A troca de mensagens via WhatsApp estaria a ser perfeitamente normal e amistosa, até ao momento em que Mohammed bin Salman terá enviado, através de uma mensagem encriptada, um ficheiro maligno para Jeff Bezos, hackeando assim o telemóvel do homem mais rico do mundo.

A notícia é avançada pelo The Guardian, cuja investigação sugere que tanto o multimilionário como o príncipe da coroa da Arábia Saudita estariam a usar as suas contas pessoais, segundo os resultados obtidos pela análise forense de teor digital, que sustenta como sendo “altamente provável” que a intrusão no telefone tenha decorrido do envio do tal ficheiro vídeo infetado ao dono do jornal Washington Post.

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Tudo se terá passado a 1 de maio de 2018, e em poucas horas “largas quantidades de informações” do aparelho de Bezos terão sido acedidas. O jornal britânico desconhece, no entanto, que tipo de dados e conteúdos estarão em causa ou que destino terão tido — mas é difícil ignorar o facto de algum tempo depois o National Enquirer, por exemplo, ter divulgado detalhes íntimos da vida de Bezos, que acabariam mesmo por precipitar o seu milionário divórcio. É ainda mais difícil de ignorar que cinco meses depois Jamal Khashoggi, jornalista do Washington Post, seria assassinado de forma bárbara.

O príncipe da coroa da Arábia Saudita Mohammed bin Salman © Mikhail Svetlov/Getty Images

Certo parece ser que o herdeiro do trono saudita esteve pessoalmente envolvido neste caso, uma jogada que poderá estar ligada, especula o jornal, aos esforços para atrair investimento ocidental para a Arábia Saudita — que o príncipe e o patrão da Amazon se conheciam pessoalmente é facilmente confirmado pela foto em destaque, que assinala um encontro em Riade, em novembro de 2016. A revelação poderá de igual modo relançar o escrutínio sobre os passos do príncipe, cerca de um mês depois de cinco homens terem sido condenados à morte, e outros três a 24 anos de prisão efetiva, pelo assassinato de Khashoggi.

Cinco homens condenados à morte pelo homicídio de Jamal Khashoggi

Segundo o The Guardian, o escândalo amoroso plasmado nas páginas do tabloide Enquirer terá sido o gatilho para a investigação agora partilhada. Foi há pouco mais de um ano, em janeiro de 2019, que Bezos e a sua mulher MacKenzie anunciavam o divórcio. Dias depois, a razão era tornada pública, quando mensagens de conteúdo sexual trocadas entre Bezos e a sua amante chegavam à imprensa. A sua equipa de segurança terá então tentado detetar a origem desta fuga de informação, sondando o jornal detido pela American Media Inc, que na altura justificou que terá recebido uma dica sobre o caso extra conjugal.

Foi há cerca de um ano que Jeff e MacKenzie Bezos se separaram depois de 25 anos de união © Getty Images

Contactado pelo The Guardian, um advogado de Jeff Bezos não quis comentar a notícia e garantiu apenas que o seu cliente estava a colaborar com as investigações. Recorde-se que em março do ano passado, o responsável pela segurança do milionário, Gavin de Becker, comentou no Daily Beast que fornecera dados da investigação às autoridades, não chegando no entanto a explicar de que forma o saudita teria acedido ao telemóvel de Bezos. A mesma fonte sublinhou a “amizade próxima” existente entre bin Salman e Peter Pecker, o diretor executivo da empresa que detém o Enquirer, alguns meses antes da história sobre Bezos ter sido publicada.

Sondados pelo The Guardian, tanto dissidentes como analistas sauditas confiam que Bezos seria um alvo pelo facto de ser o dono do Post e também pela cobertura feita aos temas envolvendo a Arábia Saudita, incluindo as críticas colunas de opinião de Khashoggi sobre Mohammed bin Salman e a sua postura de repressão de ativistas e intelectuais naquele país.