Estava escrito nas estrelas. Tal como nos dois jogos que os Chiefs já tinham vencido nestes playoffs, até chegar à Super Bowl deste domingo, a equipa de Kansas City também se viu bem atrás no marcador – mas acabou por dar a volta. A meio do último quarter, quando faltavam oito minutos para o fim da Super Bowl LIV, os San Francisco 49ers seguiam na dianteira, 20-10, mas a defesa acabou por quebrar perante o quarterback dos Chiefs – Patrick Mahomes – que teve um jogo “morno” mas acabou por não precisar de muito mais para fazer a festa, no final.

Os Kansas City Chiefs venceram 31-20 na primeira vez nos últimos 50 anos que chegaram à Super Bowl, na ultra-competitiva National Football League (NFL). Já os San Francisco 49ers voltaram a morrer na praia, como em 2013, liderados por um quarterback que falhou no teste do algodão, como muitos suspeitavam que aconteceria. Jimmy Garoppolo foi espetacularmente medíocre e, numa carreira que já vai adiantada, mostrou que dificilmente voltará a ganhar mais algum anel de campeão da Super Bowl a menos que seja como suplente de um verdadeiro quarterback extraordinário, como Tom Brady (que lhe “deu” dois títulos e ajudou a inflacionar o seu valor de mercado, até se transferir dos Patriots para os 49ers).

Diz-se frequentemente na NFL que “a defesa ganha campeonatos” mas teria de ter havido um contributo ligeiramente maior de Garoppolo, que, no entanto, conseguiu, apoiado na sua linha ofensiva e nos seus running backs, ver-se a ganhar 20-10 no início do quarto e último período do jogo. Até essa altura, do outro lado, Patrick Mahomes – esse sim, apesar de mais novo, imensamente mais promissor – estava a ter um jogo “morno”, para os padrões a que já habituou os adeptos: Mahomes cometeu vários erros, no 3º quarter atirou dois péssimos passes que foram intercetados (e quase atirava um terceiro) e não estava a conseguir encontrar as lacunas da defesa.

Foi com as pernas, correndo com a bola (mais do que com o talentoso braço direito) que Mahomes conseguiu ir furando a defesa dos 49ers, uma das melhores na liga sobretudo no chamado front seven, isto é, as posições mais próximas da “zona de trincheiras”. E foi dessa forma que o próprio Patrick Mahomes viria a marcar o primeiro touchdown do jogo.

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Mas os 49ers ainda esboçaram uma resposta, com afórmula previsível: jogo de corrida em foco e o quarterback Garoppolo a fazer pouco mais do que gerir o jogo e dar a bola ao running back Raheem Mostert. Chegados à linha de golo, seria, porém, Garoppolo a marcar um touchdown num passe para o seu full back Kyle Juszczyk ainda antes do intervalo. Quando Jennifer Lopez e Shakira subiram ao palco, no halftime show, o marcador estava igualado: 10-10.

Na segunda parte, com Mahomes a regressar do balneário tão ou mais morno do que na primeira parte, os 49ers voltaram a marcar. Primeiro foi um field goal, a valer 3 pontos, o que soube a pouco já que momentos antes Jimmy Garoppolo tinha o seu tight end George Kittle totalmente desmarcado mas não o viu. O progresso dos 49ers no campo ficou por ali, pelo que a alternativa foi esse field goal.

Logo depois veio, porém, a primeira interception lançada por Mahomes, que mostrou que o jovem quarterback não estava nos seus dias.

Os 49ers aproveitaram e marcaram mais um touchdown, uma corrida de Raheem Mostert após alguns bons passes de Jimmy Garoppolo: 20-10 para os 49ers.

Aí, a bola voltou para Mahomes para tentar a reviravolta, mas este voltou a atirar uma interception num passe infeliz em que ele devia ter apontado mais para a frente na trajetória de corrida do seu wide receiver.

Ora, os 49ers viam-se a 12 minutos de tempo útil de poder festejar: só tinham de conseguir segurar a posse de bola e “matar” o relógio que ainda sobrava – e tinham um ótimo trunfo para o fazer: um jogo de corrida bem oleado e eficaz.

Mas não foram capazes de suster o drive seguinte por muito tempo e, quando faltavam mais de oito minutos (o que pode ser uma eternidade, em futebol americano) voltaram a entregar a bola a Mahomes e à equipa ofensiva dos Kansas City Chiefs.

E, aí, o jogador mais valioso da liga na época passada (a sua primeira) ligou o turbo e, num ápice, estava próximo da linha de golo dos 49ers, muito graças a esta “bomba” atirada para o ultra-rápido Tyreek Hill.

Daí a marcar um touchdown foi mais um tirinho, neste caso um tirinho de curta-distância para o tight end Travis Kelce: estava feito o 20-17.

A apenas três pontos de distância, os 49ers voltaram a não conseguir manter a posse de bola e esgotar tempo significativo dos seis minutos que restavam. Kansas City sabia que San Francisco iria querer correr a bola, para esgotar o relógio de forma mais eficaz, então apostou em deter o jogo de corrida dos 49ers, desguarnecendo a defesa “anti-passe”. Mas nem assim Garoppolo conseguiu aproveitar — falhou passe atrás de passe e os 49ers voltaram a ter de entregar a bola aos Chiefs, com cinco minutos para jogar.

Aí, os Chiefs só precisavam de um field goal e 3 pontos para levar o jogo para prolongamento, mas conseguiram muito mais: um touchdown em corrida, por Williams, após um passe genial de Mahomes para Sammy Watkins, que não teve dificuldade em bater o defesa Richard Sherman (que mostrou que já não é o mesmo atleta que quando estava nos Seattle Seahawks).

Os Chiefs saltaram para a frente – 24-20 – e Jimmy Garoppolo tinha mais uma hipótese para marcar, com quase três minutos no relógio. Para desespero dos adeptos de San Francisco, o seu quarterback, um dos mais bem pagos da liga, atirou passe incompleto, passe incompleto e passe incompleto. No quarto down, ou seja, na derradeira tentativa de obter 10 jardas e avançar no terreno, foi engolido pela defesa e sofreu um sack sem, sequer, se libertar da bola e dar uma hipótese a alguém de fazer um milagre.

Estava consumada a reviravolta, que ainda contou com mais um touchdown inconsequente para os Chiefs. Tal como tinha acontecido em 2012/2013, os 49ers perderam na finalíssima (na altura contra os Baltimore Ravens) demonstrando que só uma boa defesa não basta para ter sucesso – é preciso um bom quarterback e uma ofensiva que seja capaz de segurar a pressão e aproveitar uma noite em que um quarterback como Mahomes até pareceu ser apenas humano.