A ordem que determinou a morte de Jamal Khashoggi, assassinado a 2 de outubro de 2018, foi dada pelo governo da Arábia Saudita. Quem o diz, em entrevista ao diário espanhol El Mundo, é a namorada do jornalista saudita que recusa apontar um nome concreto. Mas a ordem partiu de cima, diz.

“Quem o matou foi um grupo de pessoas. Não foi só uma. Os culpados são todos aqueles que estiveram implicados no crime. A pessoa que ordenou, as que cometeram o crime e as que ajudaram a levá-lo a cabo”, diz Hatice Cengiz.

Perante a insistência do jornalista do El Mundo, a mulher turca de 38 anos recusa dizer um nome: “Quem deu a ordem foi o governo saudita. Quero evitar culpar uma pessoa em concreto. Não estou em posição de julgar ninguém. Mesmo que pudesse fazê-lo, não o faria porque isso não vai mudar a realidade.”

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No entanto, a namorada do jornalista diz que todos sabem quem detém o poder no país do seu noivo. “Só direi que todos sabem quem controla tudo na Arábia Saudita. É um país onde tudo está debaixo de controlo”, diz, acabando por pedir ao jornalista uma pausa de três minutos e remetendo uma resposta para o final da entrevista.

Mas a resposta acaba por não chegar: “No Médio Oriente não é fácil ter respostas claras para tudo, mesmo quando temos todos os dados na mão. Sou sincera e otimista. É preciso esperar pelo final da investigação. Creio que o tempo trará justiça.”

Hatice Cengiz estava com o noivo no dia em que ele foi visto vivo pela última vez. A 2 de outubro de 2018, Jamal Khashoggi entrou no consulado saudita em Istambul, Turquia, onde ia tratar de alguns documentos necessários para o seu casamento com a namorada, e não voltou a sair. Hatice esteve três horas do lado de fora, à espera que o noivo saísse. Em vão. Acabou por avisar as autoridades, como Jamal lhe tinha dito para fazer, caso não saísse do consulado.

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Apesar do corpo nunca ter aparecido, as autoridades turcas acreditam que Khashoggi foi morto no interior do consulado, sendo provável que tenha sido desmembrado. Os seus restos mortais deverão depois ter sido colocados em cinco malas, retirados do interior do edifício, e levados para casa do embaixador saudita no próprio dia da sua morte.

À medida que o véu ia sendo levantado pela investigação turca, novas informações apontavam para o envolvimento do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. A própria CIA viria a concluir que o príncipe instou o irmão, embaixador nos EUA, a convencer Khashoggi a ir ao consulado turco onde foi morto.

Do lado da Arábia Saudita, houve reconhecimento de que o jornalista foi morto, mas com uma versão diferente dos factos: terá sido durante uma luta e numa troca de murros.

Até hoje, o corpo de Khashoggi não foi encontrado.

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