Pedro Marques disfarça cada vez menos que quer ser comissário, mas queixa-se que a pergunta já lhe foi feita “120 vezes”. No programa “Vichyssoise”, da rádio Observador, gravado na última quarta-feira (e antes do anúncio da morte do também eurodeputado socialista André Bradford), o eurodeputado e antigo ministro diz que a pasta dos Fundos Europeus é uma “possibilidade interessante” e assume de forma indireta que deseja ser comissário com uma subtileza de linguagem. “Admito que vou estar cinco anos dedicado ao futuro da Europa e do meu país ao serviço das instituições europeias”, disse quando questionado sobre se admite não cumprir os cinco anos de mandato como eurodeputado. No programa semanal de política da Rádio Observador houve também tempo para Pedro Marques confessar um desejo interno: maioria absoluta do PS “já”. “É completamente legítimo que qualquer partido tente ter os melhores resultados possíveis”, disse.

Voltando à indicação de um comissário europeu, Pedro Marques diz que “todas as condições que [António Costa] tem para negociar, resultam do prestígio que ele tem a nível europeu, que é grande, felizmente, e que decorre do facto de ter construído uma alternativa política em Portugal”. E, nesse sentido, o antigo ministro tem “esperança de que, como no passado, António Costa consiga afirmar o peso político que tem e com isso consigamos de facto ter relevância na próxima Comissão Europeia.”

Apesar de não rejeitar o desejo de ser comissário, a verdade é que Pedro Marques pode ser atingido pelo facto de Ursula von der Leyen querer uma comissão totalmente paritária — e, nesse caso, Portugal pode vir a ter de indicar uma mulher. Mas aí Pedro Marques lembra que “a presidente da comissão já disse que vai pedir a cada país que indique um homem e uma mulher”, dois nomes, o que considera “muito positivo”. E acrescenta, enquanto sorri: “Se for escolhida uma mulher, aí já têm a certeza absoluta de que não será o Pedro Marques o comissário português“.

Questionado sobre o facto de a nova presidente da Comissão ser, pela primeira vez, uma mulher, Pedro Marques enalteceu o “momento histórico”. “É muito importante ser uma mulher e ser uma mulher que, no seu país, que é razoavelmente conservador, conseguiu introduzir uma agenda progressista quando foi ministra do Trabalho e da Família”, disse, sublinhando que ainda há “muito a fazer” em matéria de igualdade de género e paridade na política e sublinhando que o PS tem uma agenda “muito arrojada” nestas matérias apesar de ter inicialmente apoiado um candidato homem à presidência da Comissão Europeia (Frans Timmermans).

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Para Ursula von der Leyen, Pedro Marques só tem elogios. Já a conhecia desde os tempos em que a alemã era ministra da Família e estranhou a “postura defensiva” que adotou na audição que teve com os socialistas europeus na semana anterior à eleição. A “evolução” do discurso e do programa de Von der Leyen, contudo, acabariam por ser suficientes para merecer o apoio dos socialistas portugueses. Apoio esse que Pedro Marques faz questão de sublinhar.

“O programa político [de Von der Leyen] evoluiu muito, a proposta escrita tem agora elementos muito positivos, nomeadamente sobre a união bancária, a reforma da zona euro, a utilização das margens de flexibilização do Pacto de Estabilidade, etc, tudo áreas onde ainda não tínhamos conseguido concessões com o PPE. Agora, há um compromisso político da nova presidente e, portanto, nós apoiámos ativamente a eleição e contribuímos para garantir um apoio suficientemente largo na nossa família política”, disse.

Na parte final da entrevista, perante a possibilidade de escolher carne ou peixe, mais especificamente perante a possibilidade de o Benfica alcançar um pentacampeonato num futuro próximo ou o PS ter maioria absoluta já nas próximas legislativas, Pedro Marques não tem dúvidas: “Maioria absoluta, já”. E justifica: “Porque o país precisa de condições de governação. E, como dizia há dias o Jerónimo de Sousa, é completamente legítimo que qualquer partido tente ter os melhores resultados possíveis. Se me põem pela frente duas possibilidades tão positivas, escolheria agora essa solução política.”

Pedro Marques também ainda não foi à casa do Benfica em Bruxelas, como tinha antecipado, mas promete ir lá ver jogos assim que começar o campeonato. Sobre se preferia voltar a mandar “beijinhos voadores”, como fez na campanha eleitoral ou dançar em todos os carnavais, Pedro Marques escolheu a primeira opção, com sentido de humor. “Beijinhos voadores, porque eu de facto não tenho jeito nenhum para a dança”, justificou.

Quanto à música escolhida, Pedro Marques optou por “Portugal na CEE, bem no princípio dos GNR, antes do Rui Reininho se juntar à banda”, naquilo que classifica como um “som absolutamente incrível do rock português.” Esta era, aliás, a música que tinha escolhido como hino de campanha para as Europeias de maio. No entanto, o Partido Socialista Europeu definiu que o hino de campanha de todos os partidos socialistas da Europa era o Bella Ciao. E o Portugal na CEE acabou por cair.