Histórico de atualizações
  • Quatro horas de audição a Faria de Oliveira (a segunda em pouco mais de um mês) resumidas em três momentos insólitos. Para ler com mais calma. Obrigado por ter seguido a audição do ex-presidente da CGD no Observador.

    Berardo fez um favor à Caixa? Faria de Oliveira ri-se e fala em “má fé”

  • Termina a audição a Faria de Oliveira, depois de o ex-presidente da Caixa confirmar que há intenção de alguns outros ex-administradores de pedirem à CMVM uma avaliação sobre a “consistência” do relatório feito pela auditora EY, que tem sido criticado por vários dos inquiridos nesta comissão de inquérito.

    Dentro de momentos publicaremos um resumo desta audição, que durou cerca de quatro horas.

  • Na última ronda, Faria de Oliveira diz que a carta enviada a Teixeira dos Santos foi uma carta de “ponto de situação” que “não era uma carta para ter resposta”. Era para ser falada numa das reuniões subsequentes. Não houve uma resposta formal à carta, responde Faria de Oliveira à deputada do PSD Inês Domingos. E foi falada de forma informal? “Eu detesto dizer que não me lembro, mas…”

  • Depois de o PCP abdicar da segunda ronda, o PSD toma a palavra para tentar antecipar a audição de Vítor Constâncio, de amanhã. E pergunta se quando Berardo pede crédito para comprar ações num banco, do ponto de vista comercial, se o contrato está fechado ou não quando se faz depender o crédito da aprovação pelo Banco de Portugal. Mas Faria de Oliveira distingue as duas coisas e clarifica que o crédito e a autorização do BdP não são necessariamente ligados. São dois passos de um mesmo processo mas que não estão diretamente relacionados. “Eu acho que isso são questões de natureza contratual”.

    Agora, Faria de Oliveira diz que podia, ainda assim, ter alertado o banco para a circunstância de se poder gerar uma exposição indireta em que as garantias seriam exclusivamente as ações.

  • "Não se executou Berardo por não querer, foi para não afetar o BCP"

    Faria de Oliveira reafirma a teoria do “risco sistémico” para não executar as ações de Joe Berardo, compradas com crédito concedido pela própria Caixa e que o empresário madeirense não pagava, nem pagou. “Não se executou Joe Berardo por não querer, foi para não afetar uma instituição relevantíssima, o BCP, e a própria Caixa, que tinha 2,3% do próprio BCP”.

    “Isso teria consequências sistémicas sérias. Este foi um mal menor”, garante o ex-presidente da CGD em resposta a Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda). Sobre o risco sistémico, a deputada do BE pergunta a Faria de Oliveira sobre eventuais reuniões com o Banco de Portugal precisamente sobre esse risco.

    “Ao longo de 2007 e 2008 que contactos teve com o Banco de Portugal especificamente sobre os créditos da Caixa e da exposição ao BCP?”. “Não tive reuniões específicas com o BdP sobre esse tema. Mas é possível que nas reuniões que tive com Vítor Constâncio, possa ter aflorado essa questão”, respondeu Faria de Oliveira.

    Com o governo da época (PS, liderado por José Sócrates) a questão é outra. “Com o governo, basicamente já o disse noutras ocasiões, tinha reuniões frequentíssimas com o Secretário de Estado e algumas com o ministro, devido ao período que vivíamos”. “No final do ano de 2008, ao fazer um breve resumo do ano e ao dar-lhe uma visão minha, nessa altura chamei a atenção para o financiamento com garantia de ações”, disse Faria de Oliveira, referindo-se a reuniões com o então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.

    E discutiu com o Governo uma estratégia para lidar com o problema? “Correndo o risco de estar a falar de memória e não ser exato, eu penso que quando falava nestes casos dizia qual era o nossa estratégia e consequências para o registo de imparidades. Tenho a ideia que tinha mais ou menos a concordância de quem estava acima. Mas não posso ser mais concreto”, respondeu Faria de Oliveira.

