Ainda há muito caminho a percorrer mas estamos cada vez mais conscientes da realidade ambiental e daquilo que podemos fazer para a trabalhar. Isto também se aplica aos produtos de beleza. Por um lado, o consumidor está cada vez mais preocupado em saber o que as marcas fazem para proteger as terras onde colhem os seus ingredientes; por outro, alguns governos estão a ser mais taxativos nos produtos a que chamam de monstros, como as toalhitas desmaquilhantes, de limpeza e de bebé.
Mas chegamos sempre ao tema das embalagens. E não há como embelezar a realidade: a Zero Waste Week, uma campanha anual de consciencialização ambiental diz que são produzidos todos os anos 120 mil milhões de embalagens pela indústria da cosmética e, se nada mudar até 2050, haverá mais plástico no oceano do que peixes. Se ainda pouca gente recicla as embalagens dos seus produtos de beleza, também é importante ressalvar que, infelizmente, a reciclagem está longe de ser eficiente. A maioria dos produtos tem várias “camadas” de embalagem até chegarmos ao produto em si e apenas cerca de 12% do plástico é efetivamente reciclado, explica Ashlee Piper, especialista em sustentabilidade. O que significa que qualquer coisa como oito milhões de toneladas acabam nos oceanos todos os anos.
O que tem de saber? Há marcas que se estão a destacar na mudança de paradigma e há algumas novidades que acabaram de chegar a Portugal e que vale a pena conhecer:
O’Right: um champô que se transforma numa árvore
Esta marca nova em Portugal representa uma cultura verde taiwanesa, um estilo de vida natural que se expressa através de ideias e rituais para uma interação harmoniosa entre a sociedade e o meio ambiente. É uma marca ecológica de produtos capilares profissionais, rica em extratos de plantas, com uma visão ecologicamente correta que leva à transformação de produtos agrícolas em ingredientes úteis.
Com isto, o que a O’Right traz é um conceito de embalagem totalmente inovador onde se faz 100% de reutilização de plástico velho, as tampas são de bambu, as fórmulas são mais fáceis de enxaguar, pensadas para reduzir a pegada hídrica, e todas as caixas dos produtos são de papel-semente feito à mão. Basta enterrar a caixa de papel no solo para fazer brotar as sementes. É de destacar ainda que estas caixas são impressas por tinta de soja à base de água, não tóxica, não poluente e ecológica.
Mas falta falar do ex-líbris da marca: os frascos que se transformam em árvores. A equipa da O’Right passou dois anos a desenvolver a inovadora e ecológica “Tree in the Bottle” — as garrafas mais pequenas de champôs são feitas de 100% de materiais biodegradáveis como frutas e vegetais que podem ser naturalmente degradados quando enterrados no solo. E no fundo das garrafas estão sementes de acácia taiwanesa que se transformam em árvores quando enterradas no solo, em ambientes adequados claro, produzindo oxigénio para o planeta porque esta é uma árvore que se reproduz rapidamente (boa para a reflorestação) e que absorve mais dióxido de carbono.
A marca já está à venda em algumas farmácias, cabeleireiros e lojas online de produtos naturais e ecológicos.
Lush: depois dos champôs, produtos de rosto sem embalagem
Pioneira no movimento desperdício zero, a Lush dispensa apresentações. E este mês acontecem duas coisas positivas: a abertura da segunda loja completamente livre de embalagens em Berlim (a primeira foi em Milão em junho deste ano) e o lançamento de dez produtos de rosto cheios de ingredientes com benefícios para a pele como manteiga de cupuaçu suavizante do Amazonas, bananas nutritivas ou óleo de argão rejuvenescedor de Marrocos e, claro, sem embalagens.
Esta nova linha de cuidado de rostos boa para a pele e para o meio ambiente vem contribuir para aumentar o portfólio da marca que procura desde sempre encontrar soluções criativas para deixar um impacto positivo no planeta. A Lush foi a primeira marca a criar uma barra de champô sólido (que poupa, por ano, cerca de seis milhões de garrafas de plástico) e, mais recentemente, voltou a ser pioneira ao criar uma alternativa sólida ao gel de duche líquido. Atualmente, 65% de toda a gama de produtos permanentes é completamente livre de embalagens e estes novos produtos representam uma inovação no mercado.
Eis o que agora já pode encontrar nas lojas portuguesas: quatro séruns faciais, cinco bálsamos para limpar a pele e uma máscara para olhos. São seguros? Sim. Todos os produtos da Lush sem embalagens são formulados com pouca ou nenhuma água o que os permite manter-se sólidos à temperatura ambiente (e conservados).
