. Fomos salvos por um ‘fio de cabelo’. Fui ter com algumas pessoas, conseguimos desviar o trânsito e ficar em segurança.”

Portugal disponibilizou 50 bombeiros

Também na Suécia têm-se registado incêndios de grande dimensão, causando a morte de uma pessoa e provocando dezenas de feridos. Portugal enviou dois aviões para ajudar no combate aos incêndios no país. Quanto à Grécia, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, afirmou aos jornalistas que o Governo disponibilizou-se a “enviar para já cerca de 50 elementos da Força Especial de Bombeiros” para ajudar no combate aos incêndios.

Portugal está com os valores europeus em todos os domínios, quer na disciplina financeira, quer no acolhimento de refugiados, quer no apoio aos países que precisam a cada momento de auxílio em matéria de incêndios florestais”, disse Eduardo Cabrita.

“Fizemos uma avaliação com grande urgência compreendendo a situação dramática que está a acontecer na Grécia. A decisão operacional e política está tomada, foi já comunicada ao mecanismo europeu de Proteção Civil. Estamos neste momento a tratar das questões logísticas e [os bombeiros] partirão entre hoje [terça-feira] e amanhã“, quarta-feira, acrescentou Eduardo Cabrita. Lembrando que Portugal também recebeu no verão passado a “solidariedade de países amigos”, o antigo autarca afirmou que, depois dos incêndios do ano passado, “Portugal dotou-se dos meios necessários para responder às necessidades no plano interno e também para termos meios que, estando disponíveis, possam ser utilizados no âmbito da solidariedade europeia”.

Horas antes, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse à Agência Lusa que “até ao momento, não há nenhuma notícia de qualquer português que esteja incluído no número de vítimas mortais ou dos feridos ou desaparecidos”. O ministro lamentou ainda “em nome do Governo português” os “trágicos incêndios que assolam a região de Atenas” e transmitiu “solidariedade”. “Sabemos bem, por experiência própria, quão trágicos podem ser os incêndios florestais desta magnitude“, apontou ainda.

Já esta tarde, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas José Luís Carneiro disse que o Governo estima que estejam perto de mil portugueses na Grécia, somando aos cerca de 700 que lá residem aqueles que estarão neste momento no país de férias. O número é apenas uma estimativa, apontou o secretário de Estado, que afirmou não ter ainda dados que indiquem que há mortos ou feridos portugueses entre os afetados pelos incêndios.

Eduardo Ferro Rodrigues, presidente do parlamento português, enviou uma missiva ao presidente do parlamento grego, Nikolaus Voutsis. Ao seu homólogo, Ferro Rodrigues declarou ter tomado conhecimento da tragédia ocorrida em Mati “com profunda consternação”.

Portugal, Nação que tanto tem sofrido com a tragédia dos fogos florestais, sente de perto a dor do povo grego. Em meu nome e da Assembleia da República, apresento às autoridades gregas e às famílias enlutadas as nossas condolências e a expressão da nossa mais sentida solidariedade. Queira aceitar, senhor Presidente, a expressão da minha mais elevada consideração e amizade.”

Bruxelas solidária. “Hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário”

Numa carta enviada a Alexis Tsipras, Jean-Claude Juncker garantiu que a Comissão Europeia, instituição a que preside, fará “tudo o que for possível para apoiar” a Grécia. “Hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário”.

A carta de Juncker na íntegra:

“Foi com o coração pesado que soube que muitas pessoas perderam tragicamente a vida nos incêndios devastadores em Atenas, na Grécia.

Em nome da Comissão Europeia, queria expressar as minhas sinceras condolências às famílias e aos amigos das vítimas.

Durante estes tempos difíceis, estaremos ao lado do povo e das autoridades gregas. Elogio ainda os esforços incansáveis e corajosos das equipas de emergência. 

Vamos fazer todos os possíveis para garantir apoio hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário.

Pedi ao Comissário do gabinete de Gestão de Crise e Ajuda Humanitária, Christos Stylianides, que entrasse imediatamente em contacto com as autoridades da Proteção Civil grega. Ele informou-me que já foi mobilizada ajuda — incluindo aviões e equipas de combate aos fosso. O Comissário viajará para Atenas hoje. Gostava também de agradecer aos relevantes Estados-membros pela sua solidariedade contínua demonstrada neste assunto”.