    Mariana Mortágua volta à carga sobre Joe Berardo, recordando que o empresário madeirense disse na comissão que tinha feito um favor à CGD ao ter mantido as ações do BCP, então já em queda. Faria de Oliveira não consegue conter o riso perante a pergunta da deputada bloquista, mas responde ligeiramente ao lado.

    “A estratégia de obtenção de reforço de ações foi aquela pela qual optamos. E eu assumo inteira responsabilidade nisso. Quando chegámos a acordo [que dava aos bancos títulos de participação sobre a coleção de arte] foi um suspiro de alivio. Mas a responsabilidade é minha”.

    Mas por que razão a CGD aceitou a coleção em vez de outro património e outros bens?

    “Essa foi sempre uma questão que coloquei. E sempre obtivemos a resposta de que já não havia outro património. (…) Não há duvida de esta questão que foi uma dor de cabeça gigantesca, com possibilidades de resolução ténues”.

  • Porque se "acelerou" na La Seda, pergunta PS. "Porque esse era o objetivo do seu governo"

    Segunda ronda.

    João Paulo Correia, do PS, pergunta porque é que a Caixa “acelerou” o investimento na La Seda quando já havia indicação de problemas.

    “Porque esse era o objetivo do seu governo”, responde Faria de Oliveira.

    “O interesse de realizar o projeto Artlant foi um projeto de interesse público, com manifestações de interesse de projeto nacional manifestado pelo seu governo”. “Pelo nosso governo”, corrige.

    João Paulo Correia lembra a Faria de Oliveira que também foi “nomeado” pelo PS. O deputado socialista pede que Faria de Oliveira esclareça que apenas falou em “objetivo do governo” por ser um projeto PIN (Projeto de Interesse Nacional) — Faria de Oliveira patina um pouco mas não dá esse esclarecimento, ainda que o deputado do PS diz que a questão ficou esclarecida.

  • Faria de Oliveira revela carta a Teixeira dos Santos, em fevereiro de 2009, a alertar para riscos sistémicos

    Faria de Oliveira diz, também, que enviou carta ao ministro das Finanças a alertar para o risco sistémico relacionado com a exposição da Caixa ao BCP (via crédito para ações). Foi a 3 de fevereiro de 2009. Era ministro das Finanças Teixeira dos Santos, ainda durante o primeiro mandato de José Sócrates (antes das eleições de 2009).

  • História de Berardo "fere os princípios da boa fé"

    Ainda em resposta a Inês Domingos, do PSD, sobre o caso Berardo, Faria de Oliveira diz que “quando se pede reforço de garantias, a primeira coisa a fazer é avaliar as garantias que existem, nem sempre é fácil”.

    “Pode crer que desde o primeiro momento a prioridade sempre foi tentar obter garantias que não fossem ações. Com Berardo conseguiu-se vender alguns outros ativos, conseguiu-se 25 milhões, não foi muito. Depois tentou-se ir à coleção de arte, porque isso sim tinha mais valor. Mas isso é outra história, uma história que até fere os princípios da boa fé”.

  • Banco de Portugal "podia ter feito mais" para alertar outros bancos do investimento da Caixa no BCP

    Inês Domingos, do PSD, quer voltar aos créditos a Berardo.

    “Que sentido é que fazia para a CGD conceder empréstimos para a aquisição de ações noutros bancos ao mesmo tempo em que a Caixa estava a tentar reduzir a exposição ao BCP?”

    “Isso é matéria que tem a ver com o conselho anterior, só o conselho anterior pode responder cabalmente à sua pergunta. A única coisa que posso acrescentar, por ter muitos anos de experiência empresarial e política, é que muitas vezes vivemos de modas. E houve um período da nossa economia em que se pretendeu fazer da Caixa Geral de Depósitos um grupo financeiro empresarial, e não apenas um banco. E isso traduziu-se em opções, que são legítimas na altura mas que eram opções bem diferentes do que estava a acontecer pelo mundo fora, que era limitar os bancos à sua função básica de intermediação”.

