Foi um abraço longo (e sonoro) aquele que António Costa deu a Adalberto Campos Fernandes na sala dos embaixadores, no Palácio de Belém, onde os novos ministros tomaram posse esta segunda-feira. Foi talvez o mais intenso dos quatro abraços de despedida que deu aos ministros que saem e depois, cá fora, explicou que remodelou porque era “o momento para ter uma dinâmica renovada à execução do programa do Governo”. O ex-ministro da Saúde saiu cansado e sem ter na sala em que se despediu aquele que foi tido como o maior entrave às suas políticas: o ministro das Finanças.
Em dia de fecho e entrega do Orçamento do Estado, Mário Centeno faltou à cerimónia (onde estava o seu secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Mourinho Félix) e à despedida de um dos ministros com quem teve maiores tensões nos Conselho de Ministros. À saída, Adalberto Campos Fernandes confirmou que sai cansado, ou pelo menos com falta de energia: “É um momento em que é preciso, como numa corrida por estafetas, um jogador com mais energia”.
Sobre o seu mandato, diz que “ninguém sai satisfeito” e que “podia ter feito muito mais”. Porque não conseguiu? Não responde, garante apenas que estará “ao lado do Governo para ajudar” e que a Saúde “é um setor difícil que tem de ser salvo”. Confrontado com dificuldades concretas e se é por isso que sai, dispara: “Quem me conhece sabe que não saio de coisas difíceis”. Mas acabou por sair e por vontade de quem? Aqui, Adalberto remete para o comunicado que foi divulgado no site do Governo. Já António Costa, questionado sobre o mesmo, remeteu para o decreto de exoneração dos ministros, publicado pelo Presidente da República onde consta que as saídas aconteceram “a pedido”.
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Faz vontade ao setor da energia?
Depois de abraços bem sonoros na sala dos embaixadores, o primeiro-ministro explicou aos jornalistas que entendeu que este “é o momento para ter uma dinâmica renovada à execução do programa do Governo”. E desdramatizou que exista um problema com novos ministros a negociarem, já no próximo mês, e executar o Orçamento do Estado que foi preparado pelos ex-ministros: “As propostas de Orçamento não são dos Ministérios, são do Governo. O Governo é como um todo e, concluída a aprovação, todos estão em condições de lhe dar execução”.
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Costa explicou também as alterações orgânicas, que acabam por estar centradas na mesma pessoa: Pedro Siza Vieira. E isto porque o ministro Adjunto passa a acumular a pasta da Economia e, por causa dele, a Economia perde uma pasta, a da Energia, que passa para o Ambiente. A intenção, garante Costa, foi “para dar centralidade à política económica no centro do Governo”. Está nas mãos do seu Adjunto que, por sua vez é uma pessoa da sua total confiança. A alteração do rating pela Moody’s foi, disse, “um momento de viragem”. E que o Governo quer aproveitar para capitalizar num ano de eleições. Mas esta “centralidade” à economia vem “sem prejuízo da centralidade da política orçamental”, reforça, no entanto, António Costa.
Quanto à questão da energia, o primeiro-ministro não fala da escusa do seu ministro em tratar dos temas nesta área, apenas refere que a mudança para o Ambiente “faz seguramente a vontade a todos aqueles que têm a consciência que as alterações climáticas são uma ameaça real. A política de energia tem de estar orientada por um objetivo fundamental que é assegurarmos a descarbonização da economia e a transição energética”, atirou quando questionado se estava a fazer a vontade às companhia elétricas como a EDP.
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Luís Filipe Castro Mendes foi outro dos ministros de saída, deixando a Cultura para Graça Fonseca. Disse aos jornalistas que sai por vontade própria, que o timing foi escolhido pelo primeiro-ministro e entende que aconteceu “dentro de uma conjuntura que é perfeitamente compreensível”. “Fui muito feliz enquanto ministro da Cultura”, disse antes de deixar o Palácio de Belém atrás de si. Ele e Adalberto Campos Fernandes foram os dois únicos governantes de saída que falaram aos jornalistas. Manuel Caldeira Cabral e Azeredo Lopes saíram sem prestar declarações.
No fundo da sala da tomada de posse estavam os secretários de Estado que caem com estas mudanças que afetaram Economia, Defesa, Saúde e Cultura. Entraram mudos e saíram calados. Quarta-feira haverá nova ronda, para a tomada de posse dos que lhes vão suceder nos cargos. Ou não.