O Irão convidou a Boeing e a Ucrânia a participarem da investigação do avião ucraniano que caiu em Teerão na quarta-feira, matando todas as 176 pessoas a bordo, avançou esta sexta-feira a agência de notícias estatal IRNA. Por outro lado a Ucrânia disse esta segunda-feira que os Estados Unidos forneceram ao Presidente  Volodymyr Zelensky, “dados importantes” sobre o que aconteceu.

A decisão iraniana ocorre após líderes ocidentais terem afirmado que o avião parecia ter sido atingido acidentalmente por um míssil, num momento de crescentes tensões entre os Estados Unidos e o Irão.

O Irão “convidou a Ucrânia e a empresa Boeing a participarem das investigações”, escreveu a IRNA, citando um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. O porta-voz Abbas Mousavi adiantou que também participam na investigação especialistas de outros países, cujos cidadãos morreram no acidente.

Autoridades norte-americanas, canadianas e britânicas declararam que é “altamente provável” que o Irão tenha abatido acidentalmente o avião civil que caiu perto de Teerão.

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A agência norte-americana para a segurança dos transportes, a NTSB, anunciou na quinta-feira à noite que vai participar no inquérito ao acidente do Boeing ucraniano, após ter recebido uma notificação das autoridades aéreas civis do Irão.

Ao abrigo das regras da Organização da Aviação Civil Internacional, a NTSB designou um representante para o inquérito à catástrofe, que causou a morte de todas as 176 pessoas a bordo, na maioria iranianos e canadianos.

Ucrânia diz que EUA deu informações importantes sobre queda do avião no Irão

Segundo o chefe da diplomacia ucraniana, Vadym Prystaïko, representantes dos Estados Unidos reuniram-se com o Presidente Volodymyr Zelensky e outros membros do governo ucraniano, para fornecer algumas informações.

“Recebemos dados importantes que serão processados pelos nossos especialistas”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia numa mensagem esta sexta-feira divulgada na rede social Twitter.

O Presidente ucraniano pediu aos Estados Unidos, ao Canadá e ao Reino Unido que lhe fornecessem as informações que os fizeram afirmar acreditar que o avião foi abatido, inadvertidamente, por um míssil iraniano.

Zelensky deverá ainda discutir o assunto com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, esta sexta-feira às 15h (13h em Lisboa).

Na quinta-feira, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, tinha afirmado que o Boeing 737-800 da companhia aérea privada ucraniana Ukraine International Airlines (UIA) tinha sido, sem dúvida, abatido por um míssil iraniano, provavelmente por engano, de acordo com os serviços de informações canadianos e aliados.

O Irão pediu de imediato ao Canadá para partilhar essas informações, alegando “cenários duvidosos”.

Por seu lado, o Presidente dos Estados Unidos manifestou dúvidas sobre a tese de um problema mecânico.

Sinto que alguma coisa terrível aconteceu”, disse Donald Trump, ao referir um “possível erro”.

O aparelho descolou de Teerão, com destino a Kiev, despenhando-se dois minutos após a descolagem.

A Ucrânia enviou para Teerão uma equipa de 45 investigadores para estudar as causas do desastre aéreo.

A tese de que a aeronave foi derrubada por balística iraniana também é partilhada pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que disse ter “um conjunto de informações” de que o Boeing 737 ucraniano foi “abatido por um míssil iraniano terra-ar”.

Quatro oficiais norte-americanos que falaram sob a condição de anonimato, citados pela agência de notícias Associated Press, referiram que o avião ucraniano poderá ter sido confundido como uma ameaça por parte de Teerão.

Justin Trudeau diz que há provas. Vídeo parece mostrar momento em que míssil atinge avião ucraniano

Bruxelas exige investigação “independente e credível” a acidente aéreo

A Comissão Europeia exigiu a realização de uma investigação “independente e credível” e em cumprimento com as leis internacionais.

É muito, muito importante para nós que a investigação ao acidente seja feita de forma independente e credível […], conduzida à luz das leis internacionais”, declarou o porta-voz da Comissão Europeia para a área dos Transportes, Stefan de Keersmaecker.

Falando na conferência de imprensa diária do executivo comunitário, em Bruxelas, o responsável notou que, “neste momento, ainda não existem conclusões nem certezas sobre as causas do acidente”.

“Estamos a aguardar os resultados da investigação em curso”, apontou.

Também presente na ocasião, a principal porta-voz do executivo comunitário, Dana Spinant, assinalou que “assim que foram divulgadas as notícias sobre o trágico acidente de avião, na quarta-feira de manhã, a presidente [da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen] e o Alto Representante para a Política Externa [Josep Borrell] enviaram as suas condolências e apelaram a uma investigação internacional credível e independente para apurar as causas”.

As caixas negras que só o Irão tem

Na quinta-feira, o Irão ainda se recusou a entregar as caixas negras do dispositivo, mas garantiu na sexta-feira que chamaria especialistas ucranianos, franceses, canadianos e russos se não pudesse decifrá-los. A extração de gravações de áudio e dados de voo pode levar um ou dois meses, disseram ainda as autoridades, sob crescente pressão internacional, segundo avança a CNN.

(notícia atualizada às 13h36 com a informação de Bruxelas e às 14h04 com informação das caixas negras)