    “Questão diferente é saber se as garantias para uma operação se deviam limitar a um tipo única de garantia”, diz Faria de Oliveira, acrescentando que hoje se reconhece que é um “erro enorme” — mas fez-se em toda a banca não só em Portugal mas em toda a Europa. “Uma das lições mais relevantes desta crise tem a ver com esta crise”.

    E faria sentido o Banco de Portugal ter bloqueado a concessão do crédito? Faria de Oliveira diz que há dois aspetos — em primeiro, o Banco de Portugal tinha de garantir a idoneidade da pessoa que ia tomar o capital [Berardo] — isso é da exclusiva responsabilidade do supervisor”.

    Segunda questão: “devia ou não ter alertado os outros bancos de que iria haver uma concentração grande do investimento e das garantias. Podia e devia ter feito mais para alertar”, mas Faria de Oliveira diz que está a falar pelo “bom senso”.

  • Faria de Oliveira rejeita a ideia de que os portugueses estão a pagar os prejuízos da Caixa Geral no projeto da La Seda em Sines. Pelo contrário: “Os benefícios deste projeto da Artlant para os portugueses vão ser muito superiores aos prejuízos que intercalarmente a Caixa Geral teve de suportar”. Trata-se de uma fábrica que exporta 400 milhões por ano, além dos postos de trabalho que estão envolvidos, diz.

    Caixa vende fábrica falida que foi da La Seda a grupo tailandês por 28 milhões

    O ex-presidente da Caixa, que respondia ao deputado Duarte Alves (PCP), admitiu porém que se tratou de uma das decisões mais difíceis para o banco público. “No caso concreto deste projeto da Artlant, era uma decisão difícil por tudo o que se vivia, um contexto de profunda incerteza”.

    E dá “um toque” aos deputados da Comissão, que têm apontado falhas aos antigos responsáveis da Caixa sem terem em atenção a crise profunda que se viveu a partir de 2008/2009. “Esquecemo-nos que vivemos uma das maiores crises do último século”.

  • Faria de Oliveira: "Isto é uma inquisição ou uma inquirição"?

    Faria de Oliveira começa a perder a paciência. “Mas isto é uma inquisição ou uma inquirição?”

    O desabado surgiu após uma pergunta de Duarte Alves, do PCP: “A CGD tinha conhecimento da importância política que a La Seda tinha no contexto catalão?”

    “Não sei dizer. Estava em Espanha e não tinha possibilidade de saber o que a Caixa pensava sobre a La Seda”. O deputado do PS João Paulo Correia dá uma achega: precisamente por estar em Espanha é que deveria ter essa noção, refere.

    “Isto é uma inquisição ou uma inquirição?”, pergunta Faria de Oliveira. Mas nem este incidente aqueceu a sessão, com o presidente da Comissão, Luís Leite Ramos, a indicar ao depoente para responder às perguntas de Duarte Alves.

  • E a argumentação de Berardo? "Não corresponde à realidade"

    E quando Berardo diz que se a Caixa tivesse executado as garantias (vender as ações) não tinha perdido nada? É “extremamente fácil” responder a isso. “A realidade é radicalmente diferente — quer num caso quer no outro, em qualquer das situações, as empresas envolvidas tudo fizeram para evitar que isso acontecesse. É evidente que se a Caixa tivesse executado as ações tinha provocado uma derrocada total nas instituições em causa e eles próprios [a Caixa] perderiam tudo o que tinham”. A defesa de Berardo é apenas jurídica, não corresponde à realidade.

    “A Caixa tem de ter uma visão de responsabilidade de defender a estabilidade financeira, como banco público”, diz Faria de Oliveira, sublinhando que fala, pelo menos, na administração a que presidiu.

    “Foram três anos, alucinantes, de vertigem, eram desvalorizações do outro mundo, a necessidade de acompanhar a economia para evitar uma depressão profunda. Era extraordinariamente difícil fazer melhor. Os problemas eram em catadupa. Além dos herdados, surgiam permanentemente novos e todos deram o seu melhor”, diz Faria de Oliveira, subindo o tom de voz.