Skin Regimen: uma marca embalada em vidro totalmente reclicável
Já falámos da Davines várias vezes: produtos capilares com uma filosofia de eco-embalagens. E dentro do grupo Davines encontra-se a Comfort Zone, uma marca de cuidados de rosto que está a seguir os passos da sua irmã. Todas as embalagens dos produtos Comfort Zone são de impacto zero, ou seja, todas as emissões de CO2 libertadas pela confeção das embalagens são compensadas pelos vários projetos de reflorestação Davines. Mas a grande novidade está na nova marca dentro da Comfort Zone que acaba de chegar a Portugal: a Skin Regimen.
Esta nova marca é projetada para responder às necessidades da pele de quem vive nos grandes centros urbanos. De acordo com números revelados pelas Nações Unidas, 54% da população mundial vive em ambientes urbanos, número que aumentará para 66% até 2050. A Skin Regimen é, assim, uma linha de cuidados de pele clinicamente comprovada na redução dos efeitos diários do stress, da poluição e do envelhecimento tanto na pele como na mente.
Mas a grande inovação está nas embalagens. Tal como as outras marcas do grupo, também é CO2 neutro e apoia um projeto de reflorestamento no Quénia, os produtos são embalados com componentes totalmente recicláveis de vidro, plástico derivado de cana-de-açúcar (o chamado Green PE, uma alternativa renovável ao polietileno, o plástico mais comum), alumínio certificado com segurança e papel certificado FSC (Forest Stewardship Council, uma organização que promove o uso consciente de recursos florestais). Todos os frascos são ainda em vidro negro para garantir a pureza e conservação dos ingredientes naturais.
E claro que há muito mais…
“Esta é uma nova tendência importante em dois caminhos”, diz Ashlee Piper que também é autora do livro Give a Sh*t: Do Good. Live Better. Save the Planet. “Em primeiro lugar, o ónus ambiental óbvio causado apelas pelo lixo que criamos pode ser atribuído, em parte, às embalagens não alimentares das quais as dos cosméticos são um enorme componente já assumido. Em segundo lugar, reduzir as embalagens é apenas um componente da filosofia de se ser verdadeira green e, na minha opinião, uma excelente porta de entrada para as pessoas se sintonizarem com outros elementos sustentáveis.” Os outros componentes que Piper fala são, por exemplo, o desperdício de água e a colheita anti-ética de ingredientes, como falámos neste artigo.
Muitas marcas já estão a fazer esforços para inovar e tomar a liderança nesta tendência, como as três novidades de que falamos acima. Mas há mais.
Um bom exemplo até tem o selo português. A Organii acaba de lançar a sua marca própria — a UNII Organic Skin Food –– com embalagens em vidro e uma filosofia zero waste. A Klorane já tem uma versão do seu icónico champô seco numa embalagem eco-friendly totalmente reciclável e sem aerossol. A Eco Brushes não é nova (já tem 10 anos) mas agora já se vende em Portugal através do site Look Fantastic e é especialista em acessórios de maquilhagem como pincéis e esponjas 100% ecológicas. A gigante da maquilhagem natural Alime Pure é totalmente neutra em carbono, todos os compactos são reutilizáveis e podem facilmente ser trocados por recargas, as caixas são feitas de papel reciclado 100% post-consumer e impressas com tinta à base de soja e os potes são de plástico de qualidade alimentar para poderem ser reutilizados em casa.
E a destacar está ainda uma outra grande marca: a REN Clean Skincare. Atualmente, 76% das embalagens da marca são recicláveis e o grande objetivo até 2021 é tornar-se uma marca totalmente desperdício zero. “Os nossos oceanos e a vida marinha que os habita sofrem com a crise de hoje que é a poluição plástica. Esta é uma situação de fazer ou morrer”, diz Arnaud Meyssele, o diretor executivo da REN.
Há também a salientar a importância da remoção de adesivos nos rótulos das embalagens. “Este é um fator importante que muitas marcas não consideram, mas é difícil reciclar garrafas se estiverem cheias de rótulos não removíveis”, expica Eric Korman, co-fundador da companhia americana de fragrâncias e velas Phlur (não se vende em Portugal).
Num momento em que se espera que a sustentabilidade não seja apenas uma moda ou uma tendência, mas que se torne o padrão, será este o futuro da cosmética sem plástico?