  • Matos Gil alertou? Só porque a La Seda "seguia estratégia que não lhe convinha"

    Faria de Oliveira diz que havia interesse de vários bancos para participar na operação da Artlant, em sindicação, mas a crise levou a que tenha “ficado isolada”. “Para o país e para os portugueses, ainda bem que aquela projeto se concretizou”.

    Cecília Meireles diz que a questão não é saber se “ainda bem” que o projeto foi feito mas, sim, se podia ter feito gastando menos dinheiro. Faria de Oliveira lembra a crise.

    A deputada do CDS-PP diz que foi mais do que a crise, porque Matos Gil terá indicado que havia coisas “específicas” a acontecer na La Seda. Faria de Oliveira diz que Matos Gil apenas estava a reagir àquilo que “era, na La Seda, uma estratégia que não lhe convinha”. “Em 2008, tanto quanto eu sei, ainda não se sabia” dos problemas que viriam a ser detetados na gestão da La Seda. Faria de Oliveira garante que os problemas operacionais na La Seda só se tornaram evidentes depois, com a crise e com a queda do valor das matérias-primas que produzia — quando a Caixa entrou na La Seda, “todos os bancos queriam entrar, tinham um rating” elevado.

    Quando a situação se agravou, desistir tinha trazido “graves prejuízos”. Cecília Meireles diz que prejuízos houve na mesma, mas “pelo menos agora temos uma fábrica para mostrar”.

  • Faria de Oliveira recua aos anos 1960 para justificar o “interesse nacional” no projeto petroquímico em Sines, do qual o projeto La Seda faria parte.

    “Quando diz ‘queríamos’ o projeto La Seda, o doutor Faria de Oliveira está a referir-se a quem? À Caixa ou ao Governo?”. A pergunta foi de Cecília Meireles, deputada do CDS-PP, e o ex-presidente da CGD nem hesitou: “Quem queria era o país, senhora deputada”.

    “O que eu quero saber é se houve alguém do Governo a dar-lhe essa orientação. Quem era este queríamos?”, insiste a deputada do CDS.

    “Quando um projeto é definido de interesse nacional, o querer significa uma certa universalidade na vontade de o trazer para Portugal. Como tal… é… bem, eu tenho de ir mais longe”, afirma Faria de Oliveira, antes de se lançar numa explicação histórica sobre o projeto petroquímico de Sines, que remonta ao Estado Novo e ao Governo de António de Oliveira Salazar.

    “O projeto de Sines está integrado naquilo que desde os anos 60 foi considerado um desígnio nacional. A construção de um pólo petroquímico, com muitas outras atividades, incluindo metalurgia. Esta matéria tem sido acompanhada ao longo de décadas por todos os governos portugueses, sempre com o mesmo objetivo: o de procurar dinamizar o pólo de Sines”, disse.

    “Como desígnio nacional é um projecto que do meu ponto de vista faz todo o sentido. (…) O polo petroquímico de Sines já existia, com a Petrogal, e parece-me completamente lógico o da La Seda, que era complementar, já que tinha grandes sinergias com a Galp”, afirmou o antigo presidente.

    E conclui: como o projeto era PIN (de Interesse Nacional) a Caixa iria continuar a fazer tudo ao seu alcance para que o projeto viesse mesmo para Portugal. “Estava claro que o acionista La Seda tinha dúvidas sobre a realização deste projeto: ou o fazia em Portuga ou em Tarragona, Espanha. Por isso era preciso continuar a exercer a influencia necessária”.

  • Berardo era uma "preocupação permanente" da administração da Caixa

    Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, começa por dizer que não faz sentido “repetir a audição que já houve” portanto vai avançar para temas que entretanto tiveram novidades, incluindo os créditos a Berardo. Mortágua pergunta a Faria de Oliveira sobre o último empréstimo à Caixa, de 38 milhões, quando já se percebia que a tendência das ações do BCP era de queda. Foi Fernando Bandeira quem negociou este crédito? Porquê?

    “Eu, tanto quanto me recordo, lembro-me que numa reunião do conselho de administração, estávamos a falar sobre o pedido que tinha sido feito com a parte livre do acordo de 350 milhões, numa altura em que não havia ainda incumprimento mas que não nos parecia adequado fazer mais empréstimos a menos que houvesse mais garantias. Aí, ficou definido que quem realizaria um contacto devia ser o vice-presidente [Francisco Bandeira], que se disponibilizou para ter uma conversa com José Berardo, para assegurar que eram dadas mais garantias, designadamente a aval que o departamento de risco recomendava”.

    Aí, Berardo aceitou, “de facto”, dar esse aval pessoal — e, naquela altura, ainda não havia uma avaliação do património efetivo que estava no sr. José Berardo. Sei que o contexto na altura era admitir que ele era uma das maiores fortunas nacionais, etc., etc.”.

    Além disso, como Faria de Oliveira já tinha dito na primeira audição, mais do que a garantia concreta, um aval pessoal passa por questões como a honra e a reputação — isso é assim na banca em todo o lado, diz Faria de Oliveira.

    Mariana Mortágua diz não perceber como é que se aceita um aval pessoal sem avaliar o património.

    Mas “se a Caixa tinha já dado o crédito (máximo de 350 milhões) sem aval, que poder negocial tem a Caixa a pedir aval pessoal quando apenas se estava a ir buscar 38 milhões que já estavam previstos”. Faria de Oliveira diz que é uma questão de “estratégia negocial”. Passava por dar a entender a Berardo que a Caixa ia resistir ao máximo a dar o remanescente (os 38 milhões) sem que fossem obtidas mais garantias”.

    “O contrato, além do aval, tem uma cláusula 15ª que obriga a um reforço de garantias que permitiu que fosse imediatamente executado, logo em julho, quando obrigámos Berardo a vender um conjunto de participações na área das telecomunicações e a pagar uma verba, em cash, de 25 milhões, além de reforço de garantias em títulos”, começa por explicar Faria de Oliveira.

    “Porque é que não executaram a Fundação em 2008?”, pergunta Mortágua.

    “Eu penso que o dr. Jorge Tomé, na sua audição, foi bastante extensivo em relação a esta matéria. Tenho a certeza que a sra. deputada sabe, mas deixo claro que há dois tipos de incumprimentos em que a banca tenta obstaculizar”. Quando há “incumprimento de garantias”, há reposição de garantias, moratórias, reestruturação e execução. Já quando se fala em “incumprimento da dívida”, passa-se pela moratória, reestruturação e, finalmente, insolvência com execução.

    E como se tomam as decisões? “Perante a avaliação da situação económica do cliente, seja particular ou empresa, a análise da operação, com avaliação dos vários riscos”.

    Só em 2018 se executou Berardo porque este é o processo: “colocaram-se em jogo três tipos de opções. Face a um incumprimento de garantias, podia-se vender em bolsa, uma colocação junto de investidores internacionais, ou o reforço das garantias”. A primeira opção, vender em bolsa não era viável porque a cotação do BCP estava sob pressão, o volume diário não era suficiente para acomodar a venda massiva das ações do BCP por parte da Caixa. “Ia causar um problema sistémico da maior relevância”, garante Faria Oliveira.

    “É manifestamente evidente que o reforço das garantias era uma opção melhor para a Caixa” e para todo o sistema financeiro, diz Faria de Oliveira.

    A segunda opção, vender a investidores as ações em bloco, “quando se compara aquilo que se obteria e o que se obteria com as garantias, seria inferior”. Daí a opção por tentar usar como garantia as obras de arte. Era a única decisão responsável.

    Faria de Oliveira diz que as decisões de reestruturação e negociação com o grupo Berardo foram aquelas que tomaram mais tempo e energia do conselho de administração e de várias equipas — Berardo era uma “preocupação permanente” da administração da Caixa.

    “A CGD teve resultados sempre positivos no meu mandato mas não deixou nunca de ser muito penalizada, muito penalizada, pela desvalorização das ações do BCP e com o registo de imparidades com tudo o que tinha a ver com as garantias que existiam relacionadas com o BCP”. Havia 1,2 mil milhões em exposição da Caixa ao BCP, lembra Faria de Oliveira.

    “O diretor-geral de risco ia acompanhando a realização destas operações [as decisões relativamente a Berardo]”. Faria de Oliveira admite que não tem a certeza se existe um parecer de risco formal, escrito.

  • "O mais importante era evitar que a CGD fosse forçada a fazer uma OPA sobre a La Seda"

    Faria de Oliveira rejeita que, em 2008, tenha alterado a posição da Caixa Geral sobre o projeto da La Seda em Sines. A pergunta foi de João Paulo Correia, do PS, que confronta o ex-presidente da CGD sobre uma informação deixada por Matos Gil na reunião de março de 2008: “não convinha fazer muitas ondas, para não abrir um conflito com a Catalunha”, a região de onde era originária a La Seda.

    “De facto não me lembro dos termos que utilizei na reunião. Mas não houve alteração nenhuma em relação aquilo que tinham sido os objetivos da CGD no projeto quer visava trazer a La Seda e o projeto Artlant para Portugal”, disse Faria de Oliveira. E deixa mais uma informação: a sua principal preocupação, disse, foi a de evitar que a Caixa fosse forçada a fazer uma OPA sobre a La Seda.

    “O que houve foi um ato de gestão: evitar que a CGD fosse obrigado a fazer uma OPA sobre a La Seda. Isso é que era fundamental”, salienta o ex-responsável. “Estive umas três vezes em Barcelona, uma delas a convite de uma instituição catalã, onde referi o projeto que a CGD estava a introduzir em Espanha. Na altura um representante da Generalitat (governo regional catalão) apresentou-me a Rafael Español, um dos grandes empresários-gestores da Catalunha”, recordou Faria de Oliveira. De resto, sublinhou, “não tive mais nenhuma conversa” com Rafael Español.

    Matos Gil acusa Caixa de má gestão em crédito de 90 milhões não pago. E diz que não deve nada ao banco do Estado

    “O conhecimento que tive era que, para a Generalitat, a La Seda era uma empresa de extraordinária importância. E que poderia ajudar a resolver o problema. Mas não tive nenhuma conversa a nível de topo com a Generalitat, não tive mais nenhuma conversa”, repetiu.

    Faria de Oliveira aludiu à pressão dos acionistas espanhóis, mas reafirmou: “o que não podia aceitar era que a Caixa lançasse uma OPA sobre a La Seda”, em conjunto com a Imatosgil.

  • “Santos Ferreira, numa visita que me fez a Madrid, falou-me que a CGD ia fazer um investimento na La Seda”. Foi “por ocasião, se bem me recordo, com uma visita do Presidente da República”. Era o único conhecimento que Faria de Oliveira tinha sobre o projeto La Seda, que lhe foi justificado como sendo um negócio relacionado com um potencial investimento em Portugal [Sines]”.

    “O dr. Jorge Tomé relatou-me a situação sobre o projeto La Seda e Sines. Relatou-me que o presidente do grupo Matos Gil estava descontente com a orientação que estava a ser levada a cabo na La Seda naquele momento e que achava que devia haver uma alteração da administração da La Seda, para uma composição mais profissional”. Mais tarde, vim a saber que, algures em janeiro, houve uma reunião do sr. Matos Gil com o presidente da La Seda, em que disse que era bom que ele saísse”.

    Criou-se nessa reunião uma expectativa que Rafael Español aceitava sair, mas teria havido um conjunto de acionistas espanhóis que não aceitou e que até se queixou à CMVM que os acionistas portugueses queriam fazer uma OPA sobre a La Seda. Foi assim que começaram os desentendimentos que azedaram a relação entre os acionistas, incluindo o fim do acordo entre a Caixa e o grupo Imatosgil.

    Faria de Oliveira garante que Jorge Tomé não saiu por qualquer desentendimento com o grupo Imatosgil, foi porque não se achou que fazia sentido Tomé acumular o cargo de membro da administração da La Seda e a liderança do CaixaBI, que era quem na Caixa acompanhava este processo.

  • Faria de Oliveira. "Jorge Tomé é que conhecia o projeto La Seda, não eu".

    O deputado do PS João Paulo Correia questiona Faria de Oliveira sobre o projeto La Seda. E é específico: “O que se passou numa reunião em 31 de março de 2008, em que Matos Gil diz que foi alertado [por Jorge Tomé] para as coisas estranhas que se passavam no processo La Seda?”.

    “Eu conheci o engenheiro Matos Gil no lançamento da primeira pedra da fábrica de Sines em 13 de março de 2008. Terá havido uma reunião comigo, e eu lembro-me que a tive com Freire de Sousa e Nuno Gaioso, mas não tenho 100 por cento de certeza de ter estado com Matos Gil. Confrontei Jorge Tomé sobre essa reunião e ele também não tem certeza absoluta. Tomei posse em 2008, e o Jorge Tomé – como presidente da Caixa BI – era quem tinha o processo La Seda. O conhecimento total do projeto era dele e não meu. Eu acabara de chegar de Madrid e estava muito longe de conhecer os contornos do processo”, respondeu Faria de Oliveira.

  • Caixa e APB. Faria de Oliveira diz nunca ter sentido conflito de interesses

    João Paulo Correia, do PS, é o primeiro a questionar Faria de Oliveira, e fala sobre a acumulação que, a certa altura, Faria de Oliveira teve — presidente da Caixa, da Culturgest e da Associação Portuguesa de Bancos (APB). O deputado do PS pergunta se algum dia sentiu que podia haver conflito de interesses.

    O presidente da APB diz que na maioria dos casos na Europa o presidente da associação de bancos de cada país é o presidente de um dos bancos. “A partir de determinado momento, e com a saída do dr. João Salgueiro, que também acumulava os dois cargos. Quando João Salgueiro saiu da Caixa (substituído por António de Sousa), continuou na APB, e a partir daí criou-se uma tendência para que o presidente da APB passasse a ser mais um presidente não executivo” e que outras pessoas na APB tivessem responsabilidades mais executivas.

    Foi com a saída de António de Sousa que a APB convidou, na primeira de 2012, Faria de Oliveira — que era chairman da Caixa Geral de Depósitos — para ser presidente da APB. “Passava a manhã num lado e a tarde no outro”, recorda Faria de Oliveira. A partir de certa altura, Faria de Oliveira, confrontado com uma série de alterações regulatórias que estavam a acontecer na banca europeia, decidiu sair, no final desse ano, 2012, para se dedicar em exclusividade à APB e às “grandes alterações que estavam a acontecer naquele tempo”.

    Apresentou a demissão a Vítor Gaspar, de chairman da Caixa, mas o ministro das Finanças pediu para estar mais algum tempo. Sairia em junho seguinte. Mas garante que “em consciência nunca senti qualquer conflito de interesses”.

    João Paulo Correia, do PS, insiste neste ponto. Vítor Gaspar convidou-o, não o alertou para um eventual conflito de interesses? Faria de Oliveira diz que não fazia sentido que o fizesse.

    Depois de ouvir Faria de Oliveira a dizer que quando entrou na APB prescindiu do salário que tinha como chairman da Caixa, João Paulo Correia diz que “então esteve a trabalhar para a Caixa Geral de Depósitos enquanto era pago pela banca privada”, aponta João Paulo Correia, acrescentando que Vítor Gaspar sabia que assim era. Faria de Oliveira dá uma gargalhada e alguns deputados do PSD abanam a cabeça com o raciocínio que João Paulo Correia está a querer fazer.

  • Arranca mais uma semana de audições na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a gestão da Caixa Geral de Depósitos. O ex-presidente da Caixa Faria de Oliveira é ouvido pelos deputados da CPI… pela segunda vez. Já tinha estado no parlamento no dia 03 de maio. Recorde aqui o que disse.

    Berardo deu aval pessoal que representa a “honra e credibilidade”, mas a Caixa demorou a executar

1 